Piercing
bucal:
o que é
preciso saber
sobre ele

12/06/2013 - 12:30

A dentista Marília Batista

"Na minha turma, todo mundo usa piercing. Eu também quero um". Esse apelo é ouvido por muitos pais, quando os filhos, já adultos, não tomam a decisão de sozinhos buscarem um profissional para agilizar esse serviço. Querem fazer apenas uma surpresinha, e muitas vezes acabam surpreendidos por uma doença e mesmo uma fratura no dente. Apesar de não ser favorável ao seu uso, a dentista Marília Jesus Batista, ligada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), informa que o piercing dental, a seu ver, traz menos riscos que outros piercings bucais. Nessa entrevista ao Portal Unicamp, Marília, que está passando uma temporada na Espanha, para desenvolver algumas pesquisas de sua área, comenta que o assunto, que é recorrente entre os jovens e que parece uma prática inofensiva, traz riscos que vão muito além somente da beleza plástica. "Quem pretende colocar esse acessório, mesmo sabendo dos perigos, deve procurar uma clínica segura, que siga corretamente as normas de biossegurança", aconselha.

Portal Unicamp - Quais os locais mais utilizados para colocar os piercings bucais e como é a tatuagem nos dentes?
Marília - Os piercings bucais são mais utilizados na língua, no lábio e na bochecha. A colocação é feita através da perfuração desses tecidos moles. O piercing dental, que é a tatuagem do dente, trata-se de colocar um "cristal" no dente por métodos adesivos. Este procedimento é semelhante à colagem de um bráquete ortodôntico de aparelho fixo: nenhuma estrutura dentária é prejudicada nem desgastada. Não é preciso a aplicação de anestesia, pois o procedimento é indolor. O dentista apenas coloca um adesivo no dente e fixa o piercing, que ficará aderido por alguns meses.

Portal Unicamp - Os piercings bucais podem ser prejudiciais?
Marília - Sim e podem oferecer vários riscos aos usuários. Primeiramente, há o risco de infecção ou reação alérgica ao