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TECNOLOGIA E SOCIEDADE

 

Cidade do Conhecimento
Rede promove comunicação entre estudantes e mercado de
trabalho e debate relações humanas

As discussões em torno dos impactos que as tecnologias provocam na sociedade têm um novo fórum. Trata-se da Cidade do Conhecimento, uma rede de comunicação entre os mundos escolar e do trabalho coordenada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Além de proporcionar a produção compartilhada do conhecimento entre os dois segmentos e ampliar e melhorar as oportunidades de emprego no país, o projeto também tem como missão debater a construção das relações humanas num mundo cada vez mais dependente dos recursos tecnológicos. Segundo Gilson Schwartz, coordenador geral da Cidade do Conhecimento, os princípios éticos é que têm merecido atenção especial por parte dos envolvidos na questão.

Schwartz, que participou do Fórum de Debates da Cientec, afirma que a relação homem versus máquina vem sendo debatida muito antes da invenção do computador. Mas um fator importante distingue a fase anterior da atual. Antigamente, explica, as ferramentas geradas pela tecnologia eram utilizadas apenas como meio de produção. Agora, são capazes de dominar informação, propagar ideologia e até manipular mentes. “A tecnologia tem como objeto as relações humanas, ou seja, a própria vida. O que é aceitável ou inaceitável no seu emprego depende de convenções e de fatores culturais”, disse.

O projeto da USP, conforme o professor, vale-se do discurso segundo o qual “só terá emprego quem dominar o conhecimento” para debater não apenas essa questão, mas também para estabelecer mecanismos que promovam, por meio das tecnologias de informação e comunicação, o compartilhamento e a democratização do próprio conhecimento. De acordo com Paulo Lemos, coordenador de projetos e pesquisas da Cidade do Conhecimento, as palavras-chave do programa são competência e qualificação. “Quando falamos em inclusão digital, não basta que nos preocupemos somente com o aspecto tecnológico. Nós também temos que reforçar a competência do seu uso”, afirmou.

No entender de Lemos, a solução para o desafio não está em substituir tecnologia por mais tecnologia, mas sim capacitar as pessoas para que possam utilizar os recursos já existentes. A competência, prosseguiu o professor da USP, não é a simples capacidade de ocupar um posto de trabalho ou cumprir o conteúdo descritivo do emprego. “Mais importante do que dispor do conhecimento requerido pela atividade é a aptidão para adquirir novos conhecimentos”. A proposta do projeto da USP é integrar os mundos do trabalho e da escola dentro dessa perspectiva.

Novo foco – Lemos considera ser preciso olhar o universo escolar como uma instância que passa por mudanças tecnológicas que não podem ser entendidas isoladamente. Daí a iniciativa de juntar alunos de ensino médio, estudantes de graduação e pós-graduação, trabalhadores empregados e desempregados e pesquisadores para desenvolverem atividades conjuntas e, assim, compartilhar experiências. “Queremos uma mudança de foco: vamos sair do individual e partir para o coletivo”, esclareceu.

De acordo com ele, a troca de experiências entre os diversos atores será altamente produtiva. Lemos destacou a importância do que classificou como “conhecimento tácito”, que é aquele que se contrapõe às formas estruturadas do saber. “O conhecimento gerado a partir das relações humanas não pode ser aprisionado num livro ou CD”, analisou. Os projetos práticos desenvolvidos pelos grupos de trabalho, denominados comunidades, durarão de dois a quatro meses. Ao final, serão disponibilizados na biblioteca digital da USP.

O professor destacou ainda que a tecnologia, embora de vital importância, não ditará o caminho das atividades. “Ela estará a serviço dos interesses das comunidades”. A Cidade do Conhecimento foi fundada no dia 13 de agosto último. Em apenas duas semanas, cerca de 1.600 pessoas já manifestaram interesse em participar de alguma forma do programa. Desse total, 78% são do Estado de São Paulo e 26% declararam ter curso superior completo. Quem quiser obter outras informações basta acessar o site www.cidade.usp.br.

