Edição nº 615

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 21 de novembro de 2014 a 30 de novembro de 2014 – ANO 2014 – Nº 615

Prevenção, informação e convívio são a base do ‘Campus Tranquilo’

Debates, transparência e envolvimento da comunidade marcam a elaboração do programa

Nos últimos meses foram realizadas mais de vinte reuniões com a participação da comunidade universitária, nas unidades de ensino e pesquisa e órgãos da administração, para discutir a construção do Programa Campus Tranquilo. De acordo com o professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp e do Programa, a base da proposta é transformar os campi da Universidade em espaços tranquilos que permitam que a dinâmica da vida universitária se realize. “Esta proposta está sendo construída de forma transparente e participativa. Durante as reuniões muitas sugestões foram apresentadas e a proposta foi sendo construída a partir destes debates. A cultura da paz proposta pela ONU, a prevenção primária e a vigilância comunitária foram adotadas como premissas do programa e ao longo dos debates as diferentes proposições foram consolidando um tripé de sustentação da proposta: prevenção, informação e convívio.”

A última reunião foi organizada em conjunto com as entidades representativas dos estudantes (DCE), dos funcionários (STU) e dos docentes (Adunicamp) e agora o Campus Tranquilo será apresentado ao Conselho Universitário (Consu). “A ideia é adotar a prevenção como elemento estruturante das ações de segurança, compreendendo intervenções imediatas, como melhoria da iluminação dos campi, ajustes na cobertura vegetal, instalação de bases fixas e móveis de apoio à comunidade; e ações de mais longo prazo, como treinamento e capacitação do corpo de vigilantes em temas operacionais (primeiros-socorros, aumento do uso de tecnologia da informação e de monitoramento), até temas de maior profundidade como direitos humanos”, explica Alvaro Crósta.

O coordenador-geral da Universidade prossegue explicando que o segundo eixo, o da informação, está voltado a criar canais para facilitar a comunicação da comunidade, tanto para aspectos de segurança quanto de convívio. “A meta é permitir o uso de sistemas Wi-Fi na maior parte das áreas comuns e apoiar estas interações com sistemas APPs para celulares. O resultado será a criação de canais de comunicação da comunidade entre si e com a administração central. Para o eixo convívio, a proposta é ocupar os campi com atividades culturais e esportivas. Quanto maior o uso pela nossa comunidade, maior será a ocupação e apropriação dos espaços e, com isso, a redução da sensação de vulnerabilidade e dos problemas relacionados à segurança. Estamos criando eventos em diferentes espaços e horários do dia e, também, academias ao ar livre para incentivar a prática de exercícios físicos.”

Alvaro Crósta recorda que, embora a Unicamp não apresente um quadro agudo de insegurança como em outros campi do país, em um período de 12 anos quatro jovens já perderam a vida em dependências da Universidade, em Campinas e em Limeira. O caso mais recente foi do aluno de engenharia mecânica Denis Papa Casagrande, em setembro de 2013, durante festa no Ciclo Básico. As outras vítimas foram Luiz Felipe Fischer, em 2002, Elgin Tito Borges Junior, em 2003 e Daniel Pereira, também em 2003. “Fatos trágicos como estes, ainda que isolados, transmitem para as pessoas a sensação de insegurança. Acreditamos que o tributo mais significativo que podemos prestar ao Denis e aos demais jovens vitimados é a adoção de medidas preventivas para que tais fatalidades não se repitam no futuro. Se não agirmos logo, e com medidas de prevenção, poderemos vir a ter problemas similares aos de outras universidades que sofrem com a alta incidência de casos de violência.”

 

Participação da comunidade

De acordo com o professor, levantamentos mostram que os problemas de segurança são semelhantes tanto em países com o nosso grau de desenvolvimento, como também da Europa e América do Norte. “São as soluções adotadas que dependem das características locais. Por exemplo: não defendemos, nem temos amparo legal para adotar a solução norte-americana de uma polícia do campus armada, pronta para agir em qualquer situação de violência. Os mesmos estudos mostram que o sucesso do plano de prevenção depende fundamentalmente da participação da comunidade universitária na sua elaboração e execução. Falamos de uma população extremamente crítica na análise da realidade e junto à qual soluções acabadas não têm êxito.”

