Fairtrade (comércio justo)
na cafeicultura é tema de
fórum organizado pela Feagri

27/04/2015 - 15:40

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Mesa de abertura do fórum sobre Fairtrade

Mesa de abertura do fórum sobre Fairtrade

Professor Nilson Arraes, organizador do evento

Professor Nilson Arraes, organizador do evento

Celso Vegro (dir) na primeira mesa do fórum

Celso Vegro (dir) na primeira mesa do fórum

“Fairtrade [comércio justo] na cafeicultura brasileira” foi o tema de mais uma edição do Fórum Permanente de Sociedade e Desenvolvimento, esta organizada pela Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) no Centro de Convenções, nesta segunda-feira – os Fóruns Permanentes são uma iniciativa da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). Levando em conta que as unidades de produção de café no Brasil são predominantemente familiares, e que a desregulamentação do setor nos anos 1990 fez com que esses agricultores tivessem sua forma de reprodução social ameaçada, o fórum procurou discutir o grau de adesão a este sistema criado para apoiá-los financeiramente. 

“A ideia principal do Fairtrade é promover relações comerciais que diminuam a desigualdade entre agentes de uma cadeia produtiva. Particularmente na cadeia da agroindústria, o lado mais frágil é dos agricultores com base familiar. A proposta é elevar o custo do produto e reverter este diferencial de preço para a promoção da sobrevivência e reprodução dos cafeicultores familiares”, explica Nilson Modesto Arraes, professor da Feagri e organizador do evento. “Subliminarmente, a certificação Fairtrade implica qualidade – sem a qual o consumidor não aceitaria pagar mais caro por um produto – e adoção de práticas agrícolas sustentáveis.” 

Segundo Arraes, o fórum, tendo como foco a produção do café, foi estruturado em quatro mesas, a primeira oferecendo um painel da cafeicultura familiar e sua ordem de grandeza econômica inclusive em escala mundial. O sistema Fairtrade na cafeicultura, especificamente, seria discutida a partir da segunda mesa, com informações sobre a adesão à certificação no Brasil. “Esse sistema está em prática há quase uma década, mas até agora a produção tem sido levada ao mercado externo. Recentemente, a Fairtrade International constituiu um escritório no Brasil e começa-se a comercializá-la internamente”, acrescentou o organizador do evento, que também teve convidados internacionais em mesas para avaliar o impacto dos programas de certificação. 

Antes de participar do primeiro debate do dia, Celso Rodrigues Vegro, pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA), adiantou que trazia bases de dados do IBGE e do Estado de São Paulo que permitiram mapear a cafeicultura familiar no país, tanto de produtores da espécie arábica como de robusta. “A cafeicultura familiar tem bastante expressão em quantidade de propriedades, respondendo por quase 70% da base produtiva, mas em termos de produção e de valor desta produção, fica sensivelmente abaixo da cafeicultura empresarial em grande escala. Entretanto, também é expressiva sua importância em número de ocupações, tanto da unidade familiar como de pessoal agregado e permanente, comparando com a agricultura empresarial.” 

Celso Vegro considera que as comunidades que se organizaram em associações e cooperativas estão bem arranjadas em termos de produção de café e preço de comercialização, e que as certificações em geral são bem vindas, como as de produtos orgânicos, de boas práticas agronômicas e “gourmet”. “A Fairtrade é uma das certificações mais interessantes por trabalhar com o processo de comercialização, visando atender às demandas de desenvolvimento social destas comunidades, sem se preocupar apenas com a bebida ou uso de agrotóxicos. Uma grande falha do Brasil é que se criaram políticas de inclusão das classes D e E, com muitos da população urbana ascendendo socialmente, mas existe grande parcela de agricultores que ainda não são classe média, permanecem como pobres rurais.”