Ao perceber a presença da reportagem no auditório do Instituto de Artes, o professor Iramar Rodrigues, que naquele momento conversava com os alunos deitados no palco, tratou logo de colocar todos em movimento, sentando-se ao piano para animar um tipo de bailado sob o agito de bexigas coloridas. Afinal, ele tinha grande interesse em proporcionar uma boa foto: radicado há 40 anos na Suíça, o professor visitante se apresenta como “embaixador” do Dalcroze no mundo e está redobrando seu empenho para divulgar este método no Brasil, agora que se aposentou no Instituto Jaques-Dalcroze de Genebra.

Iramar Rodrigues explica, entretanto, que aposentadoria na Suíça não significa parar de trabalhar, e sim ganhar mais tempo para outras atividades, que no seu caso se intensificaram. “Tenho a enorme responsabilidade de representar o Instituto Dalcroze, divulgando o método pelo mundo”, afirma o professor. “É através do corpo humano que aprendemos a sentir a música. A educação é por e para a música, que considero primordial na pedagogia Dalcroze, por levar o aluno a sentir o ritmo.”

A rítmica Dalcroze é um método criado no começo do século 20 pelo músico e pedagogo austro-suíço Émile Henri Jaques (1865-1950), que adotou o nome artístico de Dalcroze. A técnica, que promove a integração da melodia musical com a expressão corporal, foi desenvolvida inicialmente pelo pedagogo para ensinar música a seus alunos. Com o tempo, os princípios dessa pedagogia – de trabalhar com o corpo vivenciando os elementos musicais – passaram a influenciar outras áreas, como a dança, as artes cênicas e a educação física. 

Atendendo ao convite da professora Adriana Mendes, Iramar Rodrigues está ministrando um curso de extensão com 30 horas de duração, para 52 pessoas que tiveram a sorte de tomar conhecimento do evento nesse período de férias. “Ele esteve na Unicamp pela Faculdade de Educação Física e agora pelo Departamento de Música. Apesar do pouco tempo de divulgação, a procura foi imensa e muita gente não conseguiu se inscrever. Temos participantes não apenas do IA, mas também de Brasília, Salvador e várias cidades do Estado de São Paulo”, informa a professora. 

Adriana Mendes ressalta a importância do Dalcroze para o ensino musical, lamentando que o método ainda seja pouco difundido no Brasil. “São poucas as pessoas autorizadas a difundir Dalcroze no país, pois o método exige uma formação bastante intensa do professor. Mas é uma proposta europeia que está chegando, sempre tendo em mente que teremos de fazer algumas adaptações para a realidade brasileira. Ela é perfeitamente viável para trabalhar com grupos e escolas e oferecer uma base sólida de ensino musical.” 

A professora do IA observa que os brasileiros têm contato com o método Dalcroze basicamente através de livros e, por isso, poucos o conhecem mais profundamente. “É uma honra muito grande trazer para a Unicamp quem vivencia essa experiência há 40 anos, juntamente com outras pessoas com as quais o método funciona belamente. Faz cem anos que o Dalcroze é considerado bastante eficaz para o ensino da música e, se tivermos oportunidade de difundi-lo, conseguiremos um impacto grande nas escolas.” 

Na opinião de Iramar Rodrigues, mais importante que a sua vinda foi o entusiasmo de Adriana Mendes para cumprir a meta de realizar este curso. “Para o Departamento de Música é muito importante saber que aqui também se faz e se vive coisas boas. A Unicamp deve valorizar a vinda de professores visitantes para as áreas das artes. É uma necessidade dos dias atuais contar com a colaboração de grandes especialistas do exterior e também do Brasil.” 

“A rítmica Dalcroze: uma educação por e para a música” é o tema do curso que pretende levar aos alunos as bases filosóficas, pedagógicas e metodológicas do método Dalcroze e a sua aplicabilidade a diferentes disciplinas. O curso, que vai de 3 a 7 de fevereiro, exige uma participação ativa dos alunos no período das 9h às 13h30, com um breve intervalo antes da aplicação pedagógica, até às 15 horas. O publico alvo é formado por alunos de licenciatura em música, dança, teatro, educação física, pedagogia e também professores interessados.