HC faz 1ª cirurgia de crânio
com titânio impresso em 3D

02/06/2015 - 14:27

No dia 5 de setembro de 2014, em Araçatuba (SP), a jovem Jéssica Cussioli, 23 anos, entrou para as estatísticas de acidentes com motos no Estado. Após bater o rosto em uma caçamba de entulho, devido a uma manobra mal sucedida ao se desviar de um buraco, Jéssica - mesmo de capacete - sofreu um gravíssimo traumatismo crânio/facial e um acidente vascular cerebral (AVC hemorrágico), que resultaram no afundamento do crânio, perda da visão do olho direito e parcial dos movimentos do lado esquerdo do corpo.

Porém, a conjugação de fé com a ciência resultou em um caso inédito no serviço público de saúde do país. A família se mobilizou e Jéssica se tornou paciente do HC. Hoje ela é a primeira pessoa no país a receber, simultaneamente, três placas de titânio para reconstrução crânio-facial em uma cirurgia que durou mais de 8 horas. Os cirurgiões Paulo Kharmandayan, Davi Calderoni, Herberti Aguiar e Adriano Mesquita da cirurgia plástica e Enrico Ghizoni da neurocirurgia do Hospital de Clínicas da Unicamp estiveram à frente do procedimento inédito no Brasil. A cirurgia foi um sucesso.
 
"Relembrando a história dessa jovem podemos afirmar que ela é uma vitoriosa sob todos os aspectos", enfatiza o professor Kharmandayan. Ele conta que ficou em dúvida quando recebeu uma ligação do engenheiro da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, André Jardini, sobre a possibilidade de realizarem um procedimento de reconstrução crânio-facial, inédito no país. "A extensão dos problemas eram muitas, mas o desafio era maior ainda e aceitamos", recorda o chefe da cirurgia plástica do HC.
 
Segundo Paulo Kharmandayan o sucesso da cirurgia se deve ao trabalho multiprofissional de engenheiros, médicos e físicos. "Quando importamos o equipamento ele não vem com manual de aplicações para os estudos e pesquisas. Tudo fomos nós que desenvolvemos e aperfeiçoamos nesses seis anos de projeto", destaca. A intenção é que as pesquisas se tornem protocolos de medicina para serem adotados num futuro próximo pelo SUS em todo país. "Estamos prontos para treinar outros hospitais e centros de pesquisa", reforça Kharmandayan.
 
O engenheiro mecânico André Jardini do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Biofabricação (Biofabris), sediado na Unicamp, foi quem manteve o primeiro contato com familiares de Jéssica, em fevereiro desse ano. "Ao relatar a história em um e-mail e links de notícias da cidade sobre o caso, solicitei uma tomografia e ao receber e discutir com o Kharmandayan apostamos no projeto para a prototipagem crânio-facial em 3D com titânio e aperfeiçoamento das técnicas", lembra Jardini que é pesquisador sênior do Instituto BIOFABRIS.
 
Segundo Jardini o equipamento que produziu a placa de titânio é conhecido como sinterizador direto de metal por laser. Importado da Alemanha e avaliado em R$ 3 milhões o equipamento foi o primeiro da América Latina e pode produzir qualquer tipo de material a partir de pó de titânio. A fabricação da placa levou 20 horas. No BIOFABRIS existem atualmente cerca de 35 linhas de pesquisa envolvendo 250 pesquisadores de 33 instituições e universidades brasileiras, além de 12 convênios internacionais.
 
O conceito de “biofabricação” consiste em utilizar técnicas de engenharia e biomateriais para a construção de estruturas tridimensionais, fabricação e confecção de substitutos biológicos que atuarão no tratamento, restauração e estruturação de órgãos e tecidos humanos. O laboratório, que é ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), reúne pesquisadores de quatro unidades da Unicamp (FEQ, FEM, FCM e o Instituto de Física) e de outras universidades e institutos de pesquisa do país, de diferentes áreas, que trabalham de forma integrada e multidisciplinar nos vários projetos, incluindo o das próteses.
 
O ACIDENTE - No exato momento do acidente em Araçatuba, o neurociurgião da Santa Casa de Araçatuba, Rodrigo Mendonça, que passava pelo local, realizou os primeiros socorros à vítima e imediatamente acionou o hospital, que em pouco tempo receberia Jéssica para uma cirurgia de emergência. Após o procedimento, a perspectiva era de que a paciente tinha 2% de chance de vida, mas ela superou as expectativas e iniciou o processo de recuperação. Até hoje foram quatro cirurgias realizadas.

Além do longo percurso da reabilitação, a família de Jéssica iniciou a procura por uma chance de cirurgia reparadora crânio-facial. A princípio, buscaram as possibilidades particulares, o que se mostrou impossível devido ao preço do procedimento, cerca de R$ 130 mil para um material que era uma resina à base de metacrilato, amplamente usada na medicina. Assim, decidiram pedir a colaboração por meio de doações daqueles interessados em ajudar na campanha, inclusive nas redes sociais.
 
"Quero voltar para casa e poder agradecer na igreja, rever meus amigos, ir ao shopping e terminar minha faculdade", comenta a jovem em seu leito no 5° andar do HC da Unicamp. O médico Paulo Kharmandayan explica que ela deverá permanecer no hospital por mais alguns dias antes da alta. Sempre acompanhada da mãe, Evani Cussioli, após a alta Jéssica deverá retornar ao hospital em 30 dias para uma nova avaliação, que se repetirá ao longo de 12 meses.

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Assista mais na matéria do Bom Dia Brasil aqui
Assista mais em matéria veiculada pela EPTV Campinas aqui
Leia mais na matéria do Portal G1 Campinas aqui
 

Comentários

parabenizar todos pelo sucesso e dizer q fiquei mt feliz pela jovem pois, vivo com uma deformidade desde de q nasci a 43 anos e imagino a a felicidade dela mais uma vez parabéns a toda a equipe envolvida

Email: 
jeanmaraka@hotmail.com