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Vidas demolidas
Governo de Israel destrói casas de palestinos e desperta
reação inclusive de entidade de judeus

Jeff Halper, um judeu de origem norte-americana radicado em Israel, já esteve preso por defender a causa palestina e, atualmente, tem um filho na cadeia pelo mesmo motivo. Pai e filho integram o Comitê Israelense contra Demolições de Casas, organização não-governamental de combate a uma lei que proíbe construções em território palestino sem permissão do governo de Israel.

Recentemente, 500 residências vieram abaixo por ordem do primeiro ministro Ariel Sharon, acusado de ter comandado o massacre, em 1982, de centenas de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, ao sul do Líbano, além de outros 69 em uma aldeia perto de Jerusalém, em 1953. Também pesa contra ele a acusação de ordenar a execução de prisioneiros de guerra egípcios no Sinai, em 1956.

Halper participou do simpósio internacional “Os Direitos Humanos do Povo Palestino”, na Unicamp, falando sobre a viabilidade de estabelecer o Estado Palestino com uma visão territorial. Lembrou que o recrudescimento da crise entre israelenses e palestinos está ocorrendo oito anos depois do Tratado de Oslo, o acordo de paz firmado em 1993 e que deu origem à Autoridade Nacional Palestina, comandada por Yasser Arafat.

Pelo acordo, o futuro Estado Palestino teria 22% do território atual de Israel, o que significa menos da metade da partilha combinada na ONU, em 1946, para a criação do estado israelense. Na época ficou estabelecido que a Palestina teria 47% do território, e Israel os 53% restantes.

“Depois de oito anos de negociação, o que os palestinos têm hoje são 22% dos 22% negociados, uma área de 6 mil quilômetros quadrados da Cisjordânia (menor que Sergipe)”, informa Halper. Ele explica que os 22% do território, destinados aos palestinos, são formados por terras descontínuas, divididas em três áreas (A, B e C) e sobre os quais eles não têm nenhum controle.

“Quem visualiza as três áreas no mapa, tem a impressão de que se pode transitar de uma área para outra. Nos detalhes, percebemos que estão cercadas pelas áreas controladas pelos israelenses. Então, não é mais área “A”, “B”, “C”: você tem de ir de “A” para “C”, depois para “B” e depois voltar para “C” (totalmente controlado pelos israelenses) e para “A” (sob controle parcial dos palestinos, mas cuja segurança é feita pelos israelenses)”.

Estas áreas são cercadas por estradas que às vezes têm largura suficiente apenas para passagem de um tanque de guerra. “Mesmo olhando bem, nem se percebe a divisão, pois as mesmas construções, o mesmo povo estão em ambos os lados. Nos tempos normais de ocupação, antes da Intifada, você encontraria um carro militar estacionado em um canto. Agora, Israel fechou as estradas e cavou uma trincheira para isolar as cidades. A estratégia de controle é ceder áreas pequenas e isoladas”, acusa. (J.M.R.)

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A harmonia de antes


O professor egípcio Mohamed Habib, da Unicamp, afirma que a guerra não é entre muçulmanos e judeus. Antes da criação do Estado de Israel, as três religiões abraâmicas monoteístas – cristianismo, islamismo e judaís-mo –, originárias daquela terra, viviam em harmonia. “Minha família era pobre e morávamos num prédio simples de três andares, cada um ocupado por uma família de religião diferente, e podíamos fazer refeições ou dormir em qualquer um dos andares”, recorda-se.

Habib fez uma palestra sobre projeções de fotografias de Jerusalém, onde se destacam templos das três religiões abraâmicas (relativas ao patriarca hebreu Abraão). Quando criou o Estado de Israel, em 1948, a ONU decidiu que Jerusalém, por ser considerada o berço dessas três instituições espirituais, deveria formar uma cidade à parte, administrada por instituições internacionais orientadas pela própria ONU. Mas que hoje é controlada por Israel.

Imagens históricas projetadas por Habib mostram o povo palestino em diversas fases de sua história, sempre sob ocupação estrangeira: a dominação pelo Império Otomano, pelo Britânico e os congressos palestinos para se defender.

Clubes esportivos, de literatura e poesia com espíritonacionalista, manifestações e danças populares misturando a arte e a cultura, mostram um povo em nada parecido com o visto hoje nas imagens dos acampamentos em Israel ou dos campos de refugiados em outros países do Oriente Médio.

O prédio onde vivia o professor foi destruído em 1956, durante a luta dos egípcios com os britânicos pelo Canal de Suez. “Foi destruído por uma bomba de napalm, arma química proibida por leis internacionais”, acusa. E foi assim que os britânicos, auxiliados por França e Israel, impediram que o Egito nacionalizasse o Canal. Em troca, Israel ganhou uma faixa de terra que lhe garantiu o caminho para o Mar Vermelho.

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Berço das religiões


O O monsenhor Atallah Hana é da Igreja Ortodoxa na Terra Santa e Jordânia, a primeira igreja cristã do mundo, anterior à Católica Apostólica Romana, edificada em Jerusalém há dois mil anos. Ele pediu a palavra para ressaltar que a guerra entre Israel e Palestina não é entre judeus e muçulmanos, mas contra todos os árabes que moram e nasceram na Palestina, entre os quais cristãos ortodóxicos, católicos ou evangélicos. “Dois católicos foram fuzilados em frente à sua igreja e o mundo não ficou sabendo”, acusou.
Atallah Hana preocupou-se em esclarecer que a igreja cristã de Jerusalém não alimenta nenhum problema com os judeus, mas sim com o sionismo, que em sua opinião desconsidera o cristianismo e o islamismo. “O principal rabino de Israel (Israel Meir Lau) andou dizendo que os árabes palestinos devem ser jogados ao mar, como insetos, porque são seres inferiores”, lembrou.
O monsenhor acusou a sinagoga de omissa diante das atrocidades contra os palestinos, porque nunca se manifestou e, assim agindo, permite que extremistas judeus façam campanha para a demolição das estruturas de instituições cristãs e muçulmanas de Jerusalém, como se a Cidade Santa fosse apenas para os judeus.
“Reconhecemos a importância de Jerusalém para o povo judeu, pois lá ocorreram os acontecimentos mais importantes do judaísmo. Mas é desnecessário dizer que foi a partir de Jerusalém que nasceu o cristianismo”. Acrescentou que Jesus é palestino de origem e nacionalidade e que na Palestina verteu-se a história do islamismo.

De que todos são filhos do mesmo Deus, nunca houve contestação em qualquer congresso e encontro ecumênico, explicou o monsenhor. “Portanto, a violação dos direitos humanos, para as três religiões abraâmicas monoteístas, significa uma violação à ordem divina, pois Ele nos criou à sua imagem e semelhança e exige que todos sejam dignificados e respeitados”. Mas não é o que está acontecendo, segundo ele, que pediu socorro aos cristãos do mundo inteiro. “Jerusalém, conhecida como a cidade da paz, está longe disso, pois as forças de ocupação a estão arrasando”.

 


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