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Suplemento do Jornal da Unicamp 159

USP, Unesp e Unicamp absorvem
somente 3% dos secundaristas

O grande desafio do novo século é aumentar em muitas vezes
o número de vagas nas universidades públicas

O sistema adotado pelo Estado de São Paulo para universidades públicas tem uma séria limitação: não pode ser universalizado para incluir as demandas de um ensino superior menos excludente, próprio de uma sociedade moderna. Esta limitação do modelo é o grande desafio do século para São Paulo e o Brasil.

Os estudantes admitidos anualmente pela USP, Unesp e Unicamp constituem uma parte diminuta, aproximadamente 3%, dos que terminam os estudos secundários no Estado. Existem duas outras universidades federais públicas no território paulista, ambas também de boa qualidade e de pequeno porte, sendo que a soma de suas vagas não altera, de forma sensível, a insignificância do número acima.

A política educacional terciária da maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento favorece o treinamento de estudantes em instituições públicas. Os dados indicam que esta política não predomina no Estado de São Paulo, embora uma parte considerável de políticos e acadêmicos acredite que o Brasil deveria ter uma política educacional que favorecesse as universidades públicas. Esta análise nos leva a pensar que o mais importante desafio do ensino superior, no início do século XXI, é aumentar consideravelmente (muitas vezes) os níveis atuais de vagas em universidades públicas. A questão que permanece é: como?

À primeira impressão, a resposta poderia ser a criação de 10 ou 20 outras universidades públicas, similares às universidades bem-sucedidas. Mas um cálculo matemático simples indica a impossibilidade de multiplicar o sistema existente, pois seria extremamente difícil garantir seu apoio financeiro por meio de fundos públicos do Governo do Estado. Este Governo, e a sociedade de forma geral, tem compromissos financeiros, não somente com outras importantes áreas sociais, mas também com outras necessidades educacionais que requerem atenção substantiva.

Diminuição dos custos

Pensemos sobre o problema do aumento de vagas mediante algumas informações complementares. A Tabela 5 mostra o custo da educação terciária, calculada como uma porcentagem do PIB/capita de diferentes países ou regiões do mundo. A tabela inclui a nossa própria estimativa do custo de um estudante de graduação da Unicamp, em termos do PIB/capita do Estado de São Paulo. Nosso cálculo não considera o gasto com funcionários aposentados nem os investimentos no sistema de saúde. Além disso, os fundos recebidos, por nossa Universidade, de agências financeiras federais e estaduais que mantêm os cursos de pós-graduação e as atividades de pesquisa foram excluídos do cálculo.

Na opinião dos autores, o custo da educação terciária deve estar vinculado à riqueza do país ou da região. Os números da Tabela 5 sugerem que um sistema público de educação terciária, que inclua uma fração considerável dos candidatos egressos do 2º grau, deveria ter um custo por estudante que não excedesse 30 a 40% do PIB/capita. No caso paulista, um planejamento a longo prazo poderia considerar alternativas diferentes e adequadas para o sistema existente.

Turma de 500

Alguns países tratam da questão aceitando um grande número de alunos em suas universidades públicas, como a Universidade de Buenos Aires, na Argentina. Essas grandes instituições, mesmo que reduzindo o custo de educação por estudante, não estão livres de problemas administrativos. Para enfrentar a dificuldade desses grandes números, elas adotam uma abordagem pedagógica diferente, em que, ao invés de aulas dadas para pequenos grupos, digamos 40 ou 50 alunos, professores experientes ensinam a aproximadamente 500 alunos, em grandes salas ou anfiteatros. Os assistentes desses professores cuidam das aulas práticas, dos laboratórios, das respostas a dúvidas, etc.

Este sistema também é adotado em alguns países europeus. Por exemplo, depois dos acontecimentos que sacudiram a França em 1968, a Universidade de Paris foi dividida em diversas pequenas unidades, tendo algum tipo de especialização. Em tais instituições parisienses, a média é de 27 estudantes por professor. As aulas em Paris-Sorbonne são dadas em anfiteatros que podem acomodar de 200 a 500 alunos.

