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Suplemento do Jornal Da Unicamp 157

Ex-presa política dá curso de
ética para policiais militares

Professora da FCM tenta desmistificar normas de conduta da corporação

Professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Maria Cristina Von Zuben de Arruda Camargo dá um curso sobre ética para policiais militares. São oficiais e soldados habituados a normas rígidas e diante dos quais ela tenta desmistificar padrões enraizados há décadas na corporação. "O Brasil não precisa de mais leis e códigos. Precisa de um olhar humanista e respeitoso frente às diferenças dos seres humanos", afirma.

Maria Cristina acredita que em breve teremos uma polícia melhor. Seria mera opinião de uma cidadã otimista, não fosse ela uma ex-presa política da ditadura militar. "Há um ano, jamais imaginaria que pudesse estar dando aula para policiais. "Hoje, converso muito à vontade com eles e acredito realmente em mudanças", afirma. O que a faz acreditar na corporação, mesmo depois de sua triste experiência de militância, é a receptividade dos policiais ao seu trabalho. "Surpreendentemente para mim, muito poucas vezes a discussão sobre ética foi tão bem recebida. Antes de iniciar o curso para oficiais no ano passado, jornais noticiaram que eu havia sido presa política. Achei que ninguém iria estar lá, mas todos foram e prestaram muita atenção no que eu disse", orgulha-se.

Turma de 400 soldados

Maria Cristina foi apresentada ao comando da PM pelo deputado estadual Renato Simões (PT). "Ele estava preocupado com aspectos ligados à violência praticada por policiais e achou que a questão tinha de ser trabalhada com base na ética. Aceitei o desafio", diz. O relacionamento com o comando regional da PM em Campinas se estreitou a partir de um curso de bioética, ministrado no ano passado, para um grupo de 20 oficiais, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp. "A pró-reitoria está empenhada em auxiliar no trabalho da PM e vamos firmar agora uma parceria que visa a extensão das aulas para os soldados", adianta Maria Cristina. O curso de formação de soldados tem início previsto para janeiro de 2001. "Serão 400 alunos", adianta o comandante regional da PM, Elzio Lourenço Nagalli.

Se em um curso de medicina, que dura seis anos, os estudantes têm 30 horas de aula de bioética e mais sete ou oito horas de ética médica, os futuros soldados contarão com 64 horas em dois anos. "Aí se percebe que é um curso bem mais voltado para a ética, em comparação a muitos que são oferecidos nas universidades", explica a docente da FCM.

Ética anterior

Nos cursos e palestras que ministra aos policiais militares, Maria Cristina ensina que a disciplina de ética profissional trata dos aspectos referentes a normas e ao código. E ressalta que, se leis e normas resolvessem problemas, todos estaríamos livres deles. "Antes disso, é preciso existir a ética geral, a ética na relação humana. O ser humano vem antes do indivíduo profissional", adverte. Segundo a professora, um manual de instrução pouco resolve, pois nem sempre ele contém o que é justo ou moral. "Cada pessoa tem seus valores. O ser humano, em sua individualidade, é um agente moral. É impossível que todos cumpram uma norma só", argumenta.

A denunciada violência da polícia, segundo Maria Cristina, vem cercada de questões éticas. Ela diz que engessar policiais dentro de padrões e normas impede que eles avaliem se estão agindo errado, em nome das regras. Na visão da professora, as diferenças trazem conflitos. "O ser humano busca a liberdade constantemente. Um homem preso, contido, não precisa ser mais agredido, porque já retiraram dele o que é mais importante, a liberdade. Precisamos respeitar as diferenças".

Esta atitude Maria Cristina defende que o policial mantenha frente ao prisioneiro. "O homem vai se rebelar sempre contra a prisão e a sociedade contra a repressão. A humanidade perderia muito se o homem abrisse mão de ser livre", pondera. Saber se relacionar com o desigual é um dos grandes desafios dos policiais. Por isso, a professora julga que a sociedade não pode prescindir da polícia. "Se não gostamos dela da forma como está hoje, precisamos trabalhar para mudar este quadro. Não podemos acabar com a instituição. Ela é necessária".


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