Pesquisadores discutem a educação especial
na perspectiva da educação inclusiva

28/08/2013 - 15:38

A professora Maria Teresa Egler Mantoan foi presenteada pelo amigo da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp Antônio Carlos Amorim com o livro Tom, de André Neves, na sala de estar da abertura do Fórum Desafios do Magistério, na manhã desta quinta-feira (28). No livro, Neves conta a sua relação com o irmão, Tom, um menino com autismo, que vive na solidão.  Ao longo da história, os irmãos encontram uma forma de se comunicar. O presente, segundo Amorim, representa tanto o sentido do fórum, que teve como tema “a educação especial na perspectiva da educação inclusiva”, quanto a trajetória de Maria Teresa na história da inserção e ação relativa à educação especial.

“Tom é descrito pelo irmão e André Neves em desenhos e palavras como uma criança habitada por pássaros. Os pássaros que batem as asas dentro dele fazem com que o movimento interior da identidade especial de Tom reverbere. Deixo o livro de presente para Maria Teresa, nesta sala de estar, para vocês escutarem as batidas de pássaros que povoam cada um de nós.” Segundo Amorim, há uma série de indícios imagéticos que permitem pensar que basicamente ele trabalha com relação próxima à temática da vinculação entre especial, diferenças e identidades.

As discussões desta edição foram pautadas em marcos legais e educacionais, de acordo com Maria Teresa, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade (Leped) da Faculdade de Educação.

“Se estivesse tudo bem não estaríamos aqui neste fórum com 1.400 pessoas discutindo inclusão. Este auditório lotado só demonstra nossa preocupação e a distância em que estamos do processo de inclusão”, disse Cleuza Repulho, secretária da Educação de São Bernardo do Campo (SP), uma das debatedoras da primeira mesa-redonda, formada também pela procuradora regional da República do Ministério Público Federal, Eugênia Augusta Gonzaga; e pela diretora de políticas de educação especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, Martinha Clarete Dutra dos Santos.  

Cleuza também questionou a formação oferecida a profissionais da área, enfatizando que os professores da escola regular precisam ser capacitados para trabalhar com educação especial. “Que formação inicial é esta que não prepara professores para a vida real? Que universidade é essa ainda tão distante da vida real? E que instituições são essas que não cobram as universidades”, indaga. De acordo com as debatedoras, há resistência das instituições de educação especial em aceitar o destino dos recursos de educação especial para as escolas regulares.

Cleuza chegou a defender a aplicação da prova nacional de professores, para que as universidades aprimorem o processo de formação inicial de educadores.  A prova nacional pode servir de base para concurso público, caso o município opte por considerá-las. Ela apresentou alguns avanços na área de educação especial, mas fez saber: “Quando comecei a discutir inclusão de educação especial em unidades regulares minha filha era uma adolescente, hoje já sou avó.”

A mediadora da mesa, Cláudia Pereira Dutra, consultora de projetos e políticas educacionais da organização dos Estados Ibero-Americanos, disse que quando as discussões foram iniciadas no começo dos anos 2000, alguns municípios e estados ainda vivenciavam a educação especial nos moldes tradicionais. “A maior parte das pessoas com deficiência estavam matriculadas em instituições especializadas ou em classes especiais no ensino regular.” Os debates, segundo Cláudia, acontecem no sentido de questionar a segregação e visam interromper os processos de exclusão educacional de quem fica fora e também de quem é excluído dentro da escola.

“Se estamos discutindo política de inclusão é porque ainda há exclusão”, reforçou Eugênia Gonzaga. Ela acentuou a luta pela aprovação da mudança da Meta 4 dentro do processo de aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE). A Meta 4 do PNE prevê o atendimento escolar para pessoas com deficiência. No texto da meta 4, equivocadamente foi escrito que o atendimento a pessoas com deficiência pode ser feito ‘preferencialmente’ por instituições de ensino regulares. Mas, segundo Eugênia, o termo ‘preferencialmente’ permite o atendimento exclusivo em escolas especiais, sendo que, no início do artigo que dispõe sobre a educação, o texto deixa claro que toda criança tem direito a educação em instituições de ensino regular.  

O fórum teve organização da Leped da Faculdade de Educação da Unicamp e da Rede Anhanguera de Comunicação. Todo fóruns permanentes são realizados pela Coordenadoria Geral da Universidade.