Quando brincava de carrinho, ainda garoto, Gabriel Brandão Alexandre já dizia que quando crescesse queria se tornar médico. Hoje, como outros jovens de sua idade (agora tem 19 anos), ele adquiriu outros sonhos e planos, mas não desistiu da sua intenção original. Ao contrário, conseguiu vencer entraves sociais e agora abraça o futuro profissional que lhe sorri. Ele acaba de se matricular no concorrido curso de Medicina da Unicamp, que oferece 110 vagas em período integral e que neste ano registrou 15.989 candidatos disputando palmo a palmo a carreira médica, segundo dados da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp). Com méritos de sobra, Gabriel foi o primeiro colocado entre os 58 alunos do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) que ingressaram na Unicamp em 2011 e que agora se juntarão a outros aprovados do Vestibular 2014. Mas ainda falta o cumprimento de uma formalidade: ele e os outros alunos do ProFIS terão a sua formatura no dia 13 de fevereiro, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

Gabriel teve condições de escolher o tão almejado curso de Medicina, feliz pela classificação, em que obteve 87% de aproveitamento durante as avaliações do ProFIS. Mas também é certo que estudou com afinco horas a fio. Mora no DIC VI, no Ouro Verde, região periférica de Campinas em que vivem cerca de 400 mil pessoas. Foi aluno da Escola Estadual "Orlando Signorelli", onde aprendeu conceitos que deverão segui-lo pelo resto de sua vida. Aprendeu que as chances na universidade pública podem não ser muitas, porém elas existem. Também aprendeu que a vontade e a determinação são fatores preponderantes para alcançar um ideal. Foi o que fez.

O jovem vive com o pai, que é cabeleireiro de uma rede de salões de projeção na cidade, e a mãe, maquiadora, mas que atualmente trabalha em casa para poder cuidar dos filhos. "Meus pais sempre fizeram tudo para que eu e minha irmã, de 15 anos, apesar das necessidades, não precisássemos trabalhar fora", revelou o estudante. Fato é que, desde a mais tenra idade, pensava em ajudar as pessoas de um modo muito singular: cuidando de sua saúde.

No ProFIS, procurou obter um ótimo desempenho e disse que a experiência no programa foi honrosa, pois pôde entrar na Academia antes mesmo de ingressar na graduação e aprender como funciona a pesquisa acadêmica muito antes do que pudesse desenvolvê-la. "Vejo que consegui unir sonho e realidade, uma vez que pude chegar ao curso que queria por uma porta aberta no ensino público. Isso não é incrível?", expressou. "Por isso, vejo que é preciso acreditar no nosso país e em iniciativas como essa." 

No Facebook, Gabriel não poupava gratidão ao programa no dia 9 de janeiro: "Quanto amor pelo ProFIS...", mostrava o post. Neste terça-feira (21), ele publicou: "Porque os planos do Altíssimo JAMAIS podem ser frustrados!".

Isabella Vetaca, diretora da E.E. "Orlando Signorelli", está muito orgulhosa de ter tido em sua instituição como clientela um aluno tão exemplar. Segundo ela, Gabriel sempre bateu na tecla que queria ser médico, e se dedicou para que isso ocorresse. "Ele é um estímulo para outros alunos nossos e para aqueles que não acreditam que podem entrar na universidade pública", afirmou. "Desejo ao Gabriel muito sucesso e, se um dia precisar de algum cuidado médico, gostaria que ele me atendesse." 

Outros contemplados

Aletícia Kelley Martins, 19 anos, que foi a segunda colocada no programa, comentou que essa escolha tem um sabor muito especial. “Além de ter alcançado uma boa classificação nos estudos, consegui ter a certeza de que quero cursar Ciências Econômicas no Instituto de Economia de uma das melhores universidades do país”, comemorou. Ela estudou no Etecap e é moradora do Parque das Universidades, bairro próximo à Unicamp. 

Aletícia contou que queria muito estudar Direito, contudo, já no ProFIS, percebeu que realmente gostava de Economia. Todas as disciplinas conspiraram para sua escolha. “Sempre tive um nítido interesse pela área de Humanidades”, garantiu. Ajudou muito também o fato de ter realizado iniciação científica, mencionou. Seu projeto abordou o agronegócio em quatro cidades do Mato Grosso – Água Boa, Canarana, Nova Xavantina e Querência. 

A futura economista está consciente de que lá na frente terá que fazer outras escolhas e que também no curso de Ciências Econômicas virá o momento de optar pelo setor industrial ou pela Academia. Até aqui pretende fazer carreira acadêmica. E está muito ansiosa para começar a graduação. Mas ressaltou que terá muita saudade do ProFIS, que classificou como um programa sensacional. “Estudamos duro e vimos que essa oportunidade para alunos das escolas públicas é a porta de acesso para a sua inserção profissional”, salientou.

Também muito feliz por poder cursar Medicina na Unicamp, Marina Crubelatti, a sexta colocada, relatou estar realizando um sonho. "Foram dois anos intensos. Não imaginava tudo isso", classificou. Recém-saída do Cotuca, o Colégio Técnico de Campinas (da Unicamp), onde tinha feito curso técnico em Enfermagem, Marina achava que os estudos seriam mais simples. Foi o contrário: teve que se esforçar muito para chegar a esse resultado. 

Ela sempre apreciou Biologia. No estágio que fez no Ensino Médio, já tinha conhecido um pouco da prática médica. Esteve no Hospital de Clínicas (HC) e no Hospital da Mulher Caism, ambos da Unicamp. Viu o quanto é corrida a vida dos profissionais da área da saúde e o quanto ser médico exige responsabilidade. “Gostei principalmente do Pronto-Socorro e da área de Obstetrícia”, descreveu. Considera o ProFIS um grande programa e ressaltou que em sua turma encontrou só pessoas merecedoras dessa iniciativa.  

O ProFIS é destinado a alunos de escolas públicas da região de Campinas e foi criado com a finalidade de expandir a inclusão social na Unicamp, servir de porta de entrada para os cursos de graduação, dar-lhes uma formação geral, proporcionando-lhes uma visão integrada do mundo contemporâneo, além de prepará-los para as mais variadas profissões. A seleção de estudantes não é feita através do Vestibular Unicamp e sim com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para cada escola pública de ensino médio do município de Campinas, é oferecida uma vaga.