Nas universidades públicas de São Paulo, em comparação, a relação é da ordem de 12 estudantes/professor. Um fator que aumenta o custo do nosso sistema público é a necessidade de um número grande de professores. A quantidade de funcionários que dão apoio às atividades administrativas e acadêmicas também deveria ser revista, pois é considerada excessiva por alguns especialistas.

Uma fórmula para multiplicar o número de vagas por três

As admissões em nossas instituições públicas também poderiam ser ampliadas com uma revisão adequada dos currículos de graduação. Em São Paulo, e provavelmente no Brasil, a tendência tem sido sempre a preferência por currículos densos, em termos de tópicos e temas de aula. Para um estudante comum, os currículos requerem uma média de 20 horas/semana de presença compulsória em sala de aula.

O excesso de disciplinas na graduação tem se originado parcialmente de um certo tradicionalismo e de previsões das necessidades para mercados de trabalho futuros. Na realidade, nós não sabemos o que os mercados irão requerer no prazo de uma década, mas criamos currículos como se conhecêssemos isso em todos os detalhes.

A densidade dos currículos também exige quadro amplo de professores. Além disso, dificulta o engajamento dos estudantes em trabalhos práticos de profundidade, baseados nos conceitos desenvolvidos durante as horas de aula em classe. Reconhecidamente, o aprendizado é um processo que não se dá somente por meio de um professor conversando com a classe e escrevendo no quadro.

Uma observação não menos importante é que currículos densos evitam qualquer incursão intelectual nas áreas que não sejam as especialidades selecionadas. Como conseqüência, os estudantes não exploram o rico contexto acadêmico oferecido pela universidade e permanecem presos a seus próprios currículos especializados. Esta situação não contribui para treinar os cidadãos que o país requer visando ações sociais futuras.

Uma análise crítica do conteúdo atual dos currículos aconselharia conceder: a) mais tempo para os estudantes se auto-desenvolverem; e b) menos horas de aula em classe. Os professores disponíveis poderiam, então, ensinar uma população maior de alunos. Dessa forma, seria possível multiplicar as vagas em universidades públicas de São Paulo por, no mínimo, um fator de três.

Ciclos básicos – O sistema de entrada nas universidades públicas em São Paulo também precisa ser aprimorado. O aluno atualmente é obrigado a escolher sua carreira antes de entrar na universidade, sendo praticamente impossível qualquer alteração posterior. Em outras palavras, espera-se que ele decida, aos 17 ou 18 anos de idade, o que quer ser no resto de sua vida.

A existência de ciclos básicos em grandes áreas, como ciências puras e tecnologia, humanidades e ciências sociais, estudos biomédicos, etc., com um ou dois anos de duração, permitiria que os estudantes se tornassem conhecedores dos vários aspectos da atividade acadêmica no setor escolhido. Isto resultaria em uma opção mais madura e, conseqüentemente, uma diminuição das desistências.

Inscrições excedentes nestes ciclos básicos poderiam auxiliar na melhoria da eficiência global do sistema educacional. Deveriam ser conferidos diplomas para estudos intermediários a pessoas que tiverem completado um mínimo de créditos.

Os cursinhos – É interessante comentar, neste ponto, um problema adicional que prevalece em nosso atual sistema. A dificuldade de se entrar em uma das três prestigiosas universidades públicas paulistas tem favorecido, no decorrer dos anos, o aparecimento de um considerável número de instituições oferecendo um treinamento especial para o vestibular (os cursinhos).

Para os padrões brasileiros, os cursinhos são particularmente caros e acessíveis somente àqueles de famílias ricas ou de classe média alta. Conforme o tempo passa, a competição é mais dura, a admissão é mais seletiva e a qualidade do treinamento prévio torna-se o fator decisivo na seleção do vestibular. Como decorrência, a entrada nessas universidades públicas tem-se tornado grandemente influenciada pela condição econômica do estudante, o que não é certamente um bom critério acadêmico.


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