Em carta, reitor faz balanço dos seis meses de atividades não presenciais

À comunidade da Unicamp

Chegamos a seis meses de atividades não presenciais. Ao escrever esta carta, sei que me dirijo a pessoas separadas por dezenas, centenas ou milhares de quilômetros, muitas delas abrigadas nas casas de seus familiares ou em outros endereços onde encontraram alento para os meses de quarentena. Muitos ficaram doentes ou perderam seres queridos. São tempos difíceis.

Nos quase 54 anos de história da nossa universidade, nunca estivemos tão distantes. Desde que ingressei como aluno da graduação em Física em 1986, porém, nunca nos vi tão próximos - e unidos, colaborativos, com tamanho senso de comunidade.

O campus, mais que um lugar, está estabelecido temporariamente como ideia (uma forte ideia!), à medida em que segue o ensino remoto emergencial. Essas aulas mediadas pela tecnologia foram a melhor alternativa para não travar a trajetória de tantos estudantes, permitindo planejar o ingresso da próxima geração em 2021. Com muito esforço de todos, conseguimos concluir o primeiro semestre de 2020 e já nos programamos para o início do segundo, que começa no dia 15 de setembro.

Neste momento de preparação para a retomada das atividades, quero registrar um agradecimento especial à nossa comunidade, que soube se reinventar em tão pouco tempo. Além dos professores e estudantes, que se desdobraram e vão outra vez se desdobrar para conduzir e realizar as atividades didáticas, merecem louvor funcionárias e funcionários de todos os setores que presencialmente ou remotamente se adaptaram de algum modo para garantir o funcionamento da Unicamp. Em especial, médicos, enfermeiros, profissionais de limpeza e outros funcionários dos hospitais fizeram e fazem um bravo trabalho de combate à Covid-19 na linha de frente. O enfrentamento da pandemia tem sido também brilhante entre nossos pesquisadores. Testes mais baratos, modelos matemáticos para respiradores, estudos sobre a forma de atuação do vírus, teste de vacinas e outros grandes trabalhos refletem o que de melhor há na universidade pública brasileira.

E não foram poucas as dificuldades coletivas e individuais no período. As projeções de queda drástica de receita nos obrigaram a repensar o orçamento do ano. Conseguir recursos para o pleno funcionamento dos nossos hospitais foi uma missão à parte, que temos conseguido cumprir com muita reorganização interna e ajuda da sociedade civil. Além disso, fatores externos tiveram forte impacto no ambiente universitário. Como exemplo, podemos citar a reforma da previdência e a sanção da Lei Complementar 173/2020, que impediu novas contratações e progressões bem como suspendeu a contagem de tempo para quinquênios e sexta-parte. Esses assuntos certamente desmotivam, principalmente os mais jovens. Precisamos de força e união, para recompor a atratividade das carreiras e juntos superarmos a crise.

Outras ameaças pairam no horizonte, que ainda está um tanto turvo, pois é incerta a evolução da pandemia no Brasil e no mundo. Mas há algumas que tornam mais difícil o momento e agravam nossa preocupação com o futuro imediato da universidade. No plano federal, já se discutem as reformas administrativa e tributária, com mudanças que podem afetar diretamente a universidade e seus servidores. No âmbito estadual, discute-se neste momento na ALESP o Projeto de Lei Nº 529 proposto pelo Governo, que estabelece a transferência do superávit financeiro das autarquias e das fundações para o tesouro estadual ao final de cada exercício.

Como é evidente para qualquer pessoa que examine as finanças da universidade, não existe sobra de dinheiro, muito pelo contrário. O superávit no balanço patrimonial indica que a Unicamp é adimplente, com boa saúde financeira (sem empréstimos ou dívidas). São os recursos que instituições responsáveis reservam para pagamentos do ano seguinte e para planejamento de suas atividades. Graças a essa reserva conseguimos superar momentos de crise, com seis anos de déficit financeiro. Se aprovada a proposta do Governo, ainda neste ano de 2020 – em pleno momento de incerteza quanto às receitas futuras das universidades paulistas – será confiscado do orçamento das instituições de ensino e pesquisa do estado de São Paulo mais de um bilhão de reais. O impacto sobre o ensino, a assistência, a ciência, a tecnologia e a inovação do estado será avassalador, tanto pela situação da economia, quanto – principalmente – pela progressiva incapacidade das instituições de manterem o alto nível de produção de conhecimento e de prestação de serviços à comunidade, inclusive na área da saúde pública.

A reitoria da Unicamp, juntamente com a das demais universidades paulistas, a FAPESP e com expressivos setores da sociedade civil, tem se mobilizado para conscientizar os legisladores e os canais formadores de opinião do desastre anunciado pelo Projeto de Lei 529. E por certo encontraremos respaldo, pois um dos efeitos desta horrível pandemia foi revelar claramente a importância da ciência e da tecnologia para a vida das pessoas, bem como demonstrar a capacidade de resiliência da universidade, que foi capaz de redesenhar-se para continuar prestando à sociedade os serviços que só ela pode oferecer na formação de pessoas, na condução de pesquisas e na extensão dos serviços à população em geral.

Quanto ao funcionamento geral da universidade, gostaria de lembrar que em 18 de agosto foi apresentado o plano de etapas e medidas de controle para a retomada das atividades presenciais. Esse plano é resultado de um vigoroso trabalho de planejamento realizado por onze grupos de trabalho, que implementaram uma ampla discussão na comunidade acadêmica. Ele foi anunciado com bastante cautela, sem datas definidas, já que o cronograma depende do quadro geral da pandemia nas próximas semanas e meses. Cada nova decisão será divulgada, com os detalhes necessários. Estamos trabalhando para que esses tempos incertos transcorram com o mínimo de imprevisibilidade possível. Cabe a cada membro da comunidade ficar atento nas plataformas digitais de informação da Unicamp, a fim de ter o melhor planejamento de suas atividades pessoais.

Até lá, temos de nos manter unidos da forma possível, por meio dos instrumentos de comunicação de que dispomos, para não apenas mantermos a Unicamp em funcionamento, mas também para nos mobilizarmos em defesa dos ideais universitários e das conquistas realizadas desde a implementação da autonomia financeira, conseguida a duras penas em 1989.

A situação é grave, mas esta não é uma mensagem pessimista nem deve haver nela nenhum sinal de desânimo e resignação. Pelo contrário, se seguimos fortes até aqui, certamente teremos energia e união para superar os obstáculos que estão por vir, graças ao enorme talento e habilidade de inovar de nossos professores, funcionários, alunos e parceiros. E graças também ao comprometimento de todos na defesa do futuro da universidade pública, gratuita e de qualidade.

Marcelo Knobel,

Reitor

 

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Reitor Marcelo Knobel em sua mesa

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