Editora da Nature fala sobre
livre acesso a pesquisadores

20/03/2014 - 12:40

Olive Leary é editora-chefe da Nature Reviews Immunology

Periódicos como a revista Nature seriam incapazes de manter seu nível de qualidade se fossem forçados a adotar o chamado “padrão ouro” de acesso livre aos artigos científicos que publicam, disse ao Portal Unicamp a editora-chefe da Nature Reviews Immunology, Olive Leary. O “padrão ouro” preconiza que os trabalhos estejam disponíveis gratuitamente no momento em que são publicados. Os periódicos que os adotam costumam cobrar taxas de revisão dos autores, para cobrir seus custos. “Temos uma estimativa bem grosseira de quanto precisaríamos cobrar para continuar a fazer tudo o que fazemos no padrão ouro”, disse a editora. “Teria de ser cerca de US$ 25.000 por artigo”.

Olive fez uma apresentação sobre modelos de livre acesso de publicação para pesquisadores da Unicamp na manhã desta quinta-feira, 20, como parte do Workshop Nature Unicamp, no qual um grupo de editores do Nature Publishing Group (NPG) ofereceu aos cientistas brasileiros informações para facilitar a publicação da pesquisa nacional em periódicos de alto impacto.  O workshop foi promovido pela CGU e pela Pró-Reitoria de Pesquisa.

Em sua palestra para os pesquisadores, ela desfez alguns mitos sobre a publicação em periódicos de livre acesso – um deles, o de que publicação livre seria sinônimo de má qualidade; outro, o de que publicação livre significa publicação gratuita. “Sempre há custos para alguém”, lembrou ela. “Nem que sejam apenas os de manter os arquivos online”. Olive também chamou atenção para o risco de o pesquisador acabar sendo fraudado por uma publicação desonesta. “Há sites que usam nomes semelhantes aos de publicações renomadas para atrair artigos e cobrar as taxas de revisão, mas que não submetem o trabalho à revisão pelos pares”, disse ela. “Não são a norma nesse mercado, mas existem, e é preciso ter cautela”.

A editora explicou que o Grupo Nature adota uma política de “acesso verde” – no qual a versão original dos artigos publicados passa a estar disponível gratuitamente seis meses depois de saírem numa das revistas da empresa. Falando à reportagem, ela disse que o grupo está satisfeito com o modelo, adotado após uma série de agências internacionais de fomento à pesquisa passarem a exigir que a ciência produzida com suas verbas fosse disponibilizada gratuitamente.

Plateia de pesquisadores assiste à apresentaçãoOlive reconheceu, no entanto, que a pressão para a adoção do acesso gratuito imediato, sem embargo, continua a aumentar. “Nossa posição tem sido de manter aberto o diálogo”, disse ela. “Não é porque eu trabalho lá, mas pessoalmente concordo com a forma como estamos lidando com isso”. Ela lembrou que outra medida de facilitação de acesso adotado pelo NPG foi a de passar a obter dos pesquisadores não mais o copyright – o direito de decidir quando e por quem o artigo publicado pode ser reproduzido – mas apenas uma autorização de publicação. “Nós genuinamente queremos o que for melhor para os cientistas”, disse ela.

Brasil
A editora afirmou ter “adorado” a oportunidade de participar do workshop na Unicamp. “Foi muito divertido, trocamos muitas informações e fomos muito bem acolhidos”. Ela disse ter ficado com a impressão de que os pesquisadores brasileiros se veem sob muita pressão para publicar trabalhos em quantidade. “Acho que essa pressão para publicar não dá às pessoas o tempo necessário para trabalhar em artigos de alto impacto e favorece a ‘salamização’”, declarou, referindo-se à prática de subdividir uma mesma pesquisa em vários artigos de menor escopo. “É uma perspectiva diferente”.

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