Mudanças climáticas em debate
no Perspectivas Unicamp 50 anos

26/11/2015 - 11:52

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Professora Ítala D'Ottaviano, assessora da Reitoria

Professora Ítala D'Ottaviano, assessora da Reitoria

O professor Robert Frodman

O professor Robert Frodman

Participantes da mesa-redonda

Participantes da mesa-redonda

O convidado Roberto Frodman

O convidado Roberto Frodman

Professor Arlindo, da USP

Professor Arlindo, da USP

Jurandir Zullo, coordenador da Cocen

Jurandir Zullo, coordenador da Cocen

Público no Centro de Convenções

Público no Centro de Convenções

"Para um país grande como o nosso, é preciso ter tantas pessoas vivendo nas áreas urbanas? Essa foi uma das indagações do professor da Universidade de São Paulo Arlindo Philippi Jr. na primeira mesa-redonda do evento "Perspectivas Unicamp 50 anos - da universidade para a sociedade" nesta quinta-feira (26), uma série comemorativa aos 50 anos da Unicamp em 2016. Para ilustrar sua fala, ele lembrou que três milhões de pessoas vivem hoje em favelas no Estado de São Paulo. Lembrou ainda que o sistema Cantareira vem sendo invadido de forma irresponsável e com a aprovação de algumas instâncias do governo. Segundo o debatedor, esse e outros temas que a Unicamp está discutindo nessa série se caracterizam como grandes temas nacionais, entre eles as questões climáticas, que necessitam de reflexão e de contribuições, pois não afligem somente o Brasil. Afligem o mundo. O problema, a seu ver, é de planejamento e de gestão, afirmou Arlindo, no Centro de Convenções da Universidade.

O debatedor ressaltou quem sem planejamento e sem gestão não há avanços, visto que os desafios estão em todas as áreas do conhecimento. No Brasil, por exemplo, 82% da população vive em áreas urbanas atualmente. No mundo, são 52%. Ele citou a Constituição brasileira que, em seus delineamentos, aborda a política urbana que, em seu artigo 182, diz que o país tem a obrigação de ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade;  em relação à saúde, o artigo 196 preceitua que devem ser garantidas políticas que visem à redução de doenças; e em relação ao meio ambiente, no artigo 225, enfatiza-se que todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 

Na Constituição, de 1988, o Brasil já tratava da sustentabilidade e hoje as políticas públicas abrangem várias vertentes nesse sentido: a saúde (LF 8.080/90), recursos hídricos (LF 9.433/97), crimes ambientais (LF 9.605/98), mudanças climáticas (LF 12.187/09) e resíduos sólidos (LF 12.305/10), etc. "Com essas políticas, temos condições de desenvolver o país, mas alguma coisa precisa ser feita para que a legislação seja melhor observada. Afinal, temos condições de avançar mais”, defendeu Arlindo. Em sua opinião, deve-se planejar, fazer gestão e cobrar dos responsáveis. Mas reconhece que transformações vêm sendo feitas e, mesmo assim, é preciso cuidar da profunda urbanização e do crescimento demográfico, aconselhou. 

Os problemas urbanos, comentou ele, passam por aspectos como a vulnerabilidade e a falta de qualidade de vida, tanto que a cada verão a sociedade vive uma tensão com a chegada das chuvas. "Isso não é prevenível?", perguntou. “Vejo que é preciso desenvolver estudos mais aprofundados e se debruçar sobre cada questão, uma vez que as mudanças climáticas têm implicações nas condições ambientais, nas condições sociais e na saúde."  

Os impactos adversos aparecem mais em países de baixa renda, assinalou o convidado. Um desses impactos é que milhões de pessoas estão sujeitas a inundações pelo aumento do nível do mar. Tem mais: áreas afetadas pelas secas poderão aumentar e mudanças hidrológicas afetarão a qualidade da água de lagos e rios. Tudo isso já está atingindo as pessoas. Conforme previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para 2080, estima-se que 3,2 bilhões de pessoas não terão acesso à água, 600 milhões viverão em regime de escassez alimentar e de 2 a 7 milhões de pessoas serão deslocadas por inundações costeiras.

Arlindo ainda abordou na mesa-redonda as implicações do clima para as cidades brasileiras, lançando inquietações sobre como enfrentar as enchentes assegurando saúde e qualidade de vida, como construir autonomia para se adaptar às mudanças climáticas e como planejar ações. Participaram também dessa mesa-redonda o professor de Filosofia Robert Frodman, da University of North Texas, EUA,  diretor do Centro para o Estudo da Interdisciplinaridade, especialista em filosofia ambiental, interdisciplinaridade e política da ciência; e o professor colaborador do Instituto de Biologia (IB), ex-pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e ex-diretor do IB da Unicamp, Mohamed Habib. 

A professora Ítala D’Ottaviano, presidente da comissão organizadora das comemorações dos 50 anos da Universidade e assessora especial da Reitoria da Unicamp, abriu o evento dando as boas-vindas à plateia e falando das atividades que comporão o Jubileu de Ouro da instituição. Jurandir Zullo, coordenador do evento e da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), destacou que as mudanças climáticas em 2004 ainda eram um tema restrito  no país, mas que a Unicamp já tinha 51 grupos trabalhando com o assunto. Veio o primeiro edital da Fapesp e 18 projetos foram contemplados no Brasil. A Unicamp foi agraciada com três projetos aprovados: um ligado ao Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), outro ao Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e outro ainda no Núcleo de Estudos da População (Nepo).