Inscrições abertas para curso Gestão
Estratégica de Inovação Tecnológica

26/08/2014 - 13:29

O docente do IG, Ruy Quadros

O curso de especialização em Gestão Estratégica de Inovação Tecnológica, oferecido pela Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp), já tem dez anos de ministração, atingiu mais de 500 alunos e já se prepara para formar uma nova turma, que deve iniciar no mês de março do ano que vem, nas dependências da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU). É ofertado quinzenalmente às sextas-feiras à noite e aos sábados de manhã. Tem como público-alvo profissionais que atuam no setor empresarial. O professor Ruy Quadros, titular do Instituto de Geociências (IG)e responsável pelo curso, fala sobre a busca da inovação pelas empresas brasileiras para aumento da produtividade e competitividade. Veja a seguir entrevista do docente ao Portal Unicamp:

Portal Unicamp - Esse curso existe há quanto tempo? Qual é a ênfase dele?
Ruy Quadros - Completou dez anos e já formou mais de 500 profissionais, entre turmas abertas e fechadas. Sua ênfase está em capacitar as empresas nas práticas de organização de gestão, de processos, de ferramentas, para que se tornem inovadoras ou aperfeiçoem os seus processos de inovação e, ao mesmo tempo, inseri-los e integrá-los a um determinado conhecimento. É levar esse conhecimento do nosso sistema de inovação do Brasil – nosso sistema de ciência e tecnologia e inovação (CT&i).

Portal Unicamp - Qual é a relação candidato-vaga? Quantas vagas estão oferecendo? Quando inicia a próxima turma? 
Ruy Quadros -
Temos uma média de quatro a cinco candidatos por vaga e ofertamos de 30 a 35 vagas. A próxima turma se inicia no final de março de 2015. As inscrições já estão abertas no site da Extecamp, pois realizamos uma seleção dos candidatos ao longo do ano, para depois fazermos a seleção final propriamente.

Portal Unicamp - Qual é a duração do curso?
Ruy Quadros - Ele tem aulas quinzenais às sextas-feiras à noite e aos sábados de manhã. Possui duração de um ano e nove meses, com carga horária de 360 horas. 

Portal Unicamp - O uso das ferramentas abordadas no curso são ainda muito deficientes no setor empresarial?
Ruy Quadros - Sim. Podemos verificar isso sob o aspecto de ferramentas e sob o aspecto de estratégia e organização. No setor empresarial, observa-se hoje uma certa disseminação inicial de certas ferramentas mais tipicamente voltadas ao mercado, táticas, mas muito poucas ferramentas de planejamento estratégico de formulação estratégica, de decisão estratégica e de uma busca de uma inovação proprietária baseada em tecnologias proprietárias que têm uma visão de médio e longo prazo. Então as práticas que têm no mercado são muito curto prazistas, e a gente propõe uma estrutura mais organizada, mais robusta e que trabalha em nível mais estratégico. As empresas têm procurado isso porque hoje elas estão fazendo essa transição do que eu estou chamando de empresa imitadora para a empresa inovadora. Então um aspecto importante do curso é que eu tenho ali um conjunto de gestores em nível de gerência, gerência geral ou diretoria, que são pessoas já bem maduras, com experiência e que estão querendo aperfeiçoar os seus processos ou de fato criarem uma área de inovação. É muito comum chegar uma pessoa no curso que teve como missão nos próximos dois, três anos de criar uma área de inovação na empresa. É mais do que uma área de desenvolvimento de produto. É uma área de inovação. E, como é um desafio comum a vários dos alunos, então o curso também acaba sendo um laboratório para troca de experiências e aprendizado coletivo, visto que estamos trabalhando com profissionais que estão com a "mão na massa", que é um aspecto muito importante.

Portal Unicamp - Qual é a abordagem do curso?
Ruy Quadros - Temos três eixos principais. Tem um eixo focado em processos e ferramentas. Então enfatizamos o que os gestores de P&D, de novos negócios e marketing, envolvidos com inovação, fazem quando estão desenvolvendo produtos, serviços, processos, tecnologia. Então isso passa por ferramentas de inteligência competitiva e tecnológica, ferramentas de gerenciamento de projetos de inovação em P&D, ferramentas de gestão de portfólio, ferramentas de planejamento estratégico de tecnologia e desenvolvimento de produtos e processos, ferramentas de gerenciamento de propriedade intelectual, de valoração de tecnologia, ferramentas de gerenciamento de redes de inovação, de busca e seleção, e gestão de parceiros de cooperação tecnológica. São todos exemplos de aspectos bem-aplicados no sentido do que tem a ver com rotinas que as empresas desenvolvem.

