Etienne Samain doa coleção particular de livros para a Unicamp

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Coleção de Samain é composta por 2.400 volumes, que tratam de temas como Antropologia, Antropologia Visual, Artes Visuais e Antropologia e Exegese Bíblica
Coleção de Samain é composta por 2.400 volumes, que tratam de temas como Antropologia, Antropologia Visual, Artes Visuais e Antropologia e Exegese Bíblica

Quando deixou a Bélgica, seu país natal, rumo ao Brasil, em 1974, Etienne Samain, filho de pai editor, trazia na bagagem oito malas de livros. Decorridos mais de 40 anos, a biblioteca do professor aposentado do Instituto de Ares (IA) da Unicamp foi significativamente ampliada. A coleção atual, com cerca de 2.400 volumes, acaba de ser doada por ele à Biblioteca “Octávio Ianni” do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade. Os títulos tratam principalmente de temas ligados à Antropologia, Antropologia Visual, Artes Visuais e Antropologia e Exegese Bíblica. “Decidi doar os livros porque entendi que, agora, eles querem viajar. Eu digo tchau. Eles são grandes o suficiente para eu confiar nos seus destinos”, explica o intelectual, que tem formação em Antropologia e Teologia.

Samain conta que decidiu doar o acervo há cerca de dois anos. Os livros nele contidos constituem, em boa medida, um relato da trajetória pessoal e acadêmica do docente. “Apesar de ser filho de editor, não comprei muitos livros na minha juventude. As aquisições começaram no período em que fiz o doutorado em Ciências Teológicas, na Bélgica. As publicações sobre Antropologia e Antropologia Visual vieram depois, quando cheguei ao Brasil e recomecei toda a minha vida”, relata. Aqui, Samain licenciou-se em Filosofia pela PUC do Rio de Janeiro e fez o mestrado em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

No Museu Nacional, vinculado à UFRJ, ele associou os estudos às buscas pelas próprias raízes. Por isso escolheu pesquisar as sociedades indígenas, com o objetivo de encontrar nos mitos delas os substitutos para os mitos bíblicos. “Nessa fase, o número de livros sobre Antropologia começou a engrossar”. Nos anos subsequentes, a biblioteca de Samain o acompanhou em suas mudanças. Saiu do Rio de Janeiro e foi para Natal e deixou a capital do Rio Grande do Norte para finalmente aportar em Campinas, em 1984. “Cheguei na Unicamp para, junto com outros colegas, implantar o programa de pós-graduação em Multimeios”, diz.

Nessa etapa, Samain é colocado diante de um novo espaço de conhecimento. É quando ele inicia um trabalho em torno do visual fotográfico e, mais tarde, acerca das diferentes dimensões do visual. “A questão do visual passou a tomar uma dimensão cada vez maior no meu trabalho, não somente por causa da minha postura aqui na Unicamp, mas em função da realidade do mundo, que experimentava uma mudança na comunicação”, explica o intelectual. A partir desse instante Samain começa a pesquisar como o visual poderia ser incorporado ao discurso antropológico, que até então era predominantemente escrito.

O professor aposentado do IA esmiúça melhor essa abordagem: “Nós podemos falar do ser humano não apenas por meio dos livros, mas também através a visualidade. Essa proposição marcou meu trabalho inicial de Antropologia Visual, tema que pesquisei por muitos anos. Nos dez anos finais, surge o que eu denomino de descoberta, segundo a qual as artes constituem o domínio central da antropologia. Ou seja, todos os tipos de arte relacionam o discurso antropológico com a procura do ser humano”, pontua.

É ao longo de todo esse período, obviamente, que a biblioteca ganha o reforço dos livros sobre Artes visais e Antropologia Visual. “Eu nunca pensei em formar uma biblioteca. Ela nasceu das minhas necessidades e das necessidades de meus alunos, como forma de nutrir as temáticas com as quais trabalhamos. Não sou um colecionador. Por outro lado, diria que esta biblioteca é um arquivo vivo. E permanecerá como uma memória viva de um passado, de uma trajetória de questionamentos e de desejos futuros. Outros vão se utilizar disso para também construir suas trajetórias”, antevê Samain.

O teólogo e antropólogo Etienne Samain: “Decidi doar os livros porque entendi que, agora, eles querem viajar. Eu digo tchau. Eles são grandes o suficiente para eu confiar nos seus destinos”
O teólogo e antropólogo Etienne Samain: “Decidi doar os livros porque entendi que, agora, eles querem viajar. Eu digo tchau. Eles são grandes o suficiente para eu confiar nos seus destinos”

Organização

Embora tenha atuado por 35 anos no IA, o docente esclarece o motivo que o levou a doar o acervo bibliográfico para a Biblioteca do IFCH. “Basicamente porque sou um antropólogo. Os livros tratam de Artes Visuais, mas principalmente de Antropologia. Essa característica é que me levou a consultar a Biblioteca do IFCH sobre a possibilidade de criar uma nova denominação, que seria ‘Artes Visuais e Antropologia’. Além disso, penso que a iniciativa é um reconhecimento, no âmbito da Unicamp, à confiança que a Universidade sempre depositou em mim”.

Antes de entregar os volumes aos cuidados da Biblioteca do IFCH, Samain executou um trabalho de fôlego. Ele fez uma espécie de pré-catalogação dos livros. Os exemplares foram organizados por temas e acondicionados em caixas de papelão, que receberam etiquetas descritivas. Ao todo, foram doadas 67 caixas. “Procurei seguir as grandes linhas temáticas às quais esses livros obedeciam na geografia física do meu gabinete de trabalho”, justificou o docente em carta encaminhada a direção da Biblioteca.

De acordo com a diretora técnica da Biblioteca “Octávio Ianni” do IFCH, Valdinéa Sonia Petinari, os trabalhos de catalogação do acervo doado por Samain já foram iniciados. Das 67 caixas, duas foram abertas e devidamente ordenadas. Segundo ela, é difícil estabelecer um prazo para a conclusão dos trabalhos. “Os livros são inicialmente tombados e depois catalogados. Na sequência, seguem para o acervo. Nós vamos avaliar a sugestão do professor Etienne sobe a melhor localização para algumas temáticas. O fato é que essa coleção vem enriquecer de modo importante o acervo da Biblioteca”, considera Valdinéa.

Imagem de capa
Audiodescrição: Em uma sala, imagem frontal e em plano médio, homem sentado em cadeira, ao centro na imagem, sorri e fala gesticulando com o braço direito, mantendo-o projetado para frente e a palma da mão aberta e voltada para cima, enquanto tem um livro aberto na mão esquerda. Ele olha para a câmera fotográfica. Às costas dele, há quatro pilhas de caixa de papelão com cerca de cinquenta centímetros de comprimento, trinta de largura e vinte de altura, todas etiquetadas, rentes a uma parede. Imagem 1 de 1.

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