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VIDA E SAÚDE

 

Amenizando transtornos
Engenharia Mecânica da Unicamp apresenta projetos de próteses
para facilitar a vida de 2,5 milhões de mutilados brasileiros

Segundo estimativas não oficiais, algo em torno de 17% dos brasileiros apresentam algum tipo de deficiência. Calcula-se que 10% da população - ou 17 milhões de pessoas - são portadores de alguma deficiência física provocada por violência (delinqüência, uso de drogas), fatores econômicos, acidentes de trânsito ou de trabalho, doenças e/ou fatores hereditários.

Considerando então que 1,44% da população fosse portadora de amputações, o professor Nilton Silva, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, chega a um impressionante contingente de 2,4 milhões de mutilados no país, duas vezes e meia maior que o número de habitantes de Campinas.

Muitas das vítimas deixam de estar ativas para a sociedade, família, amigos, trabalho, escola. “O trauma físico às vezes deixa cicatrizes abertas na alma, mais profundas que a amputação. Além disso, algumas passam a depender de uma ou mais pessoas que também deixam suas atividades para se dedicar aos seus cuidados”, analisa Silva, pós-doutorando em engenharia de reabilitação.

Para tentar amenizar os embaraços dessas vítimas, o professor exigiu na Cientec um conjunto de trabalhos que vem desenvolvendo para oferecer uma alternativa de próteses que possam substituir eficientemente pernas e braços amputados.

Com base nas pesquisas realizadas dentro do projeto, Silva calcula que até o final deste ano terá publicado em revistas, congressos, simpósios, feiras, conferências e seminários nacionais e internacionais mais de vinte artigos, de norte a sul do Brasil, nas três Américas, Europa e África em apenas dois anos. “O trabalho tem apoio da Fapesp, por meio do programa de pós-doutoramento”, ressalta. São na verdade seis projetos visando dar movimentação artificial em membros superiores e inferiores de crianças e adultos. Em cinco deles, as estruturas mecânicas estão praticamente concluídas em diversos níveis.

Entre os trabalhos, dois são de prótese infantil a SMA (sigla em inglês que equivale a Liga com Memória de Forma). “Em uma das próteses a estrutura foi construída por usinagem e na outra por prototipagem rápida, uma processo de deposição de camadas por sinterização a laser”, explica.
Além disso, o pesquisador desenvolveu um protótipo do membro superior adulto para validação do modelo matemático; um protótipo do membro inferior adulto para validação de modelo e estudo de coordenação de movimentos; um protótipo de membro superior infantil com diversos tipos de acionamento e quatro graus de liberdades para amputação próxima ao ombro (a parte terminal que tem dois graus já concluída); Ae, finalmente, foi planejada a fabricação de uma interface mecânica experimental, chamada soquete, que deverá ser determinada por escaneamento em 3D a laser e construída por prototipagem rápida no Instituto de Tecnologia da Informação (ITI).

A rejeição – O soquete, ou interface mecânica de uma prótese, é definido por Nilton Silva como a parte que permite o encaixe da prótese no braço. “Ela é importante porque pode ser motivo de rejeição da peça”, informa. O professor explica que uma prótese pode ser rejeitada por três motivos: físico, biológico ou psicológico.

Fisicamente, a rejeição ocorre quando a prótese se torna insuportável devido ao atrito com o corpo ou acúmulo de calor. Psicologicamente, quando seu portador a considera inadmissível e nega, conscientemente, que a prótese não pertence ao seu corpo, geralmente por influência familiar ou do meio social. Biologicamente, quando o próprio corpo combate a parte em contato com a prótese, manifestando-se na forma de alergia, por exemplo.

O estudo do material e combinação de tecnologias modernas pode auxiliar na redução dos fatores de rejeição, o que justifica a utilização de recursos como a prototipagem rápida e scaners para produção de imagem tridimensional para determinar a forma e os detalhes estéticos da prótese e a cavidade de encaixe do soquete no corpo do paciente”, justifica Nilton Silva.

Como funciona – O acionamento da prótese pode ser realizado de diversas formas. A mais comum utiliza a tensão mioelétrica, que é originada no sistema nervoso central e viaja na forma de uma onda eletroquímica através das células neuromotoras até a ativação dos músculos, que por sua vez acionam articulações por meio dos tendões. Esse sinal, quando percorre as células musculares, chega à pele e é captado por um sensor que se situa na sua superfície. Depois de amplificado, o sinal é enviado para um processador que interpreta sua função de acionar o músculo e o converte em outro sinal para ativar um músculo artificial ou motor.

>> O ratinho ‘bêbado’

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FEEC também é referência nacional

A estimativa de 2,5 milhões de mutilados no Brasil é feita pelo próprio professor Nilton Silva, que vem obtendo destaques no desenvolvimento de engenharia de reabilitação. Ele já conheceu avançados centros de produção de próteses antropomórficas.

O pesquisador inclui o Centro de Engenharia Biomédica da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp como uma referência nacional. Em nível internacional, cita a Northerwestern University, em Chicago, que tem o melhor centro de engenharia de reabilitação dos EUA, e a Orthobock – empresa alemã que possui uma representante em Campinas e cuja atividade é a produção de peças e dispositivos para fabricação de próteses. A Orthobock, segundo o professor, é comparada a uma Microsoft da área de informática.

No Brasil, além da Unicamp, Silva destaca a Associação de Apoio às Crianças Deficientes (AACD) e a Rede Sara (de Brasília), que trabalham com produtos de baixo custo e sem fins lucrativos, e alguns grandes hospitais, todos já oferecendo próteses confiáveis. Quanto ao seu trabalho na FEM, o professor comenta com modéstia: “Minha participação se dá apenas em torno de estruturas e de alguns protótipos que ainda não estão operantes”.

 

 

 

 


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