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SAÚDE

Para ver de novo
Projeto Catarata completa 15 anos de combate à cegueira,
com cinco milhões de consultas e um milhão de cirurgias

CARLOS TIDEI

Catarata: você ainda vai ter a sua”. Este não é um slogan para venda de acessórios de piscinas, trata-se de uma constatação médica. Segundo o oftalmologista Newton Kara José, um dos idealizadores do Projeto Catarata, praticamente todas as pessoas com mais de 60 anos possuem, em maior ou menor grau, a catarata nos olhos. “É um processo normal de envelhecimento no ser humano”, afirma. É a maior causa de cegueira nos países em desenvolvimento, que acomete 1% da população acima de 50 anos.

Parece pouco? Para Kara José, em 1985, também parecia. “Fomos convidados a uma reunião em Washington e me perguntaram se a catarata no Brasil era uma questão preocupante. Respondi que todos os pacientes que chegavam ao consultório eram operados e saíam com a deficiência resolvida. Não havia, portanto, problema de catarata no País”, acreditava. Essa visão, que era da maioria dos oftalmologistas na época, mudou radicalmente depois de uma pesquisa de cegueira por catarata na América Latina, quando se verificou a gravidade dos índices.

Os que conseguiam atendimento médico realmente eram operados, mas esse contingente representava menos de 20% das pessoas atingidas. Esta constatação serviu como embrião do Projeto Catarata, concebido em 1986, e que quinze anos depois mostra resultados surpreendentes na totalização dos números: foram realizadas mais de cinco milhões de consultas, que levaram a cerca de um milhão de cirurgias; o programa envolveu milhares de profissionais e voluntários em praticamente todas as regiões do Brasil e também em outros países.

Nos anos de 1987 e 1988, o projeto Zona Livre de Catarata foi implantado em várias cidades da região de Campinas, onde os índices eram muito comprometedores. Em todos os municípios da região, e em dezesseis da bacia hidrográfica do Rio Mogi Guaçú, apenas 15% da população cega por catarata conseguiam fazer a cirurgia. Muitos, já diagnosticados, desistiam da cirurgia porque não viam possibilidade de atendimento.

Os benefícios sociais do projeto podem ser dimensionados pelo quanto o ser humano depende da visão: 80% do conhecimento guardado em nosso cérebro são assimilados pelos olhos. Pessoas praticamente cegas tiveram de volta a visão do mundo e puderam retomar a suas atividades, reconquistando a alegria de viver. Idealizado originalmente pela Oftalmologia da Unicamp, o projeto enfrentou inúmeros obstáculos até se firmar como referência em serviço de saúde pública de alta eficiência em todo o Brasil e em outros países do Terceiro Mundo.

Mérito do voluntário – O grande mérito pelo sucesso do empreendimento é de cidadãos anônimos, os milhares de voluntários – médicos, estudantes e funcionários das unidades de saúde, além de autoridades, pacientes, líderes comunitários e membros de organizações diversas, como órgãos públicos e entidades financeiras – que espontaneamente se dedicam a melhorar a visão e, conseqüentemente, a qualidade de vida da população necessitada.

Até hoje, embora existam campanhas por meio de cartazes e da mídia, uma das formas mais eficazes de divulgação do projeto é o conhecido “boca-a-boca”, onde o amigo, vizinho ou colega de trabalho informa às pessoas com problemas de visão que existe um serviço de consulta, atendimento e cirurgia gratuitos.

A cada dia de mutirão de atendimento no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp, comparecem de 500 a 1.000 pessoas ao setor de Oftalmologia. Os exames são realizados em sete etapas: acuidade, auto-refração, refração, colírio, biomicroscopia, fundo de olho e biometria. Os mais idosos aguardam sentados nos bancos, enquanto os acompanhantes asseguram lugar na fila.

O atendimento é rápido porque existem muitas pessoas envolvidas no processo, entre elas dezenas estudantes da Faculdade de Ciências Médicas. Boa parte dos assistidos necessita apenas de óculos e não de cirurgia, o que é diagnosticado na terceira etapa, de refração. O pa- ciente é então encaminhado para aviamento de receita de óculos, que são vendidos a preço de custo ou, para as pessoas mais carentes, doados pela ótica do HC, outro serviço pioneiro de grande alcance social.

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O que é a catarata

Catarata é a opacidade da lente natural do olho, o cristalino, que cursa com borramento da visão, geralmente de maneira progressiva. Inicia-se com pequena diminuição da visão, que piora gradativamente até causar deficiência mais grave. Muitas vezes é confundida com uma pelinha que recobre a córnea e se chama pterígio. A catarata pode ser observada na pupila – ou “menina dos olhos” –, que se torna esbranquiçada. Além de causar diminuição da visão, as pessoas também podem perceber imagem dupla, diminuição da definição de cores, mudança freqüente no grau dos óculos, dificuldade para a leitura e piora da visão ao ar livre (claridade do sol).

A catarata afeta 1% da população com mais de 50 anos, sendo a maior causa de cegueira nos países em desenvolvimento. O único tratamento disponível é a cirurgia, indicada nos casos em que o paciente tem limitação de atividades pela perda visual. É um processo normal de envelhecimento no ser humano. Existem fatores que aumentam a predisposição para a doença, tais como hereditariedade, diabete, exposição solar, doenças oculares, tabagismo, hábito alimentar, desnutrição, desinteria na infância, entre outros ainda em estudo.

No centro cirúrgico ambulatorial do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp são realizadas mais de 250 cirurgias ao mês, contribuindo para o atendimento de parte da demanda da população de baixa renda em 90 municípios abrangidos pela unidade. Atualmente estão sendo incorporadas as mais avançadas técnicas de extração do cristalino e implante de lente intra-ocular modificada. A maioria – mais de 90% dos operados – tem melhora da visão e muitos chegam a recuperar a mesma acuidade visual de 20 anos antes.

O setor conta com o Yag laser, aparelho que trata uma complicação da cirurgia: a opacificação da membrana que suporta a lente intra-ocular, que aparece em até 30% dos operados após um ano de cirurgia. Em poucos minutos é feito o tratamento, com alto índice de sucesso.

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>> Como o Projeto Catarata faz história

 


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