É possível aplicar a criatividade em sala de aula, independente do espaço físico ideal, da qualidade dos equipamentos e da infraestrutura da escola. Poucos recursos, muitas ideias e uma pitada de ousadia podem criar um ambiente diferenciado no espaço escolar. A defesa é da educadora, artista e docente da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, Marcia Maria Strazzacappa Hernandez. Seus argumentos estão apresentados, na forma de experiências, no livro organizado por ela Era uma vez uma história contada outra vez (Editora Librum). 

A obra, fruto de diversas pesquisas e ações práticas na área, conta também com a participação de estudiosos das universidades federais de Goiás (UFG) e Rio Grande do Norte (UFRN), e apoio do Ministério da Cultura (Minc), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O lançamento acontece no próximo dia 20, às 18h30, na Livraria da Vila, no Galleria Shopping, em Campinas.

“A obra visa trazer a público os textos acadêmicos resultantes das pesquisas dos docentes e dos mestrandos. Sentimos a necessidade de divulgar as reflexões realizadas ao longo do desenvolvimento do projeto, tematizando o como e o porquê contar histórias para crianças, com o intuído de inspirar professores para que transformem suas práticas educativas”, conta Marcia Strazzacappa sobre as motivações para o livro. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ela dá detalhes dos estudos, contextualiza a temática envolvendo a obra e fala sobre os desafios relacionados à formação de professores no Brasil. 

Portal Unicamp - O livro integra pesquisas na área da educação. Poderia dar detalhes? 
Marcia Maria Strazzacappa Hernandez – Integra mais de uma pesquisa, pois articula investigações de cinco docentes ligados a três instituições de ensino (Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Unicamp) e seus respectivos programas de pós-graduação, além de três pesquisas de mestrado e duas de Iniciação Científica. O tema da pesquisa principal é a arte na formação de professores, pedagogos e licenciados. 

O livro é um dos resultados do projeto de mesmo nome, que foi contemplado com um edital Capes/MinC - Programa Pró-Cultura. O objetivo principal do projeto era realizar a produção de um CD (como os antigos disquinhos coloridos) com histórias infantis musicadas voltadas a crianças da primeira infância. Histórias inéditas criadas a partir de estudo sobre o patrimônio nacional imaterial. O CD foi lançado em dezembro de 2012 e distribuído gratuitamente para escolas públicas.
Portal Unicamp - Há desdobramentos práticos a partir das pesquisas que culminaram no livro?
Marcia Strazzacappa - Sim, como resultados práticos envolvendo artistas, contadores de história, mestrandos e professores universitários tivemos a realização de três eventos itinerantes intitulados ‘Quem conta um conto aumenta um ponto’, com oferecimentos de oficinas, apresentações de espetáculos, contações de histórias, palestras e mesas-redondas. 

Apresentamos ainda três espetáculos que circularam pelas cidades envolvidas no projeto: ‘Sobre mulheres e lobos’, ‘Um dia, uma banana’ e  ‘Maria Grampinho’. Houve a composição de um CD (com libreto) com seis histórias infantis musicadas por Alexandre Carvalho e João Arruda, que foram distribuídos gratuitamente para escolas públicas dos estados participantes do projeto (Rio Grande do Norte, Goiás e São Paulo). Realizamos oficinas de contação de histórias, criamos uma página na Internet para acesso e download das histórias e realizamos contações de histórias em diferentes escolas públicas. 

Portal Unicamp – Quais os desafios relacionados à formação de professores no Brasil identificados pelas pesquisas?
Marcia Strazzacappa - Em nosso projeto posso afirmar que um dos desafios que tivemos de enfrentar estava relacionado ao escasso repertório trazido pelos professores da rede no tocante à literatura infantil, aos contos de fadas, às lendas. Outro desafio era a relação do professor com seu corpo, seu gesto, sua voz, sua expressão. Na formação de professores são priorizadas discussões teóricas e pouco se trabalha a arte em suas diferentes linguagens (dança, música, teatro e artes visuais). Logo, o desenvolvimento da criatividade e da expressão fica em segundo plano.

Portal Unicamp - Há espaço para a criatividade nas práticas educativas?
Marcia Strazzacappa - Espaço há, porém constatamos que ele é pouco aproveitado e que depende quase que exclusivamente da atitude do professor de sala. Em nossa pesquisa encontramos professores (e diretores de escolas) envolvidos, com desejo e disposição de fazer diferente, criar, encantar as crianças. Mas também encontramos professores desmotivados, pouco engajados e por N razões. As oficinas funcionavam como motivadores.

Portal Unicamp - Como inserir a criatividade no cotidiano do professor?
Marcia Strazzacappa - O livro compartilha algumas experiências, justamente com o propósito de mostrar como é possível usar a criatividade em sala de aula, independente de ter um espaço físico ideal, uma excelente infraestrutura na escola. Os relatos mostram que, com poucos recursos, muitas ideias e uma pitada de ousadia, é possível criar um ambiente diferenciado em sala de aula, dando espaço para a imaginação e a criação.

Portal Unicamp - Quem participa da obra?
Marcia Strazzacappa - Participam os professores doutores Karenine Porpino (UFRN), Jefferson Fernandes (UFRN), Valéria Figueiredo (UFG), Maria Angela De Ambrosis (UFG). As mestrandas bolsistas pelo projeto Maria Elizabete Sobral Aquino (UFRN) e Tânia Alves (Unicamp), além de duas mestres em Educação do Laborarte (laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação) da Unicamp, Cristina Decico Lobarinhas e Lívia Pinheiro Leirias. Todas as mestrandas são professoras da rede envolvidas com a educação básica. O projeto foi financiado pelo edital Capes/MinC - Programa Pró-Cultura e também contou com o apoio do CNPq, e das três instituições de ensino superior: UFG, UFRN e Unicamp.