Mais alunos da rede pública

14/03/2014 - 15:33

Reitor José Tadeu Jorge
A Unicamp conseguiu aumentar em 20% o número de ingressantes oriundos de escolas públicas. Neste ano de 2014, a Unicamp recebeu 37% de matriculados vindos de escolas públicas, contra 30,7% no ano passado. A diferença positiva veio graças ao aumento do bônus oferecido a esses candidatos no vestibular através do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp, o PAAIS. A partir do Vestibular 2014, o PAAIS dobrou os pontos e passou a oferecer 60 pontos a mais na nota final de candidatos da rede pública de ensino e 80 pontos a mais para aqueles que, além de terem cursado ensino médio público, se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas. Criado há dez anos, o PAAIS acrescentava, até o ano anterior, 30 ou 40 pontos à nota final dos candidatos de escolas públicas.

VÍDEO 

O resultado positivo da mudança no programa foi comemorado. “Se considerarmos que o número de inscritos se manteve igual ao do ano passado, podemos concluir que o grande impacto foi mesmo no número de candidatos matriculados, ou seja, o que alterou foi realmente a inclusão”, afirmou o reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge. No vestibular 2013 e no vestibular 2014, os estudantes de escola pública representaram 27% do total de inscritos.

Tadeu Jorge explicou que ao longo dos dez anos de existência do PAAIS, foram realizados diversos estudos no sentido de verificar a eficicácia do programa para a inclusão social na Universidade. Vários desses estudos demonstraram que o desempenho dos estudantes egressos de escolas públicas durante a graduação tem sido igual ou melhor, em muitos cursos, do que o de estudantes não bonificados pelo programa. “Ao comprovarmos que o PAAIS se apresenta como uma excelente metodologia de inclusão que mantem a condição qualitativa dos alunos, percebemos que ele deveria ser intensificado e iniciamos a discussão sobre o aumento dos pontos oferecidos”, esclareceu Tadeu Jorge.

Promover a inclusão social sem perder a qualidade do corpo discente é essencial para uma universidade de ponta como a Unicamp. “Podemos comprovar estatisticamente que o PAAIS sustenta os níveis de excelência da Unicamp, ao mesmo tempo em que promove a inclusão”, completou o reitor.

O Conselho Universitário da Unicamp (Consu) determinou que até 2017 a Universidade atinja o índice de 50% de estudantes de escola pública e 35% de estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas (percentual que equivale ao do Estado de São Paulo, segundo o IBGE). De acordo com Tadeu Jorge, “A inclusão social tem sido uma busca constante da Universidade e temos mais alguns vestibulares para aperfeiçoar o PAAIS, tornando-o ainda melhor para chegar às metas estabelecidas”.

Cursos mais concorridos

O impacto do aumento do bônus nos cursos mais concorridos, os chamados cursos de alta demanda, foi ainda mais positivo que no geral. Os cinco cursos mais concorridos (Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Midialogia e Engenharia Química) registraram aumento tanto de estudantes de escola pública como de autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Na Medicina, – curso mais concorrido do Vestibular Unicamp, com 145 candidatos por vaga – o número de matriculados de escola pública dobrou em relação ao ano anterior: foram 33,3% em 2014 contra 14,5% em 2013. O percentual registrado de pretos, pardos ou indígenas também cresceu no curso de Medicina, passando de 7,4% no ano anterior para 9,2% no vestibular 2014.

O reitor destacou que em vários cursos de alta demanda, a Unicamp já ultrapassou a meta de alunos da rede pública estabelecida pelo Consu. “Isso é relevante, já que a determinação do Consu é que se verifique a meta em cada um dos cursos da Universidade e não apenas no percentual geral”, completou.

Ação direta nas escolas

Além dos matriculados, a Unicamp está preocupada em aumentar o número de estudantes da rede pública que prestam o vestibular todos os anos.  A ideia é que quanto maior o número de inscritos oriundos das escolas públicas, maior a chance de ter mais aprovados.

Para atingir esse objetivo, a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) firmou parceria com a Secretaria Estadual de Educação do governo de São Paulo para ações de divulgação em todas as escolas públicas do Estado. Os coordenadores do vestibular fazem palestras para os alunos e distribuem material informativo sobre o PAAIS. “Queremos estimular o aluno a quebrar a barreira de não prestar o vestibular da Unicamp por acreditar que não seria aprovado”, afirmou Tadeu Jorge.

Nesse sentido, o reitor divulgou que a Comvest pretende aumentar o número de isenções para estudantes carentes que não podem pagar a taxa de inscrição do vestibular. Atualmente a Comvest oferece cerca de seis mil isenções fixas, além de um número ilimitado de isenções para candidatos a todos os cursos de Licenciatura em período noturno.

“É importante ressaltar que o PAAIS é um programa flexível, que poderá ser ajustado nos próximos anos, com a segurança de que não vai piorar o desempenho nos cursos de graduação da Unicamp. Ao contrário de uma solução fácil como a das cotas, temos uma metodologia bastante adequada”, completou o reitor Tadeu Jorge.

Além do PAAIS e das isenções, a Unicamp tem outro programa para estimular a inclusão no ingresso à Universidade, o ProFis – Programa de Formação Interdisciplinar Superior, voltado a estudantes das escolas públicas de Campinas e que oferece 120 vagas todos os anos.

 

 

 

Comentários

Sou professor de duas escolas públicas no Estado e fico muito feliz com essa notícia, independente das políticas afirmativas ter oportunizado isso. Isso significa que o nosso trabalho está surtindo efeito. Portanto, é preciso abrir portas também para que os professores das escola públicas possam fazer Mestrado e Doutorado nessa Instituição, uma das mais conceituadas do mundo e da América Latina.

Email: 
albertomarques1104@hotmail.com

Só lembrando, as cotas não são e nunca foram uma solução fácil, foram um projeto de luta da sociedade civil e, mais especificamente, dos movimentos sociais, principalmente o movimento negro, e que ainda tem uma resistência muito forte do governo paulista e de alguns setores da sociedade civil e intelectuais brasileiro. No que diz respeito ao desempenho acadêmico, também já foi derrubado o estigma de que esses alunos cotistas não iriam conseguir acompanhar o curso e a universidade iria cair seu desempenho. Pois os mesmos entravam com uma nota menor no vestibular, porém seu desempenho acadêmico era igual ou superior aos alunos não cotistas, e as universidades que aderiram as cotas, como a UERJ por exemplo, viu pelo contrário do que os contra cotas diziam, sua qualidade de ensino subir como mostram alguns sites de ranking universitários.

Email: 
ulissestavares22@hotmail.com