INTRODUÇÃO

Apesar de não ser um manuscrito do primeiro Oswald, ele é o personagem principal, a grande estrela deste livro de memórias do artista plástico Oswald de Andrade Filho (1914-1972). Nonê como era conhecido, traça um relato interessante da vida cultural brasileira da qual foi um ativo participante. Filho mais velho do escritor Oswald de Andrade apresenta um depoimento comovente da convivência com artistas e intelectuais, acompanhando seu pai às alegres excursões e aos debates modernistas e fornece um panorama movimentado dos bastidores da política nacional nas agitadas décadas de 30 e 40. Sobretudo proporciona aos leitores jovens um contato humano mais direto com a figura controvertida e estranha de Oswald de Andrade: o cidadão comum com defeitos e qualidades; o pai carinhoso e desleixado; o político romântico; o intelectual engajado. Enfim, um depoimento importante em que mais uma vez se delineia a impressionante solidariedade de obra e de vida do líder modernista, recuperando fatos curiosos que interessam muito de perto ao historiador da literatura brasileira. É justamente esta fusão de traços da história cultural contemporânea com empenho memorialístico que torna sua escrita sedutora. Diante da quantidade de textos espalhados em inúmeros cadernos, e como Nonê não conseguiu completar este livro de viagens, um só principio presidiu a sua montagem final: seguir à risca as anotações do seu autor para preservar a espontaneidade e singeleza de expressão. Procuramos chegar a estrutura final, fixando-nos no conjunto em que, ao que parece, foi elaborado por último. A correspondência para sua mulher - núcleo gerador do livro -, as diferentes versões trabalhadas e retrabalhadas, inclusive as primeiras anotações feitas apressadamente nas viagens, até os últimos cadernos, tudo foi lido e relido, na intenção de se familiarizar com o espírito da obra, com o estilo do autor e buscar pistas para resolver vários problemas no texto inconcluso. Foram recuperadas também as ilustrações dentre as infinitas sugestões deixadas e esboçadas por Nonê, ampliamos a pesquisa visando à coleta de novos documentos de época relacionados com o trabalho gráfico idealizado por Oswald de Andrade Filho. A cronologia e a extensa bibliografia traçadas detalharão a sua trajetória no contexto cultural do país, informando sobre suas inúmeras atividades de pintor, crítico, professor de História da Arte e militante comunista nos anos 30; as notas servirão de mapa para o leitor situar personagens e fatos de época. No momento, estamos fazendo a revisão final do livro a ser lançado dentro em breve. Publicar esta obra é de certo modo resgatar um pedaço vivo e fascinante da nossa história intelectual e contribuir com material informativo para estudiosos e pesquisadores da cultura brasileira de modo geral.

Artista plástico, o instrumento de expressão preferido de Oswald de Andrade Filho (Nonê) eram as cores e as formas, mas à maneira oswaldiana, usou as palavras para montar o quadro intricado de suas raízes e de sua experiência passada. Dias Seguintes e outros dias oscila entre crônica de viagem, diário e autobiografia. É um relato envolvente, na sua maior parte estruturado em versos, intercalados com pequenos trechos em prosa e quatro cartas (uma delas em prosa). Manuscrito vasado num estilo bastante despojado e agradável, manipula elementos e dados sofisticados com a técnica de um quadro da sua fase primitivista. Diante da quantidade de textos espalhados em inúmeros cadernos, e como o autor não conseguiu completar este livro de viagens, um só princípio presidiu a montagem final desse manuscrito: seguir à risca as anotações do seu autor para preservar a espontaneidade e singeleza de expressão.