Lições de Caroline aos ‘cafianos’

16/01/2014 - 14:10

Atividades do CAF, edição 2014Ainda com a fisionomia de estudante do ensino médio, a jovem Caroline Melo Santos, 20 anos, engana à primeira vista. Ela poderia ser facilmente confundida como uma das participantes do Programa Ciência & Arte nas Férias (CAF). Monitora do programa, Caroline é um caso raro de quem soube aproveitar como poucos as oportunidades que a vida oferece. Há quatros anos, em janeiro de 2010, ela conhecia pela primeira vez a Unicamp na condição de participante do CAF. Dali para frente decidiu que a Universidade seria a sua segunda casa. Concluiu o programa no mesmo ano, deu sequência ao ensino médio público, se inscreveu no ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior), e hoje está no terceiro semestre do disputado e reconhecido curso da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA).

“Sempre sonhei em estudar aqui na Unicamp e vi no Ciência & Arte uma oportunidade de conhecer melhor a Universidade. Terminando o programa, eu fiquei sabendo do ProFIS, que ainda estava em fase final de implementação. Fiz dois anos de ProFIS, entrei na graduação e agora estou aqui como monitora. No contato inicial com os alunos do Ciência & Arte, a primeira coisa que falei foi no sentido de que aproveitem isso aqui ao máximo. O Ciência & Arte foi minha porta de entrada para a Unicamp, um sonho de milhares de jovens. Depois que eu participei, senti que poderia ser uma aluna da Unicamp, mesmo vindo de escola pública”, lembra Caroline.
Caroline: 'Depois que participei, senti que poderia ser uma aluna da Unicamp'
Enquanto muitos colegas estão aproveitando as férias, a universitária decidiu que iria colaborar com aqueles que, como ela no passado, trocaram o período de descanso por um estágio na Universidade. “Eu gosto da Unicamp e das atividades que são promovidas aqui. É uma oportunidade de vivenciar o Ciência & Arte nas Férias por um ângulo diferente. Hoje não estou mais descobrindo a Unicamp, estou ajudando outros jovens a descobrirem aquilo que me estimulou em 2010. Nesta primeira semana como monitora senti que os alunos estão bastante interessados e até deslumbrados com a Universidade. No primeiro dia, eles perguntavam: ‘nossa, mas a Unicamp é tão grande assim? Mas a gente ainda está dentro do campus?’”, relata a monitora.

Há 12 anos a Unicamp promove o Ciência & Arte nas Férias. Coordenado pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), a atividade permite que estudantes de escolas públicas do ensino médio da região de Campinas façam, durante as férias escolares de verão, um estágio nos laboratórios da Universidade. No total, já passaram pelo CAF aproximadamente 1,5 mil estudantes, muito dos quais tiveram suas vidas alteradas pelo fascínio da ciência.  

Os ‘cafianos’, como são conhecidos os participantes do programa, vivenciam na teoria e na prática atividades ligadas às grandes áreas do conhecimento -  Artes, Ciências Humanas, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas e da Saúde e Tecnologia. No período que estão na Universidade eles são supervisionados por pesquisadores e docentes. Só na edição deste ano, são oferecidas dez oficinas e diversos estágios individuais em laboratórios. Ao final dos 30 dias, os participantes apresentam um projeto científico, na forma de pôster, e recebem um certificado.

Quebrando a redoma
A participação no CAF tem estimulado e permitido que outros jovem entrem na Unicamp, seja pelo Vestibular ou ProFIS, ressalta o coordenador da iniciativa, o professor Fernando Antônio Santos Coelho, assessor da PRP. De 2009 para cá, os ‘cafianos’ já somam dez aprovações no ProFIS, duas no Vestibular Nacional e outras duas no Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), segundo levantamento da organização do programa. 

