Saberes e sabores no Fórum Permanente Literatura, Cinema e Conhecimento na FCA
Refrescos literários de frutas que aparecem em crônicas de Rubem Braga e público que acompanhou a mesa "Morte em Veneza e em outros lugares", com os Professores Carlos Etulain, Peter Schulz e Márcio Barreto, da FCA |
Saber com sabor. As duas palavras têm o mesmo radical no latim ('sapere' e 'sapore') - a primeira significa conhecer ou perceber algo pelo sentido do gosto e a segunda quer dizer gosto ou sabor característico de algo. Conhecimentos saborosos: o Fórum Permanente Literatura, Cinema e Conhecimento – Possibilidades Interdisciplinares, que ocorreu ontem, dia 21, na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira, foi cheio deles.
Cinema e comida, crônicas e memórias gustativas, paisagens literárias e literaturas cinematográficas. Os temas compuseram as três mesas e a palestra do "fórum-banquete" e entre os convivas havia físicos, economistas, historiadores, biólogos, geógrafos, artistas, nutricionistas e ainda um barista, profissional especializado em cafés e que cria drinks diversos com a bebida. O evento foi proposto por docentes que fazem parte do programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Faculdade, que iniciou as aulas de sua primeira turma neste ano.
Professor Eduardo Marandola (de azul), coordenador do programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da FCA e um dos organizadores do fórum |
Na mesa-deleite "Cinema, Literatura e Comida: comensalidade e memórias gustativas", Julicristie Machado Oliveira, nutricionista e professora da FCA, apresentou a fala "Cultivar e Comer: um convite para degustar as crônicas de Rubem Braga". Ela foi acompanhada por Ligia Amparo da Silva Santos, nutricionista com doutorado em sociologia da Universidade Federal da Bahia e Wanessa Asfora, pós-doutoranda em História da Alimentação na Unicamp.
Entre outras iguarias preparadas cuidadosamente pelas palestrantes, fica um petisco do que disse a Professora Juli: "Fischler e Manson comentam que a atualidade se configura como um momento em que há muitas incertezas em relação ao sistema de produção agroindustrial. Assim, pontuam a necessidade de uma educação alimentar que não se restrinja ao âmbito do que é importante pela ótica da nutrição, mas que valorize o gosto, a culinária, a comensalidade, o convívio na partilha. Concluem sugerindo que há necessidade de reencantar a alimentação. O encanto é uma das marcas das crônicas de Rubem Braga. De forma específica, em O Almoço Mineiro, ao fazer o contraponto entre o 'gourmet', termo francês que remete a uma certa sofisticação gastronômica, e a benção da simplicidade, o autor revela, mais uma vez, a habilidade de se maravilhar, de reconhecer o potencial de um prato de comida típica de Minas. Dessa forma, há possibilidade de reencantar nossa alimentação numa perspectiva própria, numa perspectiva das epistemologias de um sul social como sugere Boaventura de Sousa Santos, mas sem esquecer que no caso da alimentação, o sul geográfico também faz sentido. É importante também reecantar, reavivar as comidas que são da nossa terra, as nossas plantas comestíveis nativas, da nossa biodiversidade, nossos modos de cozinhar e comer."
Nas garrafas dos 'refrescos literários', trechos de crônicas de Rubem Braga. Textos e memórias gustativas do escritor foram tema da fala da Professora Julicristie Machado Oliveira, docente do programa de mestrado ICHSA e do curso de Nutrição da FCA |
Entre os convidados estavam também Cláudio Benito Oliveira Ferraz, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp; Antônio Carlos Queiroz do Ó Filho, da Universidade Federal do Espírito Santos e Susana Oliveira Dias, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Científico da Unicamp. Mais de cem espectadores saciaram-se acompanhando as conversas pelo link ao vivo da Rádio e TV Unicamp e houveainda os 'refrescos literários', outra oportunidade de experienciar o sabor como fonte de conhecimento. Outras iniciativas do tipo estão sendo elaboradas pela Faculdade – é só chegar, puxar uma cadeira e preparar-se para aproveitar e apurar os paladares que os diferentes saberes podem proporcionar.
Carlos Queiróz (UFES), Eduardo Marandola e Márcio Barreto praticando interdisciplinaridade e alunos Thiago de Paula e Carolina Zechinatto saboreando as palestras do fórum |