Gabriel Gatti fala em evento na Unicamp sobre ‘vítimas’ e ‘desaparecidos’

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Em visita pela primeira vez à Unicamp, onde veio ministrar um workshop e uma conferência aberta, o sociólogo Gabriel Gatti, da Universidad del Pais Basco, fez uma pausa nas suas atividades para falar ao Portal da Unicamp. Na oportunidade, ele respondeu a questões sobre dois de seus temas de pesquisa, “vítimas” e “desaparecidos”, mas também abordou assuntos como violência e xenofobia. A matéria que segue traz os principais pontos da entrevista concedida por Gatti, que veio à Universidade a convite dos professores Omar Ribeiro Thomaz e Adriana Villalón, ambos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Nesta quarta-feira (21), Gatti faz palestra no Auditório Fausto Castilho do IFCH, a partir das 17h.

É a sua primeira visita à Unicamp? Tem trabalhos em colaboração com os professores daqui?

Sim, é a primeira vez que visito a Unicamp. Infelizmente, não tenho nenhum trabalho colaborativo com os colegas daqui. Entretanto, com esse contato mais próximo, pode ser que surja alguma parceria para o futuro.

Que temas o senhor tratará nas atividades que realizará na Unicamp?

Trabalho com dois temas em especial. Um deles é a categoria de vítima. O outro é a figura do desaparecido, que está inserido num projeto maior que coordeno. Falarei sobre esses dois assuntos tanto aqui na Unicamp quanto na Unifesp, em São Paulo.

Qual o conceito de “vítima” presente nos seus trabalhos?

É um conceito bastante amplo. Vítima é basicamente aquela pessoa que sofre por causa de uma determinada violência. A mim me interessa investigar as razões pelas quais a figura da vítima se estende por todo o mundo. Ela está presente na Europa, nos Estados Unidos, no Oriente Médio, na África e na América Latina. A vítima se converteu num lugar-comum. Está em toda parte, pelos mais variados motivos.

Quais são as formas de violência que mais fazem vítimas?

As formas de violência são de diversas ordens: política, étnica, religiosa e até as mais banais, como quando uma pessoa é atacada por um cachorro. A todos os afetados nós chamamos de vítimas, independentemente da causa.

Gabriel Gatti, professor da Universidad del Pais Basco
O professor Gabriel Gatti, da Universidad Del Pais Basco

A impressão de uma parte significativa das pessoas é de que a violência vem aumentando no mundo todo. Esta percepção está correta?

Essa é uma discussão que tenho tido com alguns colegas. Particularmente, não creio que a violência esteja maior hoje que no passado. Penso que há, sim, uma maior sensibilidade, uma maior empatia em relação à dor do outro, o que é uma característica do mundo contemporâneo. Da mesma forma, também não acredito que haja mais vítimas hoje do que antes, mas sim uma maior possibilidade de se reconhecer essa vítima. O sofrimento é uma característica que atravessa a história da humanidade.

No Brasil, em particular, a violência tem alcançado níveis preocupantes. Temos registrado vítimas tanto por parte dos criminosos quanto por parte do Estado...

Não me atrevo a analisar em profundidade o caso brasileiro. Sua pergunta me leva a pensar no episódio da vereadora Mariella. A violência do Estado e da política é atroz. Trata-se de uma característica da América Latina que vem de longe. A mim me interessa trabalhar, no momento, menos sobre o aumento da violência, mas sim sobre a ampliação do reconhecimento acerca daquele é que vítima da violência. Na América Latina, o exercício da violência do Estado contra a cidadania tem características próprias. A figura da vítima na América Latina nos leva a pensar na figura do desaparecido. Atualmente, a violência está se manifestando de forma distinta dos anos 1970. Em alguns locais da América Latina e no México, o que está acontecendo é que o Estado está deixando de proteger uma parte importante da população, que está sujeita a ser assassinada e a desaparecer pela ação de uma série de forças, entre elas o narcotráfico. Não conheço em detalhes o caso brasileiro, mas à distância me parece se tratar de um caso clássico de ausência da figura do Estado nos lugares onde ele deveria atuar.

Temos visto manifestações xenofóbicas pelo mundo todo, que produzem muitas vítimas, principalmente os refugiados. A xenofobia é uma forma de violência simbólica?

Bem, volto a dizer que a violência não está entre os temas que pesquiso, mas considero que sim, a xenofobia é uma forma de violência que causa muitas vítimas. Entretanto, é preciso entender que nem sempre a vítima da qual trato foi submetida a algum tipo de violência. Há vítimas que assumem essa condição sem uma causa direta. Um exemplo é a pessoa que diz estar sofrendo, mas não sabe explicar o motivo do sofrimento. Nesse caso, ela também é reconhecida como vítima. Voltando à sua pergunta, o preconceito de raça, de gênero e a xenofobia são formas de violência tanto simbólica quanto real. E isso está gerando um fenômeno contemporâneo brutal, que é a morte de parte da população da África que tenta migrar para os países europeus. Muitos sucumbem durante a travessia do Mediterrâneo.

O senhor mora no País Basco. Como vê os movimentos separatistas na Espanha?

Como morador do País Basco, é difícil não ter uma reflexão sobre o assunto. A Espanha é um país complicado, dentro de uma Europa complicada. A Espanha é um país com nacionalismos periféricos muito fortes e, portanto, com grande dificuldade de estabelecer uma política centralista. O nacionalismo periférico é muito intenso no país, como o basco e o catalão. Nos últimos 100 anos, tem ocorrido uma tensão permanente entre um lado e outro da questão. Nos últimos dez anos, vive-se uma dinâmica de tensão entre o Estado central e a Catalunha. Se você me perguntar qual será o resultado dessa disputa, eu direi que não tenho a menor ideia. A direita espanhola é muito direita. Há coisas que pareciam ter desaparecido, como restos do franquismo, mas temos visto esse fenômeno emergir com brutalidade. Ao mesmo tempo, temos uma cena muito interessante, como o surgimento do M-15 [nome dado às manifestações populares ocorridas em 15 de maio de 2011, cujo objetivo foi reivindicar mudanças sociais e políticas no país] e de outros movimentos sociais no país.

A Unicamp criou recentemente o seu Observatório dos Direitos Humanos. De que forma a academia pode contribuir para a efetiva defesa dos direitos humanos?

Bem, a academia é algo bem grande, que não gera somente um tipo de investigação. Temos pessoas nos laboratórios, temos pesquisadores envolvidos com estudos voltados à formulação de políticas públicas etc. No caso dos direitos humanos, penso que a sua defesa seja um produto híbrido, formado pelas mobilizações sociais e pelos trabalhos acadêmicos. Na Colômbia e no México, por exemplo, a sociedade está pedindo a ajuda da academia para refletir sobre a questão dos desaparecidos. Nesse sentido, penso que as universidades têm muito com o que contribuir.

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Gabriel Gatti, docente da Universidad del Pais Basco

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