Na Galeria, as artes da
biblioteca e do jardim

19/05/2016 - 10:43

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O artista Nelson Screnci

O artista Nelson Screnci

O artista Andrés Hernández

O artista Andrés Hernández

“Bibliotecas e outros horizontes” e “No jardim da academ[ia]” são duas exposições abertas nesta quarta-feira (18) na Galeria do Instituto de Artes (Gaia) da Unicamp e que podem ser visitadas até dia 31 deste mês no campus universitário. A Gaia fica na Rua Sérgio Buarque de Holanda, s/nº, nas instalações da Biblioteca Central “César Lattes” (BCCL).  Os dois trabalhos marcam a reforma feita recentemente no andar térreo da BCCL, com a ideia de retomar o seu papel na Universidade de um lugar não só de pesquisa, mas também de convívio. “Nessa reforma, que visa à revitalização de espaços, está sendo feita a integração da BCCL com a Galeria. O acesso principal da Galeria agora passa a ser feito pelo hall de entrada da BCCL. Uma cerimônia oficializará essa integração no próximo dia 6 de junho no local, quando estreia a exposição Unicamp 50 anos”, informou Regiane Alcântara Bracchi, coordenadora da biblioteca. 

Especificamente a exposição “Bibliotecas e outros horizontes”, do artista plástico Nelson Screnci, na sala 2 da Galeria, se constituirá um marco nessa integração. O artista faz pinturas em acrílico sobre tela tendo como temática maior as bibliotecas. Também mostra obras recentes que procuram retratar de forma lírica paisagens imaginárias, realizadas por meio de delicadas combinações de tons e cores. Para ele, bibliotecas e outros horizontes são semelhantes, "pois bibliotecas levam sempre a outros horizontes", garantiu. 

Screnci foi convidado a fazer essa exposição que reflete a transição entre a arte (cultura artística) e a biblioteca (cultura livresca). “Para muitos, a imagem é fruto da palavra. Para alguns, a palavra nasceu primeiro. Temos aqui duas maneiras de ver a criação humana”, sintetizou. Quem é que não se encanta olhando numa biblioteca aquelas lombadas misteriosas? O que será que tem atrás de tudo aquilo? Quantas histórias? Parece tudo igual mas, quando se chega mais perto, não é. O mesmo acontece com a pintura. “Quando chegamos perto, temos outra visão. E as pessoas também. Cresce então a nossa compreensão do mundo”, disse. 


O ateliê de Screnci fica situado em São Bento de Sapucaí, cidade próxima a Campos de Jordão, onde reside há cinco anos. Deixou São Paulo em busca de uma nova experiência, visto que também aprecia muito pintar florestas e montanhas. Três galerias comercializam sua arte. Ele pintou as primeiras bibliotecas quando tinha 12 anos. Começou com a Biblioteca Infantil Municipal, na Capital. “Foi uma das vivências mais ricas. Até hoje não esqueço aquele espaço, aquele cheiro.”

Jardim
Como parte das atividades programadas no curso de graduação 'O Sistema da Arte: Artistas e Agentes Artísticos', o artista plástico Andrés Hérnandez, cubano que vive no Brasil há 20 anos em São Paulo, organizou a exposição coletiva “No jardim da academ[ia]”, que reúne na sala 1 obras de 19 artistas, graduandos da Unicamp, e quatro curadores, também graduandos sob a orientação de Andrés, o curador geral.   

A exposição é multimídia e mostra gravura, pintura, performance, objeto real, vídeo, desenho, livro de artista, instalações. Os trabalhos foram selecionados e retratam a fragmentação pessoal que depois é revestida pelo tom coletivo. Os alunos fazem a disciplina Ateliê Experimental Multidisciplinar II, que teve como resultado essa exposição. É a conclusão de um processo de elaboração conjunta entre Andrés e eles de como organizar uma exposição, passando pela curadoria, seleção de artistas, seleção de obras, burocracia, documentos, formulários impressos, laudos, contratos, planilhas, montagem, etiquetas. 

“Esse é um problema que eu me defronto quando faço meus projetos ou participo de editais. Ensinei aos alunos a fazerem portfólios, currículos, pois para muitos artistas isso é complicado. Mas é preciso sair da zona de conforto para aprender a fazer, ser gestor de sua produção”, aconselhou Andrés. Ele revelou que iniciava as suas aulas com um texto crítico de um filósofo, de um curador para que os alunos também tivessem uma fundamentação teórica. “Juntos fomos elaborando a exposição”, realçou. 

No ano passado, ele ministrou na Unicamp um workshop aberto a artistas, produtores, galeristas, diretores de museus, etc. Falou da atuação numa curadoria e da produção de ações culturais, tópicos pouco abordados na América Latina. Daí veio o convite da professora Sílvia Folegatti, coordenadora do curso de Artes Visuais, para voltar e participar de um curso de graduação. O projeto foi aprovado e Andrés veio para a Unicamp como professor especialista visitante no mês de fevereiro e permanecerá aqui até junho. Ao mesmo tempo, ele prossegue ministrando workshop uma vez por mês. Serão quatro encontros. 

O nome “No jardim da academia” é uma metáfora do jardim. “Se você planta mas não cuida, ele morre. As plantas morrem. Então nossa função como professor é adubar e cuidar desse jardim permanentemente. Você encontra alunos que passaram pela academia e não conhecem essas questões da metáfora do jardim, da academia, da formação. Então essa experiência foi muito boa. Não sabia o que iria encontrar. Fiquei surpreso. Em 30 anos de trabalho, essa foi uma das melhores experiências que tive”, expressou Andrés, que trabalhou em Cuba no Museu de Arte Moderna (MAM) por 11 anos e em galerias particulares.