O sonho que é sonhado junto
na Unicamp de Portas Abertas

30/08/2014 - 10:24

O ideal do jovem que deseja ter um futuro profissional e que ainda não ingressou na universidade é conseguir passar no vestibular de uma instituição que melhor se conforme às suas condições. Ele estuda, se dedica e inúmeras vezes vê sua chance de aprovação indo embora e, com ela, seus sonhos se desmoronando. Na maioria da população, os jovens não têm sequer acesso aos melhores bancos escolares e uma das suas únicas possibilidades é estudar muito, se inteirar do conteúdo do exame e obter aprovação em uma universidade pública. E não é somente isso. Quem passa no vestibular tem que se manter na cidade em que passou, tem que conseguir pagar moradia, comida, transporte e outros gastos que vão se impondo pelo caminho. Assim, cada dia mais esse jovem vai ficando longe de alcançar uma profissão fruto de um bom curso superior. Foi um dos consensos que saíram da boca de jovens que compareceram neste sábado, 30, ao evento Unicamp de Portas Abertas (UPA).

Sabem nomear as dificuldades, mas foram supreendidos com uma boa notícia que, embora já sendo pública, ainda mostraram que não tinham conhecimento. A Unicamp, uma das melhores instituições de ensino superior do país, criou, em 2004, o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais) que bonifica, no vestibular, estudantes que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas. Esses estudantes terão direito a 60 pontos a mais na nota final do vestibular. Já os estudantes de escolas públicas autodeclarados pretos, pardos e indígenas receberão no final da segunda fase, além dos 60 pontos, outros 20 (eram 10) pela cor/etnia, totalizando 80 pontos.
Para a professora de inglês Norma Caires, de Agudos, São Paulo, essa é de fato uma excelente notícia. Ela, que também estudou a vida toda em escola pública e que enfrentou o funil do vestibular de Letras, hoje vive uma situação privilegiada, que é para poucos. A professora reconhece que o quadro é mesmo tenebroso, mas também acredita que a pessoa que deseja frequentar uma universidade não pode se acomodar. "Vejo com tristeza que muitos dos meus alunos nem fazem planos. Lamentavelmente vão viver o que a vida ditar", conta. Ela exemplifica: "tenho dois alunos no ensino médio que são excelentes desenhistas, talentos legítimos. E daí? Dificilmente conseguirão fazer uma universidade e colocar em prática seus dons".

É por isso que Norma e outras duas professoras das escolas estaduais Professor Manoel Gonçalves e Professora Nilza Maria Santarém Pascoal trouxeram 26 alunos para conhecer a tradicional UPA, também pensando no incentivo que dariam a eles que, vendo como é a Unicamp, possam focar nos estudos e atingir seus objetivos em um dos 70 cursos de graduação oferecidos nas áreas de Humanas, Exatas, Tecnológicas, Biológicas e Artes. "Essa viagem à UPA é um preâmbulo do futuro, caso eles venham a estudar aqui", diz.
William Manoel Franco e Murilo Duarte, ambos de 17 anos, são da Escola Estadual Maia Frota, de Santa Bárbara D'Oeste. Os dois vieram com uma excursão de 40 jovens, todos na mesma faixa etária. Chegaram com olhar de curiosidade, de quem quer ver mais. Afinal é a primeira vez que conhecem uma universidade, ainda mais desse tamanho. Estavam procurando algo que lhes chamasse a atenção. Decidiram visitar o Instituto de Computação (IC), pois têm a mesma vontade de cursar Ciências da Computação. Murilo fez cursos de Hardware e de TI, e William fez Hardware pelo Senai. Eles próprios correram atrás desses cursos. Ao tomarem conhecimento da iniciativa do Paais, os olhos brilharam. "Quer dizer que temos mais chance de estudar aqui?" Foram surpreendidos com a informação e acreditam que, com boa vontade e estudo, chegarão lá. William já sonha em trabalhar com games. Sempre que pode, seu passatempo predileto é jogar e descobrir as novidades na área.

Beatriz Fusco, Gabriele Lima, Maria Vitória Figueiredo e Ana Flávia Galdino, de 16 anos, e Vinícius Eduardo, 18 anos, vieram de Assis. Saíram de lá às 3 horas da madrugada. Foram seis horas de viagem, amenizada com muita conversa, entremeada com um gostoso lanche. Andavam juntos e não se desgrudavam dos alunos da Escola Estadual Clybas Pinto Ferraz. Ana Flávia acredita que terá boas chances de ingressar na Unicamp. "Sou aluna nota 9, para não dizer 10. Trabalho e estudo. Faço estágio na Caixa Econômica Federal e meu sonho é ser engenheira civil. Quero ter uma imobiliária e uma construtora que levarão o meu nome. O curso me ajudará nesse sonho. Vou fazer de tudo para que consiga isso", contou. "Esse programa da Unicamp é muito importante, pois vejo que estão pensando na gente da escola pública e nos olhando com carinho, não porque não tenhamos algo e sim porque também temos potencial para estudar numa escola de alto padrão", argumenta.

Prestando a atenção ao que disse a colega, Vinicius concordou com tudo e acha que o Paais vai estimular as pessoas a se esforçarem mais. Ele pretende fazer Educação Física na Unicamp e pretende lecionar na educação infantil. "O campo é vasto e a minha vontade é muito grande. O Brasil é carente de profissionais da área de Educação e creio que o esporte é um ponto de integração para conseguir inclusive a tão almejada inserção social", comenta.