Escolas superam dificuldades
no ensino de ciências

03/10/2014 - 15:55

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Professora Adriana Antunes Néspoli, da Escola Estadual João Lourenço Rodrigues

Professora Adriana Antunes Néspoli, da Escola Estadual João Lourenço Rodrigues

Professora Elizabeth Balbachevsky, coordenadora do Grupo de Estudos em Educação do Penses

Professora Elizabeth Balbachevsky, coordenadora do Grupo de Estudos em Educação do Penses

Professor Fábio Lobo Mota, da Escola Estadual Toufic Joulian

Professor Fábio Lobo Mota, da Escola Estadual Toufic Joulian

Professor Jonas Evaristo Ferreira, da Escola Estadual Toufic Joulian

Professor Jonas Evaristo Ferreira, da Escola Estadual Toufic Joulian

Professor Julio Cesar Hadler Neto, coordenador do Penses

Professor Julio Cesar Hadler Neto, coordenador do Penses

Professor Luiz Alberto Rocha de Lira, coordenador geral de Programas e Cursos em Educação a Distância da Capes

Professor Luiz Alberto Rocha de Lira, coordenador geral de Programas e Cursos em Educação a Distância da Capes

Professora Silvana Bellamonica Bacurau, da Escola Estadual João Lourenço Rodrigues

Professora Silvana Bellamonica Bacurau, da Escola Estadual João Lourenço Rodrigues

Iniciativas bem-sucedidas de professores de ciências de Ensino Médio que conseguiram se destacar em meio às adversidades da educação pública brasileira foram apresentadas nesta sexta-feira (3), durante o II Fórum Ensino Médio Público no Brasil: os desafios no ensino de ciências. O evento realizado na Unicamp reuniu docentes, pesquisadores e profissionais do setor educacional em debates sobre experiências práticas em sala de aula e sobre como políticas públicas podem ajudar a buscar melhores resultados no ensino de física, química, biologia e matemática. 

O encontro avançou na discussão promovida em maio, na primeira edição do Fórum Ensino Médio Público, que destacou o papel da gestão das escolas na formação do aluno. Desta vez, três escolas dos municípios de Campinas, Carapicuíba e Cocal dos Alves, no Piauí, trouxeram para a universidade suas estratégias para despertar o interesse dos estudantes nas disciplinas de ciências.

Durante a abertura do encontro, o professor Julio Cesar Hadler Neto, coordenador do Penses, lamentou que a má formação proporcionada pelas escolas esteja levando os estudantes a vislumbrar um futuro sem perspectivas profissionais. Ressaltando o êxito dos modelos de gestão mostrados na primeira edição do Fórum Ensino Médio Público no Brasil, afirmou: "não é preciso fazer milagres, é preciso valorizar quem está perto de você, principalmente os professores". "É preciso trabalho, coordenação, gestão e valorização do material humano que está na escola", enumerou Hadler.

A Escola Estadual João Lourenço Rodrigues, de Campinas, como muitas outras unidades da rede pública, se depara com alunos que chegam ao Ensino Médio com uma grave defasagem de conteúdo do Ensino Fundamental. Um dos obstáculos para os estudantes acompanharem adequadamente as matérias de ciências decorre da grande rotatividade de professores, explicou Silvana Bacurau, professora de química da escola campineira. "Quando há um acompanhamento, é possível dar uma continuidade ao trabalho e ajudar aqueles que têm mais dificuldades", afirmou.

Situada em Carapicuíba - sexto município mais pobre do país entre as cidades com mais de 80 mil habitantes, segundo o IBGE -, a Escola Estadual Toufic Joulian soma cerca de dois mil alunos. Por esse motivo, o acompanhamento individual e o diagnóstico de dificuldades dos alunos são tarefas particularmente mais difíceis de serem trabalhadas. Para lidar com esse quadro, a saída encontrada foi criar normas de convivência, debatidas entre professores, alunos e familiares. Neste contrato de convivência, por exemplo, é estipulado o tempo que o aluno deve dedicar diariamente aos estudos em casa.

