Tese do IFCH "Duas rainhas, um
príncipe e um eunuco" é premiada

17/06/2013 - 14:29

Renato Pinto: tese premiada

Historiadores e arqueólogos que estudam a Bretanha Romana têm contribuído ora para insinuar um imperialismo positivo e paralelismos entre o passado e o presente, ora para desconstruir tais discursos, sendo, grosso modo, os últimos da geração pós-colonialista. Ao fazer uso da historiografia, literatura, das artes visuais e análises da cultura material, o pesquisador Renato Pinto observou a dinâmica entre as aspirações imperial-nacionalistas discursivas e as construções das ideologias do masculino e do feminino – identidades sexuais e de gênero inclusas – no contexto dos estudos sobre a Bretanha Romana (Britânia), desde o séc. XVI em sua tese de doutorado.

O estudo intitulado "Duas rainhas, um príncipe e um eunuco: gênero, sexualidade e as ideologias do masculino e do feminino nos estudos sobre a Bretanha Romana” mereceu uma distinção da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC) como a melhor tese (anos 2010-2011) no âmbito dos estudos clássicos, levando para casa o prêmio "Eudoro de Souza - Edição 2013". A premiação acontece no dia 12 de julho em local ainda a ser definido.

Renato Pinto fez seu doutoramento em 2011, que foi desenvolvido no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), sob orientação do professor Pedro Funari, pesquisador sênior do Laboratório de Arqueologia Pública 'Paulo Duarte' (LAP), ligado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam). Para isso, contou com financiamento de bolsa Fapesp. Atualmente Renato ele mora em Recife e atua como docente da disciplina de História Antiga na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A informação sobre o prêmio o distinguiu sobremaneira, conta. "O mérito deve ser compartilhado com o professor Funari, que sugeriu o envio do trabalho, bem como com outros professores da mesma linha de pesquisa", salienta o pesquisador. "Os estudos de gênero e sexualidade têm um campo de ponta no Brasil. Mas, apesar de algumas instituições se debruçarem sobre o assunto, na Unicamp ele se desenvolve de maneira aprimorada."

Na tese, interpretações acríticas das relações de gênero e dos protocolos sexuais do passado foram misturadas às ideologias do masculino e do feminino do presente por artistas, acadêmicos e políticos, mutatis mutandis. Os discursos resultantes foram muitas vezes usados para fazer comparações entre o Império Romano e o Britânico – quase sempre ressaltando suas benesses – e para inventar definições normativas para os papeis de gênero e para as sexualidades humanas do presente.

Desde a Renascença Inglesa no séc. XVI, a história da Bretanha Romana e as imagens de alguns de seus mais proeminentes protagonistas, tais como a rainha Boudica ou o príncipe Carataco, servem como fontes recorrentes e fluídas para a construção de identidades nacionais britânicas. Estes líderes, de acordo com o clima político-social no qual suas imagens ressurgem, podem ser considerados tanto como selvagens empedernidos que recusaram os modos civilizados quanto como heróis e heroínas da resistência contra o invasor romano.