O coordenador do programa observa que uma das premissas traçadas nas reuniões está na prevenção primária e na vigilância comunitária. “Tanto a instituição como cada aluno, funcionário, docente e usuário do campus devem adotar comportamentos simples e de ordem preventiva em seu dia a dia. Ao passo que a vigilância comunitária tem na raiz a parceria entre a comunidade e o corpo de vigilantes que cuidam da prevenção. A estratégia é baseada em ações proativas, preventivas e educativas. Por meio delas devemos oferecer respostas rápidas e eficientes para situações de risco ou de violência. Os focos estão na prevenção de crime e, ao mesmo tempo, na total garantia das liberdades civis, o que significa prevenção da integridade física e da dignidade das pessoas, assim como a preservação do patrimônio público e do meio ambiente.”

Ele enfatiza que não há necessidade de contar com a presença ostensiva da polícia no campus, mas que, por outro lado, ela precisa ser acionada no caso de ocorrências criminosas. “Um exemplo foi a recente e frustrada tentativa de explosão de um caixa eletrônico no Ciclo Básico, testemunhada e denunciada à vigilância por estudantes, na qual a polícia, acionada pela vigilância, teve que agir, inclusive com a vinda de uma equipe antibomba para desarmar um artefato deixado pela quadrilha. Isso porque o papel dos vigilantes é preventivo, sem poder de atuar diretamente contra o crime. Mas vale destacar que a atuação da Vigilância vai além da questão patrimonial, pois a própria presença desses profissionais contribui para a integridade da comunidade. Por isso, nossos vigilantes devem ser vistos e tratados pelos membros da nossa comunidade como aliados, o que de fato são na prevenção à violência contra as pessoas”.

 

Novas ações em curso

Na opinião de Alvaro Crósta, as mais de duas dezenas de reuniões para construir o Campus Tranquilo ofereceram um bom feed-back para revisão de certos procedimentos e divulgação de outros que a comunidade desconhecia. “É o caso, por exemplo, da solicitação de escolta no período noturno, por quem precisa caminhar certa distância até o carro ou ponto de ônibus – poucos sabiam deste serviço que já existia e a demanda aumentou depois das reuniões. Também nas reuniões foi apresentada a demanda para que o ônibus circular noturno, que não realizava paradas no trajeto até a Moradia Estudantil, atendesse alunos que moram em repúblicas pelo caminho. Era uma medida simples e as paradas intermediárias já foram implantadas.”

Entre as novas ações preventivas em curso citadas pelo coordenador-geral da Unicamp está a tratativa para instalação de uma unidade do Corpo de Bombeiros no campus, que vai atender também ao distrito de Barão Geraldo; e a criação pelo Cecom (Centro de Saúde da Comunidade) do Serviço de Atendimento às Urgências, com ambulância equipada e equipe treinada. Também se encontra em negociação um aditivo ao convênio assinado entre Unicamp e Prefeitura Municipal para que a Cimcamp (Central Integrada de Monitoramento de Campinas) colabore com o monitoramento inteligente do fluxo veicular nas entradas e saídas da Universidade; a medida visa identificar veículos suspeitos, como já é feito em diversas cidades da região metropolitana.

Em relação ao tripé que estrutura o Campus Tranquilo, Alvaro Crósta explica que o eixo da prevenção tem como órgão responsável a Prefeitura da Unicamp; o eixo da informação fica a cargo da CTIC (Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação); e o de convívio com a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), órgão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. “A metodologia participativa na construção do programa e no seu desenvolvimento, nos permite incorporar ao conceito de ‘Campus Tranquilo’ o de uma ‘Universidade Viva’, como foi sugerido por membros da comunidade. A mudança no nome transmite bem o nosso pensamento: para que tenhamos uma universidade viva, é preciso ter um ambiente de tranquilidade.”

 

Continua nas páginas 6 e 7