De acordo com Fábio Mota, professor de matemática da E.E. Toufic Joulian, é necessário um esforço extra para suprir a defasagem de conteúdo, como ensinar assuntos da sexta série do Ensino Fundamental aos primeiros anos do Ensino Médio. "Temos que trabalhar um processo de recuperação dos alunos", disse Mota. "Não podemos somente focar no livro didático, temos que promover uma complementação", explicou. "O processo de recuperação começa no primeiro ano, com um diagnóstico, passa pelo segundo e continua no terceiro ano." Para auxiliar nessa complementação, o professor mostra aos alunos como ter acesso a aulas de matemática em vídeos na internet. Durante palestra na Unicamp, Mota relativizou os avanços obtidos. "Quando se fala em sucesso, eu fico preocupado. É sucesso, mas é uma melhoria baixa, ela precisa ser melhor que isso.

Professor de química na mesma escola da Região Metropolitana de São Paulo, Jonas Ferreira lembrou que é muito comum o aluno chegar desacreditado sobre a função social da escola. Para ele, é papel do professor exigir que o estudante seja obediente e respeitoso, mas não dócil, e que questione o espaço escolar e o próprio professor. Em relação aos avanços obtidos na sua escola, Ferreira ressalta como eles podem potencializar novos resultados: "Quando você está em uma situação de penúria e alguém vem e diz que você pode, isso é sucesso".

O professor Antonio Cardoso do Amaral, da Escola Estadual de Ensino Médio Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves, mostrou como o comprometimento do corpo docente, com gestores e alunos, levou à obtenção de ótimos resultados na área de ciências. Mesmo limitados pelos recursos escassos de um pequeno município do interior do Piauí, os professores da Augustinho Brandão conseguiram estimular seus alunos a participar de olimpíadas escolares, com destaque para áreas de exatas.

"Nosso maior sucesso foi a conquista do aluno. Em determinado momento, os convencemos a estudar, mesmo sem dispormos de recursos tecnológicos", destacou Amaral, complementando que a escola já conta com 186 premiações na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), dez medalhas na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas, entre outros títulos.

Formação continuada
O professor Maurício Kleinke, do Instituto de Física "Gleb Wataghin" (IFGW) da Unicamp, apontou que, no ensino das ciências da natureza, a maioria dos professores não é licenciada nas áreas de conhecimento em que leciona. O Censo Escolar de 2012 revelou que, dos 2,1 milhões de docentes que atuam em todas as áreas da Educação Básica do país, 22% não possuem formação adequada e apenas 48,3% possuem licenciatura na área em que atuam.

Segundo Kleike - que organiza programas de formação continuada para professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio -, o problema está na falta de políticas públicas que atraiam esses profissionais para as escolas, já que a carreira apresenta problemas salariais e de condições de trabalho. O físico da Unicamp é favorável a uma expansão do investimento na formação continuada, pois estimula o professor pela oportunidade de troca de experiências e pela pontuação na carreira. Além disso, diz Kleike, ela proporciona elementos para aprimorar o ferramental dos não licenciados na área que atuam.

Essa função de qualificação e requalificação dos docentes da rede pública pode e deve ser desempenhada pelas universidades de pesquisa no Brasil, defende a professora Elizabeth Balbachevsky, coordenadora do Grupo de Estudos em Educação do Penses e uma das organizadoras do Fórum. Para ela, esse é "um papel central da universidade na sociedade do conhecimento", apesar de as instituições de pesquisa apresentarem "muita dificuldade para alcançar a realidade da sala de aula".

Também participaram do Fórum os professores Luiz Alberto de Lira, da Diretoria de Educação à Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), Maria Inês Martins, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, e Adriana Nespoli, da E.E. João Lourenço Rodrigues. O evento foi organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses), da Unicamp.