Pesquisadores debatem sobre letramento
em época de multilinguagens durante fórum

26/06/2013 - 15:55

O pequeno Enzo ainda não aprendeu a falar, mas sabe localizar rapidamente as imagens que deseja ver no menu de um tablet. Este pode ser o início do processo de letramento de Enzo, mas como a escola estará organizada para recebê-lo daqui a alguns anos? Esta foi a pergunta colocada na mesa durante a primeira parte doa edição do Fórum Desafios do Magistério realizado nesta quarta-feira (26), no Centro de Convenções da Unicamp. O vídeo exibido ao final da palestra “Diferenças e  pluralidade no campo da linguagem e letramento”, de Heloísa de Matos Lins, professora da Faculdade de Educação e uma das organizadoras do evento, demonstra uma geração motivada a se comunicar por meio de formas de linguagem não-convencionais a gerações anteriores. “Nós desenvolvemos a tecnologia e agora a tratamos como um monstro”, lembrou Heloisa.

No mundo cotidiano, os textos foram convertidos mais para imagem e menos para linguagem escrita. Em tempos de reação da juventude brasileira tanto nas redes sociais quanto nas ruas do Brasil inteiro, estas características se ressaltam, e as reflexões sobre letramento se ampliam, pois a geração da sala de aula mostra claramente a forma primordial de linguagem para ela. Depois de exibir algumas montagens produzidas por jovens após as passeatas e os conflitos, durante a palestra “Multiletramentos e abordagem da diversidade cultural no ensino de língua materna”, a professora Roxane Rojo manifestou-se sobre a necessidade de os educadores abrirem a mente, se atentarem ao repertório levado pelos alunos para a sala de aula, ainda que não gostem, para poderem negociar com eles. Mesmo reconhecendo a necessidade de mudança, Roxane destaca a importância do letramento convencional para que os jovens, no caso os produtores dos vídeos, chegassem ao resultado de suas produções. Afinal, os “remix” carregam um hídrido de escrita e imagem. Hoje, principalmente no IEL, a língua é entendida como área de linguagem, dentro do conceito de multiletramento. Ela ressaltou que, em 1996, pesquisadores europeus e americanos se reuniram para discutir como fazer escola no mundo atual, com tamanha diversidade cultural e tecnológica. De acordo com Roxane, dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic) mostram que a atual geração está absolutamente imersa na tecnologia digital e a questão de acesso às tecnologias é superado e a presença dela nas residências aumentou consideravelmente. 

“Belchior dizia que o passado é uma roupa que não nos serve mais, mas, para mim, o presente é uma roupa que não nos serve mais porque saímos de manhã com uma roupa, à tarde, trocamos e, à noite, perguntamos a Noel Rosa: ‘Com que roupa eu vou’ para a manifestação na rua”, exemplificou o professor do IEL Luiz Fernando Gomez, em sua palestra “Letramento digital e mobilização social: o que podem as comunidades?”. Para ele, a grande chamada de consciência é fazer refletir sobre o que se está fazendo mais que ir para a rua sem correr o risco de ficar olhando para o guarda roupa sem saber o que vestir. É preciso investigar de que forma cada um está aproveitando o acesso às redes para engajar se ou para ampliar sua participação em algum tipo de movimento comunitário. O que se vê, em sua opinião são alguns movimentos que se organizam em organizações e estas com outros movimentos e uma se fortalece ao aprender com a outra. “Se não funcionar assim, então de que adianta uma rede?” Como exemplo de rede bem-sucedida, Gomez cita a Central Única de Favelas (Cufa), em que uma das comunidades, por não ter voz, publica o que aprendeu com as favelas de outra região. “Isso é um letramento que começa a fluir. Não adianta ter um blog e fazer disso uma divulgação do espetáculo”, reforça.

 
Livro lançado
Integrantes do Grupo de Pesquisa “Alfabetização, Leitura e Escrita” (ALLE) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp,  lançaram ao final do fórum
o livro Afetividade e letramento na educação de Jovens e Adultos-EJA. A obra, que foi organizada pelo professor Sérgio Leite, reúne textos que relatam práticas bem-sucedidas nessa área da educação. Também são autoras do volume as pedagogas Daniela Gobbo Donadon Gazoli, Flávia Regina de Barros e Lúcia Maria de Santis Barella.