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BIOTERRORISMO
Especialista alerta que o Brasil também precisa se
aparelhar melhor para enfrentar esta guerra suja

CARLOS LEME PEREIRA

O mundo está mudando velozmente”. É com essa constatação, unanimemente compartilhada por qualquer mortal que não esteja hibernando desde os fatídicos atentados de 11 de setembro deste ano nos EUA – e seus desdobramentos, em curso até agora –, que o coordenador do Centro de Controle de Intoxicações (CCI) do Hospital de Clínicas da Unicamp, Ronan José Vieira, introduz suas palestras mais recentes. E que logo desfilam termos nem sempre tão óbvios para quem não é do ramo, como tabun, soman, sarin e 2, 4, 5-triclotofenoxiácético. Mas aquela frase inicial, facilmente assimilável, e estes “indigestos palavrões” convergem para um único esforço: alertar quem quer que seja, de especialistas e autoridades em saúde e segurança pública aos leigos de todos os segmentos sociais, sobre a necessidade de Campinas e região se aparelharem melhor para fazer frente a um – já nada descartável – ato de terrorismo químico e/ou biológico.

Não que o médico, também docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), e responsável por uma unidade que ao longo de quase duas décadas de atividades se tornou uma referência nacional em Toxicologia, esteja empenhado numa cruzada paranóica para semear pânico por aí. “Não obstante o fato de o epicentro desse tipo sofisticado e atroz de agressão em massa ainda continuar sendo os Estados Unidos e países bem alinhados a eles, o estágio de globalização da violência política em que nos encontramos até nos faz temer ocorrências de tal natureza em nosso meio. Porém, ainda desfrutamos de uma margem de tranqüilidade, pois dificilmente o Brasil estaria, em curto prazo, na rota dessa modalidade de terror ou se envolveria numa guerra na qual agentes químicos e biológicos fossem usados”, ressalva Vieira.

No entanto, como a ciência, notadamente a que é intrinsecamente ligada aos serviços de preservação da saúde pública, não pode sucumbir à leviandade da confiança excessiva, o coordenador do CCI defende: “Já se faz necessário, tanto na nossa região, quanto no país inteiro, a adoção de treinamentos especiais para preparar equipes a enfrentar situações de alto risco, assim como capacitar a rede hospitalar”.

Estudo e idéias
Ronan Vieira frisa que não pretende propriamente tomar a iniciativa de liderar uma empreitada desse porte: “Simplesmente buscamos o envolvimento do CCI num estudo a respeito do assunto, o que, diga-se de passagem, é nossa obrigação. Paralelamente, estamos trocando idéias com as demais unidades da própria universidade afetas à questão e, só então, poderemos conversar com outros setores da sociedade civil, para mensurarmos o interesse geral”.

Mesmo abstraindo um pouco sobre a preocupação com um eventual atentado químico ou biológico, Vieira insiste no aspecto preventivo. O conhecimento dos riscos desses tipos de contaminação, aliado ao preparo para ação campal de equipes especiais poderia evitar ou, ao menos, minimizar tragédias também advindas de desastres involuntários. “Isso ganha importância principalmente na região de Campinas, que, além de estar na rota de transporte de produtos perigosos, abriga laboratórios de manipulação e fábricas de produção de várias dessas substâncias”, lembra.

Por isso, o cientista reconhece que a região não pode ser classificada como totalmente desguarnecida. “Temos unidades e corporações com um grau muito razoável de preparo, caso da Cetesb, das defesas civis e dos bombeiros. O que quero dizer é que nos falta uma estrutura completa voltada para esse tipo de prevenção e ação”, ressalta.

Ao sugerir que o CCI possa vir a dar suporte a iniciativas que se concretizem nesse campo, Vieira idealiza um núcleo de excelência norteado por protocolos específicos. Uma experiência com a qual ele tomou contato nos EUA, nos últimos anos, ao participar de congressos. “Isso foi até 2000, ou seja, antes mesmo dos atentados contra o World Trade Center e ao Pentágono. Por lá, a preocupação já era expressiva, a ponto de o governo norte-americano envolver tanto os seus próprios centros de controle de intoxicações quanto especialistas de outros países, oferecendo e financiando cursos”, esclarece.

Continua

 


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