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Laudo de docente da FEM fundamenta recall

Documento aponta que é grande o risco de falha com o ferro fundido

O professor Itamar Ferreira, da FEM: “Conseguimos mostrar tecnicamente, com embasamento sólido, que havia a necessidade do recall” (Foto: Antoninho Perri)Decisão inédita do Ministério da Justiça, do início de março de 2010, que determinou à Fiat a realização de um recall para troca do cubo de rodas traseiras do veículo modelo Stilo, fabricado a partir de 2004, além de uma multa no valor de R$ 3 milhões, foi baseada em laudo técnico emitido pelo professor Itamar Ferreira, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. A determinação acontece na sequência de expressivos recalls feitos por grandes montadoras, entre as quais a Toyota e a Honda. Contratado pela empresa Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária), Ferreira analisou três peças sinistradas e seis equipamentos novos produzidos tanto com ferro fundido nodular quanto com aço forjado. Foram feitos estudos comparativos de propriedades mecânicas e, principalmente, de micromecanismos de fratura dos dois materiais. O laudo apontou que o risco de falha com o ferro fundido é muito grande, simplesmente porque ele tem menor resistência à fratura. “Isso foi mostrado quantitativamente. É óbvio que se as dimensões do cubo fossem diferentes e se houvesse controle sobre outras variáveis de projeto, o risco de fratura diminuiria”, afirmou o docente.

Contrariando laudos e relatórios emitidos pela própria Fiat e por institutos e laboratórios como Inmetro, IPT e PowerBurst, que não apontavam falha nos cubos de rodas, Ferreira considera que deu dois passos significativos a mais para chegar à sua conclusão. O primeiro deles é uma crítica à parte da literatura da área que faz uma confusão em termos de micromecanismos de fratura. “Na verdade, fazem uma confusão de fratura como um todo”, disse. O que existe de fato são aspectos macro e microscópicos de fratura e os laudos das instituições acabaram baseando-se numa mistura deles. Segundo Ferreira, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), responsável pela contratação do Cesvi, considerou esse fato “bastante interessante” porque toda a argumentação da Fiat, assim como das outras instituições, apontava na mesma direção, ou seja, do aspecto da fratura. “Conseguimos mostrar que havia uma confusão para, depois, desfazê-la”, garantiu.

O segundo passo foi apontar que os laudos não tinham considerado a questão da mecânica propriamente dita. A montadora, de acordo com Ferreira, muito provavelmente utilizou o mesmo processo de fabricação e as mesmas técnicas do cubo de aço forjado para o de ferro fundido. Para o docente, isso aumenta muito o risco de fratura do material. “Eles não consideraram também a montagem do rolamento, que gera um campo de tensões normais de tração que se soma algebricamente com os esforços devido ao uso. Isto é, logicamente, importante”, atestou.

Desde 2008, segundo Ferreira, quando surgiu pela primeira vez um processo na justiça movido por uma das vítimas de acidente com o Stilo, a Fiat negou terminantemente, por 13 vezes, fazer o recall. Pelos cálculos da montadora, a peça estava correta e, mais do que isso, ela se apoiou numa série de laudos de instituições que tem uma história considerável de trabalhos técnicos na área de análise de falha. E com base nesses laudos, não havia como a justiça atuar, uma vez que não estava apontada com clareza a necessidade de um recall. A partir daí, o Ministério Público (MP) formou uma comissão de especialistas que, após análise do processo, apontou que eventualmente poderia haver um problema, no entanto, não conseguiu resolvê-lo. Foi nesse momento que o MP solicitou ao Denatran a resolução do caso. “Chegando até nós, conseguimos mostrar tecnicamente, com embasamento sólido, que havia a necessidade do recall”, assegurou o professor da FEM.

Para ele, sem sombra de dúvidas, esse laudo vira uma importante página da indústria automobilística no Brasil. Como houve uma decisão judicial impondo o recall, Ferreira considera que a partir de agora a maioria das montadoras vão se cercar cada vez mais de cuidados para que esse tipo de problema não volte a ocorrer. Responsável pela confecção de mais de 200 laudos técnicos, vários deles incluindo recalls, Ferreira revela que a maioria das montadoras no Brasil é responsável. Sempre que um problema é detectado, imediatamente há uma iniciativa da montadora no sentido de chamar os proprietários para fazer a substituição da peça.

Fatos como esse servem, principalmente, para reunir elementos e depois introduzir melhorias nos cursos de graduação e pós-graduação, reflete Ferreira. “Nas minhas disciplinas, não perco a oportunidade de utilizar dados como esses, colhidos no dia-a-dia da engenharia dos laudos, para divulgá-los aos alunos, sempre que possível”, disse. A questão da responsabilidade técnica na engenharia, na opinião do docente, é da maior importância. Ele garante que procura usar as melhores técnicas disponíveis, cercando-se de cuidados, porque isso tem consequências jurídicas sérias.

Procurado frequentemente para esse tipo de serviço, Ferreira revela que não tem condições nem espaço na agenda para fazer todos eles. Além disso, lembra ele, não é este o papel da Universidade. “Não podemos ignorar, porém, que ela depende do tripé ensino, pesquisa e extensão. No caso da Engenharia, a extensão refere-se a trabalhos como este que, de certa forma, levou o Denatran a apontar a necessidade do recall”, concluiu.



 
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