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Suplemento do Jornal da Unicamp 156

O mundo do Real e o mundo real

Comparando as estatísticas oficiais com o dia-a-dia do cidadão

O neoliberalismo implantou no Brasil uma fronteira invisível entre o mundo do Real, aquele das estatísticas oficiais alicerçadas na moeda e na política econômica adotada pelo governo federal, e o mundo real, do dia-a-dia do cidadão comum, segundo a visão de Armando Boito, professor do IFCH. "No início do Plano Real até vimos uma pequena distribuição acidental de renda. Mas, nos anos seguintes, de acordo com os dados do IPEA, a renda em mãos da metade mais pobre do país caiu drasticamente. Na década de 1980, 14% da renda nacional estava com a metade mais pobre. De 90 até 98 este índice foi reduzido para 12%. Ou seja, houve um declínio no padrão de vida, que já era baixíssimo, das camadas mais pobres no Brasil".

Para Armando Boito, o neoliberalismo faz uma apologia genérica do mercado, ocultando que está defendendo os interesses não da concorrência, mas do capitalismo monopolista. Com as privatizações ocorreu a substituição do monopólio estatal, não pelo livre jogo das forças do mercado e sim pelo monopólio privado – a abertura comercial substituiu alguns monopólios nacionais, como o da informática, pelos internacionais: "Os críticos da ingerência do Estado na economia diziam que as empresas estatais criavam apenas privilégios para alguns, engessando a economia. Contudo, hoje o neoliberalismo entregou o País. Não acabou com a intervenção do Estado, manteve-a onde interessa aos grandes grupos econômicos e ao capital financeiro – como na área cambial e na política de juros, por exemplo. Mas retirou a intervenção do Estado das áreas que interessavam aos trabalhadores, como a política salarial – desde 1995, os trabalhadores não têm mais a garantia legal de reajuste dos salários de acordo com a inflação. Nesse caso, o ‘livre jogo das forças de mercado’ é bom ".

Armando Boito coloca a saga dos trabalhadores dentro desta dinâmica como um ponto cruel do neoliberalismo. "Na verdade, uma das transformações que o neoliberalismo impôs foi a desregulamentação do mercado de trabalho, tirando todas as proteções do trabalhador. Através de uma política deliberada, Fernando Henrique vem destruindo setores das delegacias do trabalho, além de oficializar absurdos como o emprego temporário. Reduziu os direitos trabalhistas e sociais através da desregulamentação selvagem e ilegal do mercado de trabalho, conivente com o crescimento do contrato sem carteira assinada e, também, através de sucessivas leis que retiram antigos benefícios assegurados pela CLT.".

Nova burguesia

O professor do IFCH mostra que no Brasil as transformações nas relações econômicas e de poder atingiram até a tradicional burguesia nacional. "A antiga burguesia de Estado, que era uma burguesia interna alocada no aparelho estatal, está desaparecendo com a privatização do setor produtivo do governo e do setor de serviços e infra-estrutura. A burguesia industrial interna, com o aumento de poder do capital financeiro e com a abertura comercial, também perdeu poder econômico e político. Basta verificar a perda de influência da Fiesp. Não estou sugerindo que devamos voltar ao estatismo e ao protecionismo de velho tipo. Devemos encontrar novas fórmulas".

Boito afirma que hoje temos o crescimento de uma nova burguesia, a de serviços, que entra justamente no espaço que o Estado abandonou. Com a estagnação das universidades públicas, há o crescimento do comércio da educação, com a proliferação de faculdades particulares. A saúde pública, segundo ele, também perdeu qualidade, enquanto o comércio da saúde, através das cooperativas particulares, tornam este serviço essencial um mercado lucrativo. "Acredito que a nova burguesia de serviços é, hoje, um setor tão reacionário da burguesia como foram e ainda são os grandes proprietários de terra. Isso porque esses setores estão ameaçados de morte por qualquer política reformista que se tente no Brasil. Uma política reformista terá de fazer a reforma agrária e terá de acabar com o comércio da saúde, da educação e, mais recentemente, da previdência social, que formam o grande negócio da nova burguesia de serviços.", afirma o professor do IFCH.

Alternativas políticas

O professor discutiu também a questão das opções políticas que se abrem para a população brasileira. Afirmou que, apesar de sua força e dos trunfos que ainda possui, o neoliberalismo não é imbatível. "Ele já começa mesmo a cambalear", diz Boito, acrescentando que um programa de transformações que atenda aos interesses da grande maioria da população brasileira deve romper com o neoliberalismo, superando o privatismo, o entreguismo e o caráter anti-social dessa política sem, contudo, retomar o velho modelo desenvolvimentista. "O desenvolvimentismo, com o seu reformismo superficial, não garantiu a independência econômica do país nem o bem-estar dos trabalhadores".

Irônico, Armando Boito acha que nem tudo está perdido para o presidente da República, a quem acusa de sedimentar o neoliberalismo: "Não estou dizendo que o governo Fernando Henrique mereça nota zero. Como professores que somos, daria para discutir o seu governo em termos de nota. Do ponto de vista dos banqueiros internacionais e dos grandes grupos econômicos, a nota dele é dez. Do ponto de vista das pequenas e médias empresas nacionais, é cinco. Só que, do ponto de vista dos trabalhadores, é zero".

Casa cheia

O tema "desemprego" fez parte dos Seminários de Atualização da Unicamp, que têm como público alvo os professores da rede de ensino médio e fundamental. O projeto segue a proposta de promover a integração entre Universidade e sociedade, com a difusão do conhecimento produzido por docentes e pesquisadores dentro do campus. Os últimos eventos apresentaram um público médio de 700 pessoas no Centro de Convenções, superando as expectativas da coordenação do projeto.

"É uma forma de abrirmos a Unicamp para a comunidade e a receptividade por parte dos professores da rede de ensino vem sendo excelente. Acreditamos que seja possível alcançar facilmente o número de mil participantes diretos", afirma Celene Margarida Cruz, que organiza os seminários ao lado de Lucia Pereira da Silva. Em setembro, o tema foi "ciência e tecnologia". Em novembro e dezembro o debate se dará em torno de "meio ambiente" e "cultura, corpo e lazer".


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