“A partir do momento em que o aluno participa do Ciência & Arte, ele desmistifica um pouco o que é a Unicamp. Quando este estudante é envolvido pelas atividades do CAF, ele tem a sua autoconfiança melhorada. Isso abre perspectivas reais para que ele volte mais tarde como um aluno da Universidade. Além do programa abrir a Universidade para esta comunidade de estudantes, abre também esta perspectiva de que estar na Unicamp não é um bicho de sete cabeças”, avalia Fernando Coelho. Coelho: programa desmistifica a UnicampA opinião de Coelho é compartilhada pelo pesquisador Luis Ribeiro Vilela Filho, que ministrava na manhã de quarta-feira (15) na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) uma atividade sobre matas ciliares. De acordo com ele, o CAF permite quebrar uma espécie de redoma que existe entre a Unicamp e a realidade de muitos jovens, sobretudo àqueles de escolas públicas, como Caroline.  

“O fato destes jovens ficarem um mês participando de atividades, fazendo uma espécie de iniciação científica condensada, é fundamental porque desperta o interesse pela ciência. Além do mais, quem está de fora, geralmente vê a Unicamp como uma redoma, um centro de excelência restrito. Mas ao vivenciarem a realidade da Universidade, estes estudantes percebem que aqui dentro existem pessoas normais e isso os estimula a pensarem que um dia poderão estar aqui dentro”, opina o pesquisador. A oficina ministrada por ele tratou das exigências legais e das práticas sociais envolvendo áreas de proteções ambientais.
Oficina ministrada na Feagri: mata ciliares, das exigências legais às práticas sociais
Oficinas e histórias
Coordenadora de outra oficina, a artista plástica Marília Machado Brandão Curi, docente do Instituto de Artes (IA), transmitia toda a empolgação de estar com os jovens do ensino médio. “Eles são muito interessados e dedicados, é também um estímulo para nós. A atividade do Ciência & Arte é maravilhosa, já é a minha 5ª edição. O programa proporciona uma vivência muito rica”, elogia a professora que ensina aos alunos a arte da pintura em cerâmica. 
Professora Marília Brandão: vivência é também um estímulo para nós
O Ciência & Arte tem revelado jovens apaixonados, como Camilla Ayres, 16 anos, estudante da Escola Estadual Professor Paulo Luiz Decourt (Jardim Vonz Zubem, Campinas). A mais entusiasmada do grupo que participava de uma oficina sobre animação, Camilla logo se prontificou a falar com o Portal da Unicamp

“Estou adorando, me divertindo muito. Nunca imaginei que viria para a Unicamp. A universidade é outro mundo. Pensamos na Unicamp somente no vestibular, mas eu descobri que existem vários projetos em que podemos participar antes do vestibular. O meu sonho é fazer engenharia mecânica, meu pai trabalha com venda de peças automotivas, o meu avô cuida de máquinas agrícolas e meu tio trabalha com a mecânica de câmbios. Acho que vem um pouco daí”, conta a jovem.
Camilla Ayres: entusiasmo e descoberta
Nadine Fernanda Palma Blair, 17 anos, buscava informações com a monitora Caroline sobre o ProFIS, o curso piloto de ensino superior da Unicamp voltado aos estudantes do ensino médio de escolas públicas de Campinas. “Estava perguntando a ela e achei bem legal a proposta. Tem um colega que disse que vai fazer. Confesso que não tinha interesse na Unicamp, estava pensando na USP, mas depois que vim pra cá já estou mudando de opinião”, revela mais uma ‘cafiana’ encantada com a Unicamp.
Nadine Fernanda: interesse no ProFIS
Caroline Santos alerta, no entanto, que nem tudo são flores no meio universitário. “A graduação está bem difícil, principalmente as matérias mais pesadas do Ciclo Básico, como cálculo, física e geometria. É necessária uma carga muito pesada de estudos, mas estou conseguindo levar porque gosto bastante. Então, apesar das dificuldades, eu estou me mantendo firme”, reconhece a universitária.  E a saída é neste sentido mesmo, admite o coordenador do CAF Fernando Coelho. “Perseverem e mantenham o foco nos seus objetivos. O Ciência & Arte mostra apenas o caminho”, ensina o professor que atua no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. 

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Registro Geral - Oficinas Ciência e Arte nas Férias 2014