Doença falciforme dá o tom de pesquisas apresentadas em workshop da FCM

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Workshop sobre doença falciforme na FCM
Workshop sobre doença falciforme é realizado na FCM

Pesquisadores de doença falciforme e hemoglobinopatias da Unicamp e do King’s College London, do Reino Unido, discutiram na quarta (11) e na quinta-feira (12) as pesquisas e os avanços na área, durante o evento Brazil-UK Workshop on Hemoglobinopathies, realizado no salão nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). “A troca de informações foi na direção de buscar a cura da anemia falciforme, de novos medicamentos e de entender melhor a fisiopatologia da doença”, afirmou o professor Fernando Costa, coordenador do grupo de pesquisa sobre Hemoglobina do Hemocentro, ao lado da pesquisadora Nicola Conran. O grupo possui aproximadamente 40 projetos em andamento.

O workshop foi organizado por Nicola Conran, no contexto de uma colaboração firmada com o King’s College London há mais de dez anos. A iniciativa começou com dois projetos, que tiveram apoio da Fapesp, e intercâmbio de pesquisa. “O objetivo da parceria é ter uma grande coorte [grupo de pessoas que compartilham uma característica ou experiência comum] de pacientes com anemia falciforme. Fazemos agora várias pesquisas em parceria sobre modificadores genéticos e fisiopatologia da doença”, revelou Nicola.

Segundo Fernando Costa, a anemia falciforme é uma doença crônica com tratamento clínico bem-estabelecido e que tem o Hemocentro como uma importante referência. Atualmente, as únicas possibilidades de cura da doença seriam o transplante de medula óssea ou terapia gênica, mas que ainda se configura como uma alternativa disponível para poucos pacientes. “Esse workshop da Unicamp foi planejado para acontecer em conjunto com o King’s College. As duas instituições têm feito descobertas relevantes sobre a doença falciforme. No entanto, o que era para ser um evento interno, acabou sendo uma reunião com pesquisadores de várias partes do Brasil.”
 

Saúde pública
Uma das doenças mais prevalentes mundialmente, a doença falciforme (que compreende sobretudo a anemia falciforme e a doença da hemoglobina C) é considerada um grave problema de saúde pública. Acredita-se que, mundialmente, cerca de 300 mil crianças nasçam por ano com doença falciforme, a maioria em países de média e de baixa renda.

O professor Fernando Costa, coordenador de pesquisas sobre doença falciforme
O professor Fernando Costa, coordenador de pesquisas sobre Hemoglobina
A pesquisadora Nicola Conran
A pesquisadora Nicola Conran, organizadora do evento

A geneticista do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp Mônica Barbosa de Melo, uma das palestrantes, contou que o seu grupo de pesquisa tem trabalhado com complicações associadas à doença falciforme. No caso da anemia falciforme, a causa é uma única mutação no gene da beta-globina, em homozigose.

Essa mutação faz com que haja uma modificação no formato da hemácia. De bicôncava, ela pode assumir a forma de foice que, ao longo de eventos de oxigenação/desoxigenação, acaba permanecendo nesse formato alongado, obstruindo os capilares. Observa-se uma grande variabilidade fenotípica, que se reflete nas várias complicações apresentadas pelos pacientes. As complicações variam de paciente para paciente, tanto em número como em gravidade.

“Buscamos identificar marcadores genéticos que apontem, por exemplo, por que um paciente apresenta certas complicações e outros não, como o acidente vascular cerebral (AVC), a retinopatia, a úlcera de perna, assim como complicações na gravidez. Tentamos entender os moduladores genéticos da doença falciforme", situou Mônica.


Placenta
A doença falciforme também pode cursar com complicações na gravidez. Por isso, Mônica comentou que o seu grupo de pesquisa desenvolve um projeto que estuda as grávidas falciformes, em cooperação com o Hospital da Mulher – Caism. Participam as obstetras Maria Laura Costa Nascimento, Mary Angela Parpinelli e Fernanda Surita.

"Normalmente, as mulheres com doença falciforme apresentam maior risco para complicações na gravidez, como piora da anemia, crises álgicas, síndrome torácica aguda, suscetibilidade a infecções, restrição de crescimento fetal e pré-eclâmpsia, com riscos para a mãe e para o feto", explicou Mônica. “Tentamos buscar genes que indiquem o porquê das complicações da gravidez. Provavelmente em um ambiente com oxigenação reduzida, o papel do estresse oxidativo e inflamação são importantes.”

A pós-graduanda Letícia Carvalho, que está cursando o doutorado sob orientação de Mônica e coorientação de Laura Costa, avalia a placenta das pacientes com doença falciforme neste projeto desenvolvido no Caism. No seu mestrado, a aluna analisou o perfil de expressão gênica da via inflamatória e encontrou alterações de expressão de alguns genes. Em decorrência desses achados, investigou melhor o assunto fazendo um transcriptoma da placenta (avaliando todo o RNA). 

A geneticista Mônica Melo e sua orientanda Letícia
A geneticista Mônica Melo e sua orientanda Letícia Carvalho

Letícia informou que, para tentar identificar genes que possam estar diferencialmente expressos nas placentas dessas pacientes, amostras de vilosidades coletadas a partir da face materna da placenta são obtidas logo após o parto e posteriormente submetidas à extração de RNA (ácido ribonucleico).

Após a extração de RNA, ela o leva para sequenciamento no Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD), uma facility de sequenciamento e de outros procedimentos. Esse laboratório retorna os resultados gerados, que são analisados por meio de ferramentas de bioinformática. "Já encontramos alguns genes diferencialmente expressos ligados à via do estresse oxidativo", contou Letícia.

Os resultados obtidos por sequenciamento de RNA poderão fornecer importantes dados para uma melhor compreensão de como a doença afeta a fisiologia da placenta e aumenta os riscos de complicações materna e fetal, ampliando as possibilidades para estudos futuros.

Além do projeto com placentas, há também outros projetos em andamento que estudam retinopatia, úlcera de perna e AVC, todos em pacientes falciformes. O projeto de úlcera de perna, por exemplo, visa identificar variantes genéticas que possam ser utilizadas, futuramente, como marcadores para a identificação de pacientes com maior predisposição a desenvolver esta complicação.

 

 

Imagem de capa
A pesquisadora Nicola Conran, organizadora do evento

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