O professor e historiador Pedro Paulo Abreu Funari, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp, lançará em março, durante a II Semana de Arqueologia da Unicamp, dois livros em inglês dos quais foi coorganizador. Uma das obras trata da escravidão africana na América Latina e a outra aborda o tema do contato entre as diferentes culturas presentes nas Américas Espanhola e Portuguesa no período de colonização. Os volumes, produzidos pela Springer, editora alemã com atuação global, são compostos por artigos assinados por especialistas de diversos países, entre eles os latino-americanos e os Estados Unidos.

Os títulos dos livros são Archaeology of Culture Contact and Colonialism in Spanish and Portuguese America e Current Perspectives on the Archaeology of African Slavery in Latin America. No primeiro volume, que também contou com a organização da argentina Maria Ximena Sanatore, da Universidade de Buenos Aires, 23 autores abordam aspectos relacionados ao contato entre culturas distintas [indígena, europeia e africana] durante o período de colonização dos países americanos por portugueses e espanhóis.

Uma das consequências dessa relação, observa Funari, foi o surgimento de civilizações mescladas, cujos constituintes exerceram e sofreram influências mútuas. “Um exemplo foi a difusão para a Europa de alimentos próprios da culinária indígena, como o milho e a mandioca”, afirma. O título também trata, conforme o coordenador do Nepam, das diferenças e semelhanças entre os dois modelos de colonização.

Uma diferença que ainda pode ser constatada, graças aos vestígios materiais ainda existentes, está na forma como portugueses e espanhóis construíam suas cidades. Os primeiros seguiam a topografia do território e os segundos erguiam os edifícios de forma mais planejada. “As casas portuguesas normalmente tinham as janelas voltadas para as ruas, enquanto que nas espanholas as janelas eram voltadas para um pátio interno”, acrescenta Funari.

O outro livro, que soma 13 autores, contou com a coorganização do norte-americano Charles Orser Jr, da Vanderbilt University. O tema principal da obra é a escravidão na América Latina. “Embora os Estados Unidos também tenham a sua história marcada pela escravidão, na América Latina o fenômeno tem características próprias. Lá, houve maior segregação dos negros. Aqui, foi estabelecido um sistema de mestiçagem desde o início”, pontua o historiador.

As diferenças não param por ai. Segundo Funari, nos Estados Unidos os escravos viviam em cabanas com suas famílias. No Brasil, por exemplo, eles viviam coletivamente em senzalas. “Além disso, aqui o quilombo sempre esteve mais presente. Alguns foram implantados próximos a cidades. No território norte-americano, foram construídos em áreas pantanosas, o que fez com que muitos vestígios desse modelo de organização se perdessem ao longo do tempo”, detalha.

A publicação dos dois livros em inglês, entende Funari, abre a oportunidade de levar informações sobre a história dos países latino-americanos para o restante do mundo. “Embora norte-americanos e europeus tenham interesse sobre esses temas, eles ainda demonstram grande desconhecimento sobre a geografia e a história da América Latina em geral e do Brasil em particular. Nosso esforço é no sentido de contribuir para a superação dessa realidade”, explica.

Os dois livros podem ser adquiridos diretamente no site da editora Springer, nestes endereços: https://www.springer.com/social+sciences/anthropology+%26+archaeology/book/978-3-319-08068-0 e https://www.springer.com/social+sciences/anthropology+%26+archaeology/book/978-1-4939-1263-6. Outras informações sobre a II Semana de Arqueologia da Unicamp podem ser obtidas neste link: https://www.lapvirtual.org/ev.-ii-semana-de-arqueologia-1.html.