Irmãos Nascimento levam Coral de
Cajamar ao Mapa Cultural Paulista

02/10/2013 - 09:17


Os irmãos Wilson e Walter Nascimento são formados em regência pela Unicamp. O que eles mais têm em comum? Adoram música. Wilson é regente do Coral Municipal de Cajamar. Walter? Ele compôs a música “Como Ver o Mundo”. A composição acaba de levar o coral à fase estadual do Mapa Cultural Paulista. O grupo representará a região da Grande São Paulo no biênio 2013/2014.

A comunidade do município recebeu com orgulho a conquista dos irmãos.  Para que isso fosse possível, Wilson recebeu apoio da Diretoria de Cultura da Prefeitura Municipal de Cajamar, responsável pelo coro. 

Neste sábado, a Diretoria de Cultura de Cajamar organiza a 20ª edição do Encontro de Corais de Cajamar (ECC). O evento acontece desde 2003 (sempre em junho e outubro) com a participação de três ou quatro grupos convidados.

Nesta edição devem participar os grupos de Campinas Coral Zíper na Boca e Madrigal in Casa, regidos respectivamente por Vivian Nogueira e Beatriz Dokkedal, também formadas pela Unicamp; o grupo Officina Vocalis, o Coral Ibirapuera e o trio Trappistas. As apresentações ocorrem às 17 horas, na Igreja São Paulo Apóstolo (Av. Pedro Celestino Leite Penteado 102 ), em Jordanésia-SP.

O Portal da Unicamp conversou com os músicos sobre o Mapa Cultural e o ECC

Wilson Nascimento

Portal da Unicamp - Como é chegar a ser vencedor? O que é preciso, por parte do regente e dos coralistas, para chegar ao nível de vencedor na Grande São Paulo?
Wilson Nascimento - Ganhar é sempre bom. A gente sempre espera receber o melhor depois do trabalho. É preciso muita dedicação e disciplina. Estar sempre presente e atento aos ensaios.

Portal - Quantos grupos participaram da fase regional?
Wilson - Nesta edição apenas três, mas um não compareceu. Em 2009/2010, quando também ganhamos, participaram oito coros. 

Portal - Quando começou a cantar arranjos do irmão, Walter, seja com o trio Trappistas ou com outro grupo?
Wilson - Temos mais um irmão que toca bateria e violão, o Welson Nascimento (o Walter toca violão). Em algum momento lá atrás, nós cantávamos juntos. A capela ou com instrumentos. Eu fazia os arranjos. Mais tarde, o Walter começou também a fazer os arranjos e a compor. O Walter tem uma facilidade incrível para escrever. Com isso, eu fui diminuindo o ritmo. No trio, temos uma nova canção do Abba, “Thank you for the music”, que é arranjo meu.

Portal - O que representa essa conquista para a vida cultural e para a comunidade do município de Cajamar?
Wilson - É um prêmio. Um título. Alguém nos dizendo que estamos fazendo certo. A Diretoria de Cultura de Cajamar sempre divulga e incentiva a comunidade a se envolver com o Mapa Cultural. A vitória do Coral é muito bem recebida por todos. Desde o prefeito aos funcionários do departamento. A comunidade vê com orgulho nossa conquista. 

Portal - A música de Walter será executada também na fase estadual?
Wilson - Sim. No regulamento diz que uma das canções a serem executadas deve ser de compositor paulista.  O Walter é o nosso compositor paulista. Somos naturais de Santos. A mesma música deve ser repetida na fase estadual em São Paulo no próximo semestre, onde será gravado um CD com uma música de cada coro participante. A música do Walter irá para este CD.

Portal - Qual a importância do mapa para o cenário cultural do Estado de São Paulo?
Wilson - O Mapa Cultural abrange várias expressões artísticas. Ele dá movimento ao interior e leva, na fase estadual, o interior para a capital. É um incentivo à manifestação artística fora do grande centro.

Portal - O coro também se destaca pelo tradicional Encontro de Corais de Cajamar, que já está em sua 20ª edição. O Brasil não tem uma cultura de canto-coral, mas o ECC tem conquistado um público cativo e também novos espectadores. O que faz com que o ECC se mantenha por tanto tempo? Como você faz para manter a qualidade?
Wilson - Os coros são convidados. Coros que conheço ou por indicação. Coros que tenham bom trabalho e bom repertório. Não divulgamos inscrição, e os grupos são convidados pessoalmente por mim. O projeto foi idealizado por mim e abraçado pela Diretoria de Cultura de Cajamar. Somos uma grande equipe. Desde o diretor, o pessoal administrativo e também os profissionais de outras áreas de artes como o teatro, as artes visuais, que vêm nos ajudar no dia do evento. Outra coisa favorável é o transporte que oferecemos. Arrisco dizer que somos os únicos no Brasil. É um presente da Prefeitura de Cajamar e incentivo à cultura.

Portal - Pelo “palco” do ECC já passaram grupos como Rock’n Voice, SeisCanta, Officina Vocalis. Os convites são aceitos prontamente? Pela qualidade, deve ter fila para participar... Quantos grupos já se apresentaram?
Wilson - O coro está chegando aos 15 anos de vida. O ECC – Encontro de Corais de Cajamar acontece desde 2003. Sempre em junho e outubro, com 3 ou 4 grupos convidados. Cerca de 60 grupos já passaram por lá. No começo foi bem difícil. Cheguei a ouvir não de coros da capital. Aos poucos, conseguimos mudar isso. Hoje somos conhecidos pela qualidade, e as pessoas aceitam prontamente.  Divulgamos em várias cidades e, no último Encontro de Corais, recebemos na plateia pessoas de São Paulo, Vinhedo, Jundiaí e Campinas.

Portal - Você divulga a música a capella não somente por meio dos coros que rege (3M, Sescon e Cajamar), mas tem conquistado um público importante com o trio Trappistas, formado por você, Luiz Samuel e Marcus Vinícius da Silva, como é carregar essa bandeira da música a capella em Campinas e região? O que significa para você lotar espaços como o Almanaque, por exemplo, de pessoas interessadas em ouvir um grupo vocal, sem acompanhamento de instrumentos?
Wilson - O canto sempre fez parte da minha vida. É minha grande paixão. Ouço música a capela o tempo todo. Brasileiros, suecos, americanos, ingleses. Estou sempre ouvindo. O Trappistas  é meu mais novo projeto. Estamos juntos há menos de um ano. Cantar em um grupo vocal sempre foi meu sonho de consumo e posso dizer que também é do Samuel e do Marcus. Sinto-me um felizardo por isso. Um privilegiado. Lotamos o Almanaque Café e antes, lotamos a Capela Nossa Senhora da Boa Morte – projeto Sesc na Capela. O interesse das pessoas se deve ao nosso trabalho intenso. O repertório agrada a todas as idades e é escolhido depois de intensa pesquisa. O trio também tem como atrativo uma movimentação durante todo o concerto/show. O movimento ajuda as pessoas a ficarem conosco o tempo todo.

Portal - Qual a importância da formação em música pela Unicamp nessa trajetória? O que significa a Unicamp para você?
Wilson - A Unicamp foi minha casa durante 6 anos. Foi lá que ouvi de Niza Tank que eu deveria cantar. Onde o Henrique Gregori colocou a mão em meu ombro e disse: “você regeu bem hoje”, e a Nara Vasconcelos gastou muitas tardes de sexta comigo nas aulas de piano. Minha turma foi especial. Cantávamos muito pelos corredores. Entrávamos cantando todos os dias no bandejão. Nós costumávamos dizer que as aulas de corredor eram muito importantes. Foi na Unicamp que aprendi a reger e a escrever (arranjar). A Unicamp me abriu portas de trabalho em Campinas. Meus primeiros trabalhos consegui graças ao nome Unicamp no meu currículo. Guardo boas recordações da convivência com amigos como o violeiro Ivan Vilela, professor na USP; as cantoras e regentes Ana Salvagni e Andreia Sicchiero, que foi cantora na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp); e de Carlos Fiorini, hoje professor no Departamento de Música da Unicamp. 

Portal - Por falar em curso de música da Unicamp, duas regentes formadas pela Universidade também participarão desta edição. Esses eventos também servem para mostrar a produção de músicos formados pela Unicamp, concorda?
Wilson - No próximo ECC teremos a Vivian Nogueira , a Beatriz Dokkedal e o Nelson Silva. Todos formados pela Unicamp. A Vivian está com o Zíper há anos levando o nome da Unicamp para várias partes do Brasil. A Beatriz com o Madrigal in Casa (o Marcus e eu cantamos neste coro), tem também levado o nome da Unicamp pelo país. O Madrigal in casa foi por duas vezes segundo colocado no Concurso Nacional de Corais da Funart. E o Nelson é regente do Coral da Puc e do Coral do Tribunal (também cantor do Madrigal in casa). A maioria dos convidados para o ECC é da Unicamp ou da USP. 

 

Walter Nascimento

Portal da Unicamp - Como é ver o coro dirigido pelo irmão se classificando por meio de uma composição sua?  Foi feita especialmente para isso?
Walter Nascimento - É um privilégio dado a poucos compositores. São horas de dedicação tendo apenas a partitura dentro da imaginação. Uma vez executada, e tendo um resultado como esse, de fato é muito gratificante. Essa música foi feita exclusivamente para o Coral Municipal de Cajamar participar no Mapa Cultural Paulista.

Portal - Como é trabalhar junto, inclusive fazendo arranjos para o trio Trappistas, do qual Wilson faz parte?
Walter - Fica mais fácil, pois sei como meu irmão pensa. É preciso ter os timbres na cabeça, a extensão vocal e ter a exata noção de como soará nos graves, médios e agudos. Claro que é preciso levar também em conta a real capacidade de execução do grupo. Não posso fazer algo que não conseguem cantar. A arte também precisa ser funcional. O Wilson me passa algumas coordenadas, como: “Faça nessa tonalidade”, “Andamento acelerado”, “Melodias livres em alguns trechos”; daí é sentar e começar a escrever.

Portal - O fato de ter um músico em casa o inspirou a estudar música na Unicamp?
Walter - Na verdade, meu pai me colocou para estudar desde os 5 anos. Eu nunca quis ser músico. Já na época do vestibular, me preparei para medicina, porém, depois de certa insistência do Wilson e de amigos, acabei fazendo minha inscrição no último dia para o vestibular da Unicamp em regência orquestral e passei.

Portal – Você atua na Orquestra de Valinhos. Também compõe para orquestra?
Walter - Minha maior atuação na orquestra é como maestro assistente. Todavia, fui convidado a ser o arranjador principal e já tive várias oportunidades de contribuir nesse sentido. É igualmente desafiador escrever para essa esfera, pois enquanto no coral a letra é o fio condutor, na orquestra o som é quem dá a direção. Sempre escrevi pensando em juntar essas duas linhas de pensamento.

Portal - Qual a importância da formação em música pela Unicamp nessa trajetória? O que significa a Unicamp para você?
Walter - A Unicamp apontou um norte. Mostrou-me as possibilidades de atuação como músico e me apresentou excelentes músicos e amigos que me inspiraram a seguir em frente. A Unicamp foi para mim apenas o começo da carreira, pois um regente de orquestra tem uma vida de estudos, todavia, foi o início dessa real preparação.

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