"Accountability" é discutida
em seminário internacional

29/10/2014 - 11:45

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Convidados internacionais

Convidados internacionais

Professor José Dias Sobrinho

Professor José Dias Sobrinho

Professor Julio Hadler

Professor Julio Hadler

Montagner e José Dias, idealização do evento

Montagner e José Dias, idealização do evento

Atvars, Montagner e José Dias

Atvars, Montagner e José Dias

Participantes do evento

Participantes do evento

Professor Almerindo Janela Afonso

Professor Almerindo Janela Afonso

Convidados do seminário internacional

Convidados do seminário internacional

O livro Por uma Univercidade Anticonformista

O livro Por uma Univercidade Anticonformista

Accountability é um termo semanticamente impreciso e não existe em português outro vocábulo que defina a sua interação com a avaliação, a prestação de contas e a responsabilização, pilares sobre os quais ela se assenta. Tal conceito, opina o docente da Universidade do Minho, Portugal, Almerindo Janela Afonso, tem sido oculto nas lógicas do pensamento único e neoliberal. Nos discursos que têm este viés, o significado de accountability indica uma forma hierárquico-burocrática, gerencialista, de prestação de contas que dá relevo a consequências ou imputações negativas. Consolidam formas autoritárias de responsabilização das instituições, organizações e indivíduos. A representação social que acentua seu caráter punitivo tem sido um obstáculo à conceitualização de formas mais avançadas de accountability.

Esse tema foi apresentado em mesa-redonda no contexto do Seminário Internacional: Universidade e Sociedade do Conhecimento, realizado nesta quarta-feira (29) na sala do Conselho Universitário (Consu) da Unicamp. O evento, organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses) e idealizado pelo professor José Dias Sobrinho e pelo chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner, deu destaque a assuntos como as novas tecnologias, a formação do profissional de educação, além da visão mercadológica e as principais transformações nos modos de produção e distribuição do conhecimento, a partir de visões filosóficas, sociológicas e históricas.

Ao longo do dia, fizeram parte do debate, além de Almerindo Janela Afonso, Axel Didriksson Takanayagui, da Universidade Nacional Autônoma (México); Jorge Olímpio Bento, da Universidade do Porto (Portugal); Carlos Cullen, da Universidade Nacional de Buenos Aires (Argentina); Norberto Fernández Lamarra, da Universidade Três de Fevereiro (Argentina); Maria Isabel da Cunha, da Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos-Brasil); e Augusto Perez Lindo, da Universidade Nacional de Mar del Plata (Argentina).

De acordo com Almerindo, há hoje vários modelos de accountability: o modelo burocrático (lógica do controle hierárquico), o modelo profissional (lógica da autonomia); o modelo gerencialista (lógica da centralidade da gestão), o modelo de mercado (lógica dos direitos do consumidor); o modelo comunitário (lógica da reciprocidade); o modelo social (lógica da cidadania ativa e o modelo híbrido (que combina as várias lógicas). O palestrante fez uma abordagem crítica a fim de chamar a atenção para configurações mais democráticas. O convidado salientou que, apesar de prevalecer um ranço negativo, é necessário lembrar que há outras alternativas de accountability e que não há razão para não fazer esse resgate reflexivo. Não é uma problemática política, social e educacional que deva continuar capturada ou confinada.

Para uma conceituação alternativa de accountability em educação, frisou, é preciso que a avaliação seja pensada de um modo participativo, que a prestação de contas se baseie na democracia deliberativa proposta por autores como Howe e Ashcra (2005) e que a ética da responsabilidade pondere as consequências das ações.

Ao falar sobre os pilares da accountability, Almerindo comentou que a avaliação corresponde à coleta de dados e informações com o objetivo de fazer juízos de valor sobre os atos realizados ou decisões tomadas. “A avaliação é complexa, pode começar antes mesmo de ser iniciada formalmente e pode estar presente em todos os momentos do processo”, afirmou. Ele também definiu prestação de contas como a exposição dos argumentos e a responsabilização como consequência dos atos praticados ou decisões tomadas, podendo implicar sanções negativas ou, ao contrário, podendo gerar prêmios, recompensas e bônus. "Mas é mais natural que contemple sanções negativas".

O evento
Participaram da abertura do Seminário Internacional a pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars, o chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner, o coordenador do Penses Júlio Hadler e o docente aposentado da Faculdade de Educação (FE) José Dias Sobrinho, que é professor titular do curso de pós-graduação da Universidade de Sorocaba (Uniso) e que foi pró-reitor de pós-graduação da Unicamp. José Dias contou que esse seminário é uma extensão de outro ocorrido há pouco na Uniso, em Sorocaba, onde ele atua. "Entendemos que seria uma grande oportunidade trazer o tema sobre formação através do conhecimento, da sociedade do conhecimento ou da economia do conhecimento, pois está inserido na agenda internacional e é de grande relevância. Reunimos aqui acadêmicos que são feras em suas áreas", situou. Paulo Cesar Montagner relatou que esse projeto foi desenhado com a ideia de trazer professores da América Latina para uma discussão ampla.

Julio Hadler destacou que o Penses tem procurado olhar criticamente assuntos candentes na sociedade e que a tornam mais civilizada. Ele citou alguns fóruns que o órgão promoveu, como o fórum acerca de um reator que está sendo construído em Iperó, interior de São Paulo; dois fóruns voltados ao ensino médio, trazendo professores e diretores de escolas; um fórum sobre o pré-sal, realizado em conjunto com o Instituto de Geociências (IG); um fórum de violência contra a mulher, que terá nova edição em novembro; um fórum sobre esportes; e um fórum sobre despatologização.

Teresa Atvars, que representou o reitor José Tadeu Jorge no evento, comentou ser uma ironia as expressões sociedade do conhecimento e economia do conhecimento. "É a situação das universidades hoje. Estamos caminhando para um conhecimento econômico. O desafio da universidade brasileira é formar rapidamente sem fornecer formação. Estamos diante de um dilema imposto pela sociedade do conhecimento, principalmente nos países mais periféricos", ressaltou.

Livro
O professor Jorge Olímpio Bento, docente da Universidade do Porto, Portugal, lançou durante o Seminário Internacional a obra Por uma Univercidade Anticonformista, editado pela Casa da Educação Física em parceria com a Unicamp e o Penses. O livro, cuja apresentação é feita por Paulo Cesar Montagner, é um manifesto sobre as práticas das universidades contemporâneas.

Jorge Bento foi pró-reitor da Universidade do Porto na década de 1990. Desempenhou as funções de presidente do Conselho Superior do Desporto de Portugal de 2001 a 2002 e foi vereador do Pelouro do Desporto da Câmara Municipal do Porto (1997-1999). É autor de diversas publicações na área do Desporto e preside o conselho diretivo da Universidade do Porto, sendo responsável pela regência da cadeira de Pedagogia do Desporto nos cursos de licenciatura e de mestrado.