Especialistas sugerem alternativas
para entraves da gestão pública

24/06/2015 - 14:06

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Senadora Gleisi Hoffmann durante o Fórum Alternativas para Gestão Pública

Senadora Gleisi Hoffmann durante o Fórum Alternativas para Gestão Pública

Mesa de abertura do fórum

Mesa de abertura do fórum

Alvaro Crósta, reitor em exercício

Alvaro Crósta, reitor em exercício

Julio Cesar Hadler, coordenador do Penses da Unicamp

Julio Cesar Hadler, coordenador do Penses da Unicamp

Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Unicamp

Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Unicamp

As tentativas de padronizar, centralizar e racionalizar a gestão pública ao longo das últimas décadas no Brasil resultaram em uma legislação voltada para o controle de licitações e da execução orçamental e não para a facilitação da organização, da gestão dos serviços e de sua eficiência. O Fórum Alternativas para a Gestão Pública, realizado ontem na Unicamp, reuniu especialistas que discutiram propostas sobre a racionalidade, a produtividade e a eficiência do serviço público com a transparência necessária e de forma acessível às demandas da sociedade.

A gestão pública brasileira está inserida em uma cultura que valoriza mais o processo do que o resultado, o que reflete uma "burocracia travestida de controle" que não gera segurança. A afirmação é da senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), que enumerou as dificuldades burocráticas dos investimentos públicos na área de infraestrutura, como os conflitos com o setor privado e os modelos de concessão. Segundo a ex-ministra da Casa Civil (2011-2014) no primeiro governo Dilma Rousseff, no entanto, há diversos casos de sucesso no setor público, como o Sistema Único de Saúde (SUS), a estatal Petrobras e as universidades e institutos federais. "Nós temos muitos problemas, mas, de fato, temos também muitos programas que funcionam e dão conta de dar respostas a problemas da sociedade que a iniciativa privada não daria", defendeu.

O modelo das organizações sociais (OS) foi um dos destaques do evento, com exemplos das áreas de ciência e tecnologia (C&T), saúde e cultura. O professor emérito da Unicamp Cylon Gonçalves da Silva, atualmente na coordenação adjunta da Fapesp, fez um histórico do início das OS no Brasil, com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Em meados da década de 1990, o físico articulou com o governo federal e o Poder Legislativo a transformação do LNLS em uma OS como forma de superação dos entraves institucionais que impediam o avanço daquele projeto científico. Apesar disso, ele ponderou: "Nós temos que evitar a canonização das organizações sociais. Elas não são uma panaceia universal. Elas são uma solução dentro de um leque muito grande de soluções para a enorme complexidade de um Estado moderno".

Mariano Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, concordou com o coordenador adjunto da Fapesp e afirmou que, em determinados campos, a gestão compartilhada pode ser benéfica para o desenvolvimento do país.

Segundo Laplane, o setor de C&T tem uma característica muito peculiar de organização e mobilização que possibilitou o emprego do modelo das OS de forma bem-sucedida. Ele citou os casos do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e, mais recentemente, da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

A professora Teresa Atvars, pró-reitora de Desenvolvimento Universitário da Unicamp, discutiu em sua palestra as complexidades da gestão na universidade pública, como o predomínio de decisões internas colegiadas, a vinculação entre as instâncias decisórias e os órgãos colegiados internos, e a proximidade com os sindicatos. De acordo com ela, que é docente do Instituto de Química, essas características não existem na maioria dos órgãos públicos. "Além da complexidade legal, nós temos uma dimensão política que não é trivial." A pró-reitora sugeriu a criação de novas formas de relacionamento com os organismos de controle que entendam que a universidade é diferente de outros órgãos públicos. "Mudanças não são incompatíveis com sólidas estruturas, há coisas que podemos mudar sem perder o norte, sem perder a visão do que deve ser uma universidade pública absolutamente qualificada."

A sociedade brasileira deveria aproveitar o atual momento de crise econômica e política para promover alterações nas estruturas da gestão pública, sugeriu o economista José Roberto Afonso. Para ele, há um "mito" no Brasil de que basta gerenciar para resolver os problemas, o que faz com que não se tenha planejamento e as soluções venham sempre como uma reação. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou ainda que o Brasil foi o único país que enfrentou a crise global sem nenhuma reforma estrutural. "Está na hora de parar de pensar que resolvemos tudo com gerenciamento, ou apontando uma ou duas pessoas para serem crucificadas. É hora de fazermos uma profunda reforma institucional na economia brasileira, na parte fiscal e na administração pública. Nós criamos uma Constituição nova, mas não alteramos os seus alicerces."

O Fórum Alternativas para a Gestão Pública, realizado no Auditório Zeferino Vaz do Instituto de Economia, foi organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses) da Unicamp.