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O risco de desumanização

A ética não pode ser entendida apenas como um conjunto de princípios fundamentais de direitos e valores no campo do comportamento social. O desafio ético deve ser ampliado na direção da cidadania plena e participativa. A análise é do assessor do Senado, o engenheiro agrônomo Manoel Moacir Costa Macêdo, que falou sobre o tema “Qualidade de Vida: Ética, Bioética e Tecnologia”. De acordo com ele, ao mesmo tempo em que é necessário reconhecer o potencial da engenharia genética e da biologia celular para melhorar a vida das pessoas, também é preciso admitir o maior risco de desumanização.

Conforme Macêdo, a qualidade de vida do ser humano não requer apenas as condições materiais exigidas pelo corpo, como casa e comida. Necessita, ainda, de costumes, tradições, sonhos, lazer e trabalho, sem os quais não poderia nascer, florescer e multiplicar. O pesquisador defendeu que “a tecnologia não pode ser vista como uma combinação harmônica e ampliada pelos ditames da modernidade entre o soft e o hard, mas como uma relação social de produção, complexa e prenhe de contradições”.
Como exemplo desse conflito permanente, o engenheiro colocou alguns dilemas morais ou éticos para reflexão da platéia, como a eliminação das sobras de embriões humanos obtidos a partir da fertilização in vitro, a geração de um filho para utilizá-lo como doador de medula óssea para salvar a vida de um irmão com leucemia, ou a realização de cirurgias para a mudança de sexo.

Um dos grandes desafios do século, disse Macêdo, é vencer o egoísmo. “Os resultados da investigação científica não devem ser utilizados para fins particulares e os relacionamentos requerem um espaço para discussão democrática”. De acordo com ele, a ética pode criar no mundo real a possibilidade da sua viabilidade, embora não garanta o seu cumprimento.

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A inclusão digital

O governo federal está investindo R$ 80 milhões num projeto de inclusão digital, que prevê a interligação, via internet, de 4 mil bibliotecas públicas, 5 mil organizações não-governamentais e diversos museus brasileiros. A informação é de Eduardo Takahashi, coordenador geral do programa Sociedade da Informação, iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Além cuidar da implantação da infra-estrutura, o MCT também pagará a conta pelo uso da rede por cinco anos. A meta é promover, até 2005, o acesso de pelo menos 20% da população a esse tipo de tecnologia. “Será a maior rede já montada no Brasil”, assegurou.

Segundo Takahashi, a criação dessa rede é apenas uma das frentes do programa Sociedade da Informação, que contará com recursos da ordem de R$ 3,4 bilhões. O objetivo maior é integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologias de informação e comunicação, de modo a favorecer a competição da economia nacional no mercado global. Até outubro, o conteúdo da futura rede ligando bibliotecas, ONGs e museus já estará definido. A idéia é colocar, entre outros materiais, imagens, sons e livros à disposição dos internautas e estimular as cópias.

Ao contrário do que se pensa, a tecnologia empregada num projeto como esse tem de ser sofisticada e não à meia-boca, como definiu o técnico do MCT. Takahashi explicou que os equipamentos e programas mais evoluídos normalmente são mais baratos e permitem maior integração com o usuário. Como exemplo ele cita os caixas eletrônicos dos bancos, que têm a operação facilitada e voltam imediatamente ao menu principal com apenas um comando. “Até pessoas analfabetas são capazes de operar uma máquina dessas, com a ajuda de uma mapinha”.

O MCT está preparando um CD Room que fará o treinamento das pessoas que gerenciarão a rede. Numa segunda etapa, a própria rede será utilizada para capacitar outros interessados. A expectativa é de que, até fevereiro de 2002, pelo menos duas mil bibliotecas já estejam participando do programa.

 

 

 


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