Especialista
descarta
'regrinhas'
para produzir
bom texto

14/06/2013 - 16:47

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O convidado, professor Gilson Volpato

O convidado, professor Gilson Volpato

Evento reuniu mais de 500 pessoas

Evento reuniu mais de 500 pessoas

Evento reuniu mais de 500 pessoas

Evento reuniu mais de 500 pessoas

Intervalo do evento

Intervalo do evento

Maria Cimélia Garcia, do IFCH

Maria Cimélia Garcia, do IFCH

"A estrutura do texto científico não é um problema de vida ou morte: é pior do que isso." A frase é do professor da Unesp Gilson Volpato, que se dedica à disciplina de Metodologia e de Fisiologia. Com vários títulos publicados sobre redação científica, o autor participou nesta sexta-feira do 12º Workshop do Espaço da Escrita sobre Redação Científica, organizado pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), pelas pró-reitorias de Pesquisa (PRP) e Pós-Graduação (IPRPG) e Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). O encontro aconteceu no auditório do Centro de Convenções da Unicamp e teve como público-alvo alunos de pós-graduação da Universidade, pesquisadores, docentes e interessados. Foram mais de 500 participantes.

Volpato é um "divulgador" do método lógico de redação científica, desenvolvido ao longo de 27 anos e cuja base é mostrar como cada dúvida deve ser respondida assentada na lógica da pesquisa científica, complementada por conceitos de comunicação. 

Neste método, descartam-se as "regrinhas". Todas as decisões na construção de um texto devem ser pautadas por justificativas. "Essas orientações guiam o leitor para a estruturação de um artigo, uma tese, uma dissertação ou mesmo um TCC", comenta. Mas ele entende que ainda há muita insatisfação quando chega o momento de escrever no meio universitário. Volpato atribui esse entrave à dificuldade de empregar logicamente o raciocínio.

Na prática isso significa que, se a pessoa escreve no impessoal, está assumindo que aquela conclusão não depende do indivíduo. Depende exclusivamente dos dados. "Isso não existe. Nenhuma conclusão é determinada. São os dados que determinam. É você que lê os dados”, diz o professor. “Tanto que, depois de um tempo, outras pessoas olham os mesmos dados e tiram outras conclusões”, salienta.

Não se trata de impor uma redação: tem que ser assim, tem que usar a voz pessoal. Nas melhores revistas do mundo, lembra ele, nota-se que elas usam a voz pessoal: eu concluo, nós fizemos isso, os nossos resultados são esses. Toda vez que se inverte esta ordem, está deixando o texto mais difícil para o leitor, que  só vai compreender a lógica do texto na hora que chegar no fim.

Outro obstáculo para o aluno aprender a lógica simples do fazer ciência está também em quem ensina. O professor na maior parte das vezes não sabe, por isso a disciplina de Metodologia é entendida como uma vilã, e isso não muda. No Brasil, historicamente quem muito sustentou os cursos de metodologia foram pessoas que não faziam ciência.

Uma das participantes do Workshop, Maria Cimélia Garcia, que atua no Setor de Publicações do Instituto de Filosofia e Ciência Humanas (IFCH), conta que precisa estar bem inteirada da área de pesquisa para publicação eletrônica e científica. Ela conta que no seu setor chegam muitos artigos sobre os quais ela precisa ter um conhecimento básico. Cimélia acredita que um olhar lógico sobre o texto facilita muito: ser mais claro e mais direto, sobretudo diante das muitas opções disponíveis nas redes de comunicação.

Volpato é mestre e doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Unesp de Rio Claro. Fez pós-doutorado no Institute of Animal Sciences, na Agricultural Research Organization, Bet-Dagan (Israel). Desde 1981 é docente do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu.