Oswald de Andrade

   Na salada de experiências e de estilo do manuscrito, Oswald dominava e imprimia criatividade e irreverência ao texto, geralmente assinando Garoa, Miramar e M.e poucas vezes Nenê Rodrigues, nome este arranjado port Cíclone para despistar a curiosidade dos seus familiares.Comumente as investidas miramarinas em tom jocoso subvertiam o assunto e o discurso da passagem anterior, tomando a frase do companheiro como se fosse um mote a fim de brincar de preferência com o estilo e fazer trocadilhos: "Cúmulo da paciência: Catar carrapatos com luvas de boxe..." escrevia Viruta; retrucava Oswald: "Da impaciência: jogar boxe com luvas de pelica". As páginas 4, 10, 11, 17 (último parágrafo), 2l e os trechos assinados Torquedilho e Troçocadilhista são prenúncio da irreverência do estilo brincalhão do Oswald modernista da Revista de Antropofagia e do Serafim.

    Além desses trocadilhos comentados anteriormente, a verve miramarina despontava, embora diluida pela ingênuidade das brincadeiras com os companheiros. Comentando as enfeitadas intervenções dos amigos observava: "Pedro ri literatura"; "Do banal - Leo, vais? de há dias, ao sublime Leo Correa, de hoje...! E assinava Leo Correa"; Prosseguia "o virutola virou tolo"; "Dasy continua a fazer literatura cravinhense".

    A divulgação do Perfeito Cozinheiro proporciona boa informação sobre o início da atividade jornalística de Oswald de Andrade na Gazeta e no Diário Popular, cobrindo os acontecimentos culturais, particularmente a vida teatral de São Paulo do início do século (marcante para o jovem jornalista foi a entrevista que realizou com a dançarina russa Anna Pavlowa, que rendeu várias piadas no livro e muita ciumeira da sua musa principal); e contribui para melhor se conhecer a obra ficcional de Oswald de Andrade.

     Mário da Silva Brito mostrou claramente o parentesco desse diário com a obra ficcional de Oswald. Certamente que a experiência de diarista no Perfeito Cozinheiro ajudou na criação da Trilogia do Exílio e do par Miramar/Serafim, onde estão desenhadas a estrutura fragme ntária do mundo intelectual criticado sobretudo nos dois romances de v anguarda de modo violento. A sátira aos literatos decadentes nasce das trocadilhescas intervenções dos companheiros do estúdio oswladiano que zombam da missa e da risada literárias do Joãode Barros e do estilo basbleu da Cíclone; das estocadas em direção à Panópliaes companheiros foi passageira. Assim aconteceu em relação a João de Barros, a Ferrignac, a Sarti Prado (que casou depois com a francesa Kamiá - primeira mulher de Oswald - e arquitetou a posse da metade da fortuna deixada pelo velho Andrade). Oswald continuou mantendo relações cordiais com Guilherme de Almeida (rompidas mais tarde por discordâncias literárias), com Lobato, Rao (seu advogado) Leo Vaz e Edmundo Amaral (estes dois últimos com menor intensidade).