Membro da ABC defende
reforma no ensino superior

30/09/2014 - 15:18

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 Luiz Davidovich e a reforma do ensino superior

Luiz Davidovich e a reforma do ensino superior

Palestra foi no auditório do Imecc

Palestra foi no auditório do Imecc

"O estudante precisa imaginar"

Está na hora das universidades brasileiras mudarem e muita coisa precisa ser feita, a começar pela redução drástica da carga horária dos alunos, considerada excessiva. As afirmações são do professor Luiz Davidovich, titular no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos diretores da Academia Brasileira de Ciências (ABC), onde milita por uma reforma do ensino superior. Davidovich esteve na Unicamp na segunda-feira (29) para uma palestra sobre "Conservadorismo e reforma: desafios para a universidade brasileira", oferecida no Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp. Vídeo

O professor trouxe as principais discussões do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, realizado entre os dias 22 e 24 de setembro, na sede da ABC no Rio de Janeiro. “O simpósio representou a continuidade de um trabalho que temos feito ao longo dos anos e que começou em 2004 com a publicação de um livreto intitulado ‘Subsídios para a reforma da educação superior’ e que teve consequências importantes no cenário da educação nacional especialmente no que se refere a novas instituições”. Segundo Davidovich, pelo o menos uma universidade jovem foi inspirada nas ideias do livreto, resultado de um grupo de estudos coordenado por ele.

Entre os pontos principais apontados pelo professor está a necessidade de diversificar as instituições para que atendam diferentes vocações regionais ou de seu corpo docente. “Poderíamos ter instituições mais voltadas para a pesquisa, outras mais para a formação de professores, outras ainda com foco na formação profissional e técnica de seus alunos. Esse modelo já é adotado por vários países do mundo”, pondera Davidovich. Em relação a carga horária, o professor salienta que frequentemente o estudante tem que seguir nove disciplinas por semestre, o que tornaria uma formação mais ampla inviável.

“Não se pode dizer que o estudante aprende com essa carga. De fato resta praticamente nenhum tempo para cursos eletivos que podem acelerar estudantes que são muito bons ou ajudar o que tem dificuldades”. O acadêmico ainda mencionou que a política de cotas ou aumento no número de vagas nas universidades públicas, embora sejam direções importantes para o Brasil, precisam obedecer a determinadas condições e uma delas seria a redução drástica da carga horária dos cursos ou disciplinas obrigatórias.

Desse modo os estudantes poderiam “substituir cursos por percursos individualizados como ocorre nos Estados Unidos ou na China que são países que objetivam ter uma universidade a altura do contemporâneo”. Davidovich ressaltou os sucessos obtidos pelas universidades brasileiras que originaram importantes instituições como Embrapa, Embraer ou Petrobrás. “Por isso mesmo chegamos ao patamar em que é necessário dar uma parada e rever o que for feito, almejando novos horizontes”, disse.

De acordo com o professor, formar estudantes ultra especializados “é querer formar estudantes que, no momento mesmo da sua formatura, já vão estar desatualizados. A aceleração do conhecimento no mundo contemporâneo é tamanha que você tem que formar pessoas que possam se adaptar rapidamente as novidades do conhecimento”. Davidovich acrescentou que a defesa pela reforma do ensino superior pressupõe flexibilidade curricular, formação básica de qualidade e a possibilidade de transmitir aos estudantes “ideias de inovação ou invenção”.

“Possibilitar que nossos estudantes inventem, imaginem... para tanto não basta ter uma formação especializada. É preciso saber o que está acontecendo em várias áreas. O estudante de ciências exatas, por exemplo, precisa aprender matemática e física, mas também precisa saber o que está havendo na história do mundo, um pouco de economia, ciências sociais ou literatura porque isso estimula a imaginação e nós queremos uma formação de ensino superior mais completa e integral”, frisou.

A palestra foi no auditório do Imecc. Davidovich desenvolve pesquisas nas áreas de ótica quântica e informação quântica, além de atuar como representante da comunidade científica em vários conselhos. Foi o Secretário-Geral da IV Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em 2010. É membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS) e é membro estrangeiro da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos da América. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2000, o Prêmio de Física da TWAS em 2001, o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia Almirante Álvaro Alberto em 2010, e a Medalha Tamandaré, da Marinha do Brasil, também em 2010. É Fellow da Optical Society of America.