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Suplemento do Jornal da Unicamp 159

Rede de escolas técnicas pode
oferecer cursos superiores

Centro Paula Souza possui mais de 100 unidades
em condições de integrar a educação terciária

Em São Paulo existe um sistema de ensino tecnológico, chamado Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETPS), que é difundido por todo o Estado. O sistema conta com 99 Escolas Técnicas e 9 Faculdades de Tecnologia, oferecendo treinamento a um amplo número de pessoas. Uma possibilidade que merece ser explorada é a inclusão do CEETPS no sistema público de educação terciária.

Estas instituições poderiam, após aprimoramento adequado, oferecer cursos de curta duração, até dois anos, atendendo a uma necessidade do atual sistema educacional. É muito importante para um estado industrial como São Paulo, treinar sua força de trabalho para a habilitação requerida por processos de manufatura de sofisticação crescente. Sobretudo, a presença capilar do CEETPS no Estado de São Paulo seria um importante fator de democratização de oportunidades.

É apropriada, neste ponto, a referência a uma experiência educacional de um país vizinho. No final dos anos 40, a falta de trabalhadores técnicos e habilitados foi um dos mais importantes problemas na Argentina. Um dos primeiros passos para solucionar esta carência foi a criação de um programa de aprendizado para treinar trabalhadores.

Em agosto de 1948, surgiu a Universidade Nacional de Trabalhadores, como uma instituição de nível terciário. Naquela época, o título era de engenheiro de manufatura e, o objetivo, iniciar o treinamento intensivo de trabalhadores, qualificando-os para atender às necessidades da indústria emergente. O requisito para a admissão na universidade era que os candidatos estivessem trabalhando em uma atividade relacionada, de alguma forma, ao diploma que desejavam obter.

A instituição ganhou um novo nome, Universidade Tecnológica Nacional, em 1959. Atualmente, oferece 15 cursos técnicos e de engenharia em 21 faculdades regionais e 8 unidades acadêmicas por todo o país. Ao todo, são mais de 70.000 estudantes. Note-se que as aulas ocorrem após às 18 horas e aos sábados.

Um sistema como este da Argentina poderia ser interessante para o Estado de São Paulo e o Brasil. As unidades educacionais devem ser localizadas onde a população de trabalhadores seja densa. Instituições desse tipo existiram na Europa por muitas décadas. Para uma economia moderna, o desenvolvimento da educação técnica para o mundo do trabalho é certamente parte do desafio do século 21.

Sul-Norte

A atual política para o treinamento avançado de recursos humanos, nos países da América Latina em geral e no Brasil em particular, tem sido enviar jovens estudantes a laboratórios e universidades do primeiro mundo, nos quais eles recebem instrução especializada visando títulos acadêmicos. A experiência mostra que esta política tem vantagens e desvantagens. Os benefícios são óbvios. O treinamento acadêmico avançado é garantido por meio do conhecimento de equipamento sofisticado e a interação com professores e pesquisadores experientes. Entre as desvantagens está a fuga de cérebros, porque uma parte dos treinados nunca retorna ao país de origem. A fuga tem-se agravado claramente em anos recentes, com a globalização da economia.

Há uma outra desvantagem, sutil. Não é evidente que o treinamento específico recebido por jovens estudantes corresponda ao que eles necessitarão para trabalharem em seus próprios países. O esquema normal para treinamento é a incorporação dos que lá chegam a uma força-tarefa já existente. Geralmente, esses grupos têm programas de pesquisa que operam na vanguarda da ciência e tecnologia. Tal experiência contribui para o futuro pessoal do treinado, mas desconsidera, em geral, o quadro de necessidades e o tipo de pesquisa requerida no país de origem. Outros alunos, quando retornam para casa, tentam reproduzir os projetos de pesquisa nos quais estiveram envolvido no exterior. Tais esforços raramente são bem sucedido no contexto de país em desenvolvimento.

Sul-Sul

Bolsas de estudos e auxílios-viagem para uma cooperação "Sul-Sul" são especialmente importantes. O treinamento de pessoas em suas próprias regiões é muito menos oneroso e, em muitos casos, mais produtivo do que enviá-las a laboratórios do primeiro mundo. Além disso, a cooperação Sul-Sul abre a possibilidade de capacitar pessoas que não estejam incluídas em programas de intercâmbio acadêmico. Técnicos, estudantes de graduação e aqueles que não têm conhecimento de línguas estrangeiras estão entre os beneficiados.

No caso do Estado de São Paulo, o Mercosul – que inclui Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e, quem sabe, Chile e Bolívia em futuro próximo – oferece uma oportunidade única para tal iniciativa. As universidades, particularmente as públicas, deveriam desenvolver políticas para favorecer intercâmbios na região, em todos os níveis. Neste sentido, pode ser interessante, para ações futuras ou discussões como a aqui proposta, considerar uma participação mais ampla de universidades da região.

Conclusões

Resumindo, para garantir um futuro com dignidade para os jovens brasileiros nas próximas décadas, autoridades e tomadores de decisões devem abraçar a causa educacional e oferecer oportunidades verdadeiras para o progresso social da vasta maioria da população. Permanecer na política educacional do presente (e passado) significa a rejeição de um melhor futuro para o país e o fortalecimento da segregação social que tem caracterizado a história brasileira no último século. Apresentamos, assim, as conclusões deste trabalho:

a) Os dados aqui apresentados mostram que é obrigatório e fundamental ampliar o ingresso de jovens brasileiros no ensino médio e superior. Em futuro próximo devem ser desenvolvidos mecanismos para seu aperfeiçoamento.

b) A oferta de vagas para o ensino superior no Brasil varia fortemente de região a região, estando diretamente relacionada com o perfil econômico da população. Instituições privadas no Estado de São Paulo oferecem 83,6% do total de vagas.

c) Em São Paulo, o financiamento insuficiente não é a única razão para o pequeno número de matrículas no ensino superior. Um estudo profundo poderia considerar outras formas de superar o problema: novos sistemas pedagógicos, o aprimoramento e a incorporação de instituições já existentes, além da criação de novas instituições de ensino superior com objetivos complementares. Foi observada a necessidade de um sistema mais flexível, com ênfase em novas carreiras de curta duração.

d) A USP, a Unesp e a Unicamp são universidades muito bem-sucedidas em termos de educação e pesquisa. Suas atividades são bem estruturadas e financiadas por agentes estaduais e federais. De qualquer forma, os dados mostram que este sistema não pode ser multiplicado para atingir o nível menos excludente requerido por uma sociedade moderna.

e) É recomendada a criação de ciclos básicos em grandes áreas de conhecimento, nos quais existiriam algumas matrículas excedentes. Devem ser concedidos diplomas nos estágios intermediários de conhecimento.

f) Além de uma formação sólida nas diferentes especialidades, as universidades devem visar a criação de mecanismos que facilitem o trânsito de estudantes entre diferentes áreas do conhecimento. O ensino superior deve contribuir para o desenvolvimento de cidadãos socialmente responsáveis, necessários à construção do futuro de nosso País.

g) Foi proposta a criação de novos mecanismos para um elevado intercâmbio Sul-Sul, em benefício de todos os países da região.

Ficou enfatizado que, com o objetivo de alterar as tendências histórico-sócio-econômicas da sociedade brasileira, é absolutamente necessário oferecer oportunidades educacionais e treinamento de trabalho para todas as classes sociais. Todos os recursos humanos disponíveis devem ser mobilizados para garantir que os jovens brasileiros tenham chances decentes de desenvolvimento.

As universidades, particularmente as públicas, têm uma grande contribuição a fazer nesta direção, não somente treinando os profissionais que a sociedade requer, mas também envidando esforços para capacitar centenas de professores e mestres, tão necessários à execução exitosa de um programa educacional para o País.

Finalmente, uma palavra de precaução às autoridades que trabalham na longa, paciente e difícil tarefa de construir um sistema educacional de ensino superior: lembremos sempre que as universidades públicas precisam ser autônomas, mas não autísticas; livres, mas não alienadas. Nosso país, que tem permitido tão grandes injustiças sociais e tão importantes diferenças regionais, deve trabalhar arduamente para eliminá-las, construindo um futuro melhor.

Referências e bibliografia

Unicamp, Anuário Estatístico 2000, SP, Brasil.

Unesco, Anuário Estatístico 1998, Paris, França. (em inglês)

Unesco, Relatório Educacional Mundial 1998, Paris, França. (em inglês)

Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, Indicadores de Desenvolvimento Humano 2000, NY, EUA. (em inglês)

OECD, Education at a Glance 2000, Paris, França.

Ministério da Educação-Inep, Censo 1999, Brasília, Brasil.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Dados de censo, Brasília, Brasil.

Ministério de Educação, Pesquisa e Tecnologia, 1998/99 Anuário Estatístico sobre o Ensino Superior, Paris, França (em francês).

Ministério de Cultura e Educação, Dados Estatísticos sobre o Ensino Superior 1999, Buenos Aires, Argentina (em espanhol).

Ciência e exclusão social, I. Chambouleyron, Folha de São Paulo, 8 de novembro de 2000.

Diminuindo a exclusão social no ensino superior, H. Tavares, Folha de São Paulo, 4 de fevereiro de 2001.

A questão do aumento de admissões na Unicamp, A. Vercesi, D. J. Hogan. I. Chambouleyron, J. M. Martínez, J. R. França Arruda, O. L. Alves, P. Arruda e R. Hoffmann, Jornal da Unicamp, novembro de 2000.


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