Por outro lado, vem um segundo eixo no qual consideramos que a questão não é somente de ferramenta e técnica. É uma questão de tomada de decisão estratégica. Então a gente trabalha a questão de organização e governança. Abordamos como as organizações que estão voltadas para se tornarem inovadoras, sobretudo tendo liderança em inovação, se estruturam no nível do seu conselho de administração, seus comitês de inovação, das áreas de inovação dessa estrutura decisória e tomada de decisão no nível estratégico, tático e operacional, e também como se estruturam times de inovação multifuncionais para operar esse tipo de projeto. Então temos um plano mais de natureza organizativa e aí é que está o lado humano e de poder da história dentro das organizações.

O terceiro eixo é bastante importante. Como essa é uma área em que não dá para trabalhar só com uma visão dentro da fronteira da empresa (é uma área em que a relação da empresa num sistema mais amplo de inovação é fundamental, seja pelo lado das relações de pesquisa, seja pelo lado da captação de recursos humanos e formação de pessoas, seja pelo lado das políticas de fomento e de mitigação de risco, porque a inovação tecnológica é um tipo de investimento que tem um risco mais alto do que o investimento produtivo regular), então para isso existe uma série de políticas como a Lei do Bem, as políticas da Finep, os programas de subvenção e outros programas como o da Fapesp. Isso tudo o gestor tem que conhecer muito bem, e esse curso trabalha com todas essas dimensões institucionais. Discutimos quem é quem no sistema: o que é o BNDES, a Finep, a Fapesp, quais são os nossos indicadores, quais são as políticas mais importantes e como isso se coloca no contexto do mundo também.

Portal Unicamp - Qual é a novidade para essa nova turma?
Ruy Quadros - Sempre procurarmos trazer elementos novos para os cursos. Um aspecto importante para essa nova turma será uma ênfase na gestão de inovação radical, ou seja, inovações que, além de serem baseadas em tecnologias proprietárias e conhecimentos específicos da empresa, permite você criar negócios inteiramente novos: que dão um salto em termos de um produto ser muito melhor, ou muito mais barato, ou o processo ter muito menos emissões, ou tudo isso junto. 

Portal Unicamp - Qual é a expectativa do curso?
Ruy Quadros - A expectativa é prosseguir com muita procura. Temos percebido que hoje temos sido mais buscados pelas empresas brasileiras que estão se estruturando para serem realmente inovadoras em várias áreas (a diversidade é muito grande). Isso é muito bom porque aprendemos coisas interessantes, por envolver pessoas de outras áreas. As multinacionais também estão se aprofundando em suas atividades e estão pensando em criar uma área de desenvolvimento de produtos e de tecnologia no Brasil, que antes não tinha. Diferente de alguns anos, quando havia mais procura das empresas multinacionais, no momento as empresas brasileiras estão liderando essa busca em nosso curso. 

Portal Unicamp - A inovação é um tema candente que não tem mais retorno?
Ruy Quadros - Acho que sim, mas precisamos ter paciência e levar em consideração que inovação não é só uma questão de incentivos. É uma questão de ambiente. A situação econômica, conjuntura que é realmente amigável da inovação, é o crescimento. Quanto mais crescimento, melhor para a inovação. A nossa economia tem andado um pouco de lado e isso faz com que as coisas fiquem um pouco mais de molho, contudo acho que o que as empresas têm feito é manter as coisas em banho-maria. Ninguém está desmontando o que já tinha feito. 

Portal Unicamp - Gostaria que citasse, na sua opinião, quais são as empresas modelares no Brasil atual?
Ruy Quadros - A Embraer, que tem um processo de inovação bem-estruturado, testado, é uma empresa que agora está se aprofundando cada vez mais na área de desenvolvimento de tecnologias e materiais e ambientes proprietários que sejam do interesse do seu setor. Também temos a Petrobras, a Vale, a Fibria, a Ouro Fino, a Natura. Temos tido igualmente a procura, agora, da área de fármacos e saúde, tanto humana como ligada ao agronegócio. De fato, estão sentindo que, especialmente com as possibilidades abertas com a biotecnologia, é preciso dar uma acelerada no processo de inovação dessa área.