Uso de animais no ensino requer métodos validados

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imagem mostra sala com manequins usados para o ensino. Há uma maca com bonecos de duas crianças e equipamentos de emergencia
Manequins do Laboratório de Habilidades: simulação realística de procedimentos é utilizada para o ensino

A Unicamp está propondo junto à Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) um grande levantamento da utilização de métodos alternativos ao uso de animais no ensino da medicina em universidades de todo o país. O objetivo é criar uma cooperação entre todas as instituições para a elaboração de um documento a ser entregue na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Na casa tramita atualmente uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), presidida pelo deputado Feliciano Filho, que apura a prática de maus tratos contra animais. O documento poderá servir para subsidiar as discussões entre os deputados.

Convocada a depor na última quarta-feira (13), a Unicamp enviou como representante o presidente da Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua), Wagner José Fávaro, que esclareceu os deputados sobre a utilização de alguns animais, porcos e coelhos, no ensino de cirurgia na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Os animais são utilizados somente no quarto e sexto anos do curso, juntamente com a residência médica em cirurgia. Além da Unicamp, USP e Unesp também foram convocadas e enviaram seus representantes técnicos.

A Unicamp se comprometeu a visitar as instituições que apresentaram métodos alternativos com a nomeação de uma comissão formada por membros da Ceua,  médicos veterinários e cirurgiões. Serão feitas visitas a duas universidades para verificação da possibilidade de adoção de novas técnicas e até mesmo de estabelecimento de parcerias com o objetivo de aprimorar os métodos.

“A Unicamp tem um compromisso seríssimo com as demandas da sociedade. Nós todos amamos animais e temos o maior zelo para com eles, mas como instituição de ensino e pesquisa estamos atentos a questão da ética aliada ao bom treinamento dos melhores profissionais”, afirma o pró-reitor de Pesquisa, Munir Skaf. “Gostaríamos de aproveitar este momento de interesse por parte de vários deputados da assembleia, que tem uma base de eleitores bastante ampla, para contar com os deputados para trazer recursos à universidade e quem sabe, no futuro, possamos substituir totalmente o uso de animais no ensino”, complementa.

Munir Skaf gesticula durante a entrevista. Veste camisa azul clara e terno azul marinho. Cavelos grisalhos e curtos e óculos retangulares no rosto
O pró-reitor de Pesquisa Munir Skaf: Unicamp é precursora do uso responsável de animais

Segundo Skaf, a Unicamp é precursora do uso responsável de animais desde a década de 1990, com a criação da primeira Ceua do país. A universidade também deu suporte acadêmico e técnico para a criação da Lei Arouca (Lei 11.794/2008), que é a lei federal vigente regulamentadora do uso de animais no ensino e na pesquisa.

Na Alesp, o professor Wagner Fávaro argumentou sobre os critérios adotados pela Unicamp para o uso restrito dos animais. Segundo Fávaro, desde 2008, com a Lei Arouca, a Unicamp reduziu pela metade e restringiu a utilização de animais somente para o ensino de cirurgias de emergência, que implicam risco iminente de morte à pessoa.

“A lei tem que seguir três pilares básicos: redução do uso dos animais, refinamento e substituição de procedimentos quando os estudos de métodos alternativos avançam. Os protocolos devem estar em consonância com toda a metodologia científica aprovada no mundo. Nós seguimos as normas dos colégios brasileiros e internacionais que preveem boas práticas de pesquisa e ensino, a lei faz parte desse código de boas práticas”, explica.

Segundo Fávaro, os procedimentos seguem os protocolos aprovados pela Ceua, que por sua vez é fiel à a lei federal. O professor salientou que a universidade já utiliza no ensino vários procedimentos em manequins e ambientes virtuais frisando que, para os protocolos mantidos, ainda não há métodos alternativos validados pela Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama).

O professor Fávaro veste uma camisa branca e gesticula na entrevista a repórter. Ele é calvo e usa barba
Wagner José Fávaro esteve na Alesp para esclarecer os deputados

“Um procedimento é validado após uma série de repetições que atendem a necessidade do cirurgião. A Unicamp vai verificar esses métodos e pode ser que eles sejam adotados totalmente ou parcialmente. Ou ainda podemos melhorá-los ou criar novos modelos”, complementa.

Os métodos alternativos devem ser rigorosamente avaliados pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). Ainda de acordo com Fávaro a Unicamp se preocupa inclusive com as implicações legais que a adoção de métodos não validados pode gerar. “Se não validamos os métodos alternativos para o cirurgião ou para o futuro médico qual será a implicação no futuro? Podemos ser questionados sobre uma falta de habilidade que o profissional possa ter”.

Trauma

O coordenador da disciplina de Cirurgia do Trauma, da FCM Unicamp, Gustavo Pereira Fraga ressalta que geralmente os médicos se formam e logo em seguida começam a trabalhar muito provavelmente na área de urgência. “Os procedimentos que nós simulamos em animais são estes, na área de urgência, com situações de risco de morte em que o médico precisa ter domínio de fazer como, por exemplo, um rápido acesso no pescoço para a traqueia. O animal tem a veia que sangra, a artéria, e está sob anestesia geral, não sofre nada. Tudo é muito bem discutido e embasado”.

Outras situações que Fraga descreve são simulações de sangramentos que precisam ser controlados ou mesmo a sutura de um coração batendo “Como o residente vai aprender a suturar um coração que está batendo? Ele precisa ter maneiras de treinar que não sejam no próprio hospital com o ser-humano”, observa.

Fraga salienta que sempre houve na universidade respeito e ética no uso de animais. A disciplina de Cirurgia do Trauma foi criada em 1987 e só existe em cerca de vinte por cento dos cursos de medicina no país. O coordenador destaca a diminuição no número de indivíduos utilizados, animais que são adquiridos pela universidade e que foram criados para este fim. Na área da residência médica os alunos fazem esses treinamentos por uma semana, no núcleo de cirurgia experimental e junto a quatro professores por período. “A partir do momento que o aluno está na iminência de se formar médico, e um bom médico, precisa vivenciar uma situação real que vai enfrentar”.

Gustavo Fraga veste indumentária do centro cirúrgico, aparece em pé, da cintura para cima
Médico precisa ter domínio dos procedimentos para trabalhar em situações de emergencia, destaca Gustavo Fraga

De acordo com o professor, os métodos alternativos que podem substituir o uso de animal vêm sendo adotado na Unicamp pelo menos desde 2001 com a reforma curricular do curso de medicina. “Pode ser que no futuro nós não utilizaremos animal nenhum desde que nós tenhamos modelos que reproduzam com fidelidade aquilo que o aluno de graduação ou mesmo o residente na área de cirurgia ou de áreas mais específicas de cirurgia do trauma ou transplante vai encontrar no seu dia a dia”.

A FCM tem um local chamado laboratório de habilidades onde funciona um centro de treinamento de atividades motoras e outras. Os alunos fazem simulação realística em manequins que são muito avançados. Assim como o curso de medicina, e a disciplina de Cirurgia do Trauma, o laboratório é referência no país. Ainda assim de acordo com Fraga para alguns procedimentos ainda não existem manequins que reproduzam com fidelidade o que um bom médico precisa apreender.

Os animais utilizados no ensino são acompanhados na Unicamp por biólogos e veterinários. A universidade tem 48 biotérios, os locais onde os animais ficam alojados, cadastrados no Concea, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

 

 

Imagem de capa
Cirurgia de emergencia na área de trauma, no Hospital de Clínicas da Unicamp

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