Software simula incêndio
e dispersão de gases

27/09/2013 - 17:25

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O professor Sávio Vianna faz demonstração do software

O professor Sávio Vianna faz demonstração do software

Aqui, o docene reproduz reação química que pode ter ocorrido em Santa Catarina

Aqui, o docene reproduz reação química que pode ter ocorrido em Santa Catarina

A Unicamp está validando os resultados de um software que simula a ocorrência de incêndios e a dispersão de gases. O programa é uma adaptação de uma ferramenta norte-americana denominada Fire Dynamics Simulator (FDS). O trabalho é coordenado pelo professor Sávio Souza Venâncio Vianna, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ). “Em termos qualitativos, a tecnologia se mostrou muito eficiente. Ela é o que temos de mais avançado nessa área. Agora, estamos comparando as simulações com testes práticos para validá-la”, revela. Segundo Vianna, o objetivo do seu grupo é fazer com que o software chegue ao mercado para auxiliar empresas, órgãos fiscalizadores e gestores públicos na definição de medidas preventivas ou mitigadoras em casos de acidentes, como o que ocorreu esta semana em São Francisco do Sul (SC).

De acordo com o docente, existem ferramentas comerciais que podem ser utilizadas para auxiliar na definição de planos de segurança nessa área. Ocorre, porém, que o software desenvolvido na FEQ é muito mais refinado que os encontrados no mercado. “Ele está no que chamamos de estado da arte da pesquisa científica”, afirma. Dito de modo simplificado, o programa é capaz de simular o deslocamento da fumaça ou do gás a partir de dados previamente fornecidos. “No caso de São Francisco do Sul, por exemplo, seria possível predizer o comportamento da nuvem de fumaça a partir de parâmetros como a direção e a velocidade do vento, as características do relevo e as condições climáticas”.

Com base nas informações fornecidas pela simulação, continua Vianna, as autoridades teriam como adotar medidas mitigadoras como interditar uma estrada ou desocupar um núcleo habitacional, para evitar novos acidentes ou mesmo a eventual intoxicação de pessoas. “Vale destacar que o software não serve apenas como uma ferramenta voltada às ações corretivas. Ele também pode e deve ser usado de forma preventiva. Ou seja, sabendo antecipadamente o que ocorreria no caso de um acidente, seria possível traçar um plano de segurança mais eficiente”, diz o professor da FEQ.

Vianna vem trabalhando na adaptação do programa há cerca de cinco anos e seus alunos de graduação e pós-graduação, há dois. O docente destaca a importância desse tipo de estudo com base em dois aspectos. “Primeiro, porque pesquisas dessa natureza contribuem para a formação de recursos humanos qualificados. Segundo, porque o desenvolvimento de novas tecnologias nos tornam independentes de outros países. Um software importado que faz simulações com o mesmo grau de qualidade do nosso pode custar entre R$ 60 e R$ 100 mil”, justifica.

Nitrato de amônia

O professor Vianna reproduziu em laboratório a reação química que possivelmente ocorreu no incêndio do depósito de fertilizantes de São Francisco do Sul. De acordo com ele, a densa fumaça amarela gerada pelo acidente pode ter tido origem na queima do nitrato de amônia, um dos principais insumos utilizados na fabricação de fertilizantes. O pesquisador colocou uma pequena porção de nitrato de amônia em um tubo de ensaio e depois aqueceu o recipiente. A dada temperatura (cerca de 200 graus célsius), ocorreu a decomposição térmica, gerando amônia e óxido nitroso. Em seguida, houve uma discreta explosão e a consequente emissão de uma fumaça amarelada. “Provavelmente, isso foi o que aconteceu no depósito de fertilizantes de Santa Catarina. Entretanto, somente a pericia vai relevar as reais circunstâncias do incêndio”, observa Vianna.