Heitor Gurgulino reflete
sobre internacionalização

09/04/2014 - 14:24

“Falar sobre internacionalização na Unicamp é como tentar ensinar o padre-nosso ao vigário. As ações que a Universidade tem executado nessa área servem de exemplo para as demais instituições de ensino superior do Brasil”. A afirmação foi feita na manhã desta quarta-feira (9) pelo professor Heitor Gurgulino, atual presidente da Academia Mundial de Arte e Ciência e ex-reitor da Universidade das Nações Unidas. Gurgulino veio a Campinas para apresentar uma palestra magna sobre Internacionalização, a convite da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri). O evento aconteceu no auditório da Faculdade de Engenharia Química (FEQ).

Antes de falar a um público com posto por docentes, estudantes e funcionários, Gurgulino concedeu uma breve entrevista ao Portal da Unicamp. Ele se disse honrado em voltar à Universidade, com a qual tem ligações antes mesmo da sua criação. “Eu fui muito amigo do professor Zeferino Vaz, fundador da Unicamp. Aliás, eu quase vim trabalhar aqui. Eu pertencia ao Departamento de Física da Faculdade de Rio Claro, que hoje faz parte da Unesp, na ocasião em que o professor Zeferino estava organizando a Unicamp. Naquela oportunidade, ele convidou todos os integrantes do departamento para trabalhar aqui. Eu acabei não vindo porque minha mulher, que é rio-clarense, não quis e também porque houve um movimento da Prefeitura e da Câmara de Vereadores da cidade contra a saída do grupo de pesquisadores”, revelou.

Segundo Gurgulino, a Unicamp já nasceu sob a égide da internacionalização. Ele lembrou que Zeferino Vaz contratou diversos docentes estrangeiros, que receberam a missão de ajudar a constituir as unidades de ensino e pesquisa. “Uma das faces da internacionalização é justamente esta: atrair professores estrangeiros para as nossas universidades. Junto com eles, também temos que atrair bons estudantes, não somente da América Latina, mas do mundo inteiro. Além disso, também temos que estimular cada vez mais a ida de professores e estudantes para cumprir períodos e estudo e estágio em boas instituições internacionais”, defendeu.

O programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, foi apontado por Gurgulino como uma iniciativa importante no processo de internacionalização das universidades brasileiras. “Entretanto, ainda temos desafios a superar. Temos que elaborar currículos que sejam atraentes aos estudantes estrangeiros, tendo em perspectiva um mundo cada vez mais globalizado. Há também outro obstáculo a ser superado, que é o domínio de um segundo idioma por parte dos nossos estudantes. Os jovens que querem ir para os Estados Unidos, França ou Japão têm necessariamente que dominar as línguas faladas nesses países”, observou.

Gurgulino acrescentou, ainda, que embora seja um processo fundamental para as universidades, a internacionalização também pode ser alvo de críticas. Uma delas, na visão do atual presidente da Academia Mundial de Arte e Ciência, refere-se à grande assimetria entre os países centrais e os em desenvolvimento. “A meta do Japão é atrair 300 mil estudantes estrangeiros. A dos Estados Unidos, 800 mil. O Brasil ainda está na faixa dos 100 mil. Essa discrepância precisa ser corrigida. Além disso, dentro do processo de internacionalização, precisamos tomar cuidado para não perdermos nossos melhores cérebros para os sistemas de ensino e pesquisa internacionais. Obviamente, nós não queremos perder e sim conquistar bons profissionais”, ponderou.