Anne Cheng discute reapropriação
da herança cultural da China

28/04/2015 - 11:30

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Anne Cheng

Anne Cheng

André Furtado, professor do IG e membro do Grupo de Estudos Brasil-China do Penses

André Furtado, professor do IG e membro do Grupo de Estudos Brasil-China do Penses

Professora do Collège de
France discorreu
sobre a
percepção da tradição chinesa


A China passa por um momento de reapropriação de sua herança cultural tradicional e a difusão desses valores no mundo faz parte de uma estratégia que inclui a criação dos Institutos Confúcio, afirmou ontem na Unicamp a professora francesa Anne Cheng, do Collège de France, especialista em história intelectual da China e confucionismo. A palestra integra a programação da Semana Acadêmica sobre a China, organizada pelo Grupo de Estudos Brasil-China do Fórum Pensamento Estratégico (Penses) e que acontece até quarta-feira (29), no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).

Em sua segunda visita ao Brasil, Cheng lembra que quase não havia interesse acadêmico sobre a China no Brasil em 2008, quando esteve no país para lançar a tradução em português de seu livro “História do Pensamento Chinês”. Segundo ela, a China está mais presente no Brasil atualmente e isso pode ser atestado pelo crescimento no número de Institutos Confúcio pelo país. Na semana passada, foi inaugurado em Campinas o Instituto Confúcio da Unicamp, que já conta com mais de cem alunos nos cursos de mandarim.

Atuando há três décadas no ensino e pesquisa sobre a história intelectual chinesa, Anne Cheng discorreu em sua palestra no Auditório do IEL sobre a percepção dos chineses de sua cultura e de seu lugar no mundo ao longo dos séculos. A professora afirmou ser “impossível” dissociar a China do conceito de “centro”. Em mandarim, o nome do país é representado pela expressão “zhongguo”, que significa “país do meio” ou “império do centro”, em tradução livre.

Segundo ela, essa representação está fortemente presente desde o princípio do século XIII antes de Cristo. “Por mais de 2000 anos a China não se considerava apenas o centro do mundo, mas o império chinês muito modestamente se considerava simplesmente ‘o mundo’”, declarou Cheng.

A professora do Collège de France também abordou a influência que a China exerceu em seu entorno na Ásia, como na Coreia e no Japão, que adotaram seu sistema de escrita, ou no Vietnã, que incorporou o taoísmo. “Somente em meados do século XIX a China começou a enviar representações diplomáticas para outros países e começou a deixar de se achar como uma nação em meio a outras”, concluiu.

Anne Cheng encerra amanhã as atividades da Semana Acadêmica sobre a China com a conferência “O debate de ideias na China contemporânea”, às 16 horas, no IEL, onde falará também sobre a importância do confucionismo no pensamento chinês. A Semana Acadêmica sobre a China conta com o patrocínio do Consulado da França em São Paulo, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) da Unicamp. Tem ainda o apoio do Instituto Confúcio e da Secretaria de Eventos do IFCH.