Evento discute modelo inovador
visando à pesquisa de fármacos

28/04/2014 - 16:26

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Paulo Arruda e Carlos Henrique de Brito Cruz

Paulo Arruda e Carlos Henrique de Brito Cruz

Wen Hwa Lee, gestor de Alianças Estratégicas

Wen Hwa Lee, gestor de Alianças Estratégicas

Professor Glaucius Oliva, presidente do CNPq

Professor Glaucius Oliva, presidente do CNPq

Tetsuyuki Maruyama, manager de P&D da Takeda

Tetsuyuki Maruyama, manager de P&D da Takeda

Palestra com Aled Edwards, diretor da SGC

Palestra com Aled Edwards, diretor da SGC

Numa iniciativa para trazer ao Brasil um modelo inovador visando à descoberta de fármacos, foi aberta na segunda-feira e prossegue nesta terça a conferência internacional “Chemical Probe-based Open Science: Uncovering New Human and Plant Biology”. A ideia é implantar na Unicamp um laboratório conectado ao Structural Genomics Consortium – rede internacional de cientistas da academia e da indústria voltada ao estudo da estrutura das proteínas. O evento no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) é organizado pelo Instituto de Biologia (IB), com apoio do SGC, da Natureconferences e da Fapesp.

O Structural Genomics Consortium está baseado e possui laboratórios nas Universidades de Oxford (Reino Unido) e de Toronto (Canadá). Wen Hwa Lee, gestor de Alianças Estratégicas do SGC, explica que o ponto fundamental do modelo de inovação está no estabelecimento de um espaço pré-competitivo, onde todos os participantes – acadêmicos e da indústria – dividem igualmente custos e riscos, disponibilizando os dados gerados em domínio público, sem preocupação com patentes. “Desde 2004, participam do consórcio nove das maiores farmacêuticas mundiais, agências do governo canadense e a Wellcome Trust britânica (a maior fundação de pesquisa do Reino Unido), com um investimento de mais de 300 milhões de dólares.”

Segundo Lee, o modelo é apontado pelo governo britânico como exemplo de sua estratégia futura para pesquisas em ciências biomédicas, enquanto o NIH (National Institutes of Health) americano e a New York Academy of Sciences recomendam sua adoção para acelerar resultados concretos em estudos urgentes como da doença de Alzheimer. “As conversações estão bem avançadas e queremos muito trazer um laboratório para a Unicamp, cujo nível de excelência que não encontramos em outros lugares do país. O diferencial deste modelo é que todos estão investindo para produzir ciência aberta em seus laboratórios. Nada fica protegido atrás de patentes, guardado a sete chaves; tudo é distribuído ao restante da comunidade científica para fazer pesquisa e avançar.”

Graduado em biologia e doutor pela Unicamp, Wen Hwa Lee vem percorrendo o mundo para divulgar a proposta do SGC, que em sua opinião está chegando para mudar paradigmas. “No modelo tradicional, cada grupo trabalha isoladamente, fazendo experimentos muitas vezes em repetição, sendo que apenas um deles será publicado. A área de desenvolvimento de fármacos é muito difícil, ainda conhecemos pouco sobre a biologia humana e, a cada dez projetos, nove falham. Por que competir tão cedo, sem saber se teremos alguma perspectiva? Devemos nos juntar e criar conhecimento para elevar as águas do oceânico acadêmico e dar passos maiores e mais rápidos.”

Revolução científica

Os professores Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, e Glaucius Oliva, presidente do CNPq, participaram da mesa-redonda “Ciência de acesso aberto e biologia química para biologia médica e de plantas: como o Brasil pode liderar uma revolução científica?”. Brito Cruz afirmou que a Fapesp vê com muito interesse a possibilidade de a Unicamp se associar à SGC. “É uma oportunidade nova criada pelos pesquisadores Paulo Arruda e Paulo Mazzafera de utilizar o mesmo sistema do consórcio para o desenvolvimento de aplicações. É algo que pode trazer bons resultados no futuro.” 

Glaucius Oliva, por sua vez, informou que o CNPq já tem acordo firmado com a SGC para o envio de alunos de doutorado e pós-doutorado aos centros de Toronto e de Oxford. “Esta parceria da Unicamp para trazer a estrutura do SGC me parece extremamente oportuna. Para o desenvolvimento de fármacos, muito do trabalho inicial de identificar alvos e mecanismos é típico da pesquisa básica, e pode ser desenvolvido bem mais facilmente neste modelo de inovação aberto. Não faz sentido criar mecanismos de proteção, de propriedade intelectual tão precocemente. É um modelo bastante adequado ao Brasil, como por exemplo, no caso de doenças infecciosas tropicais; é do nosso interesse desenvolver medicamentos novos e quanto mais rapidamente, melhor.” 

A programação do primeiro dia da conferência incluiu palestras de Aled Edwards, diretor da SGC; Tetsuyuki Maruyama, vice-presidente da Divisão de Pesquisa Farmacêutica da Takeda Company; e David Drewry, diretor da GSK. O evento reúne outros convidados das Universidades de Oxford e de Toronto, do Nature Publishing Group, da Finep, agências canadenses e das indústrias Pfizer, Novartis, Bayer e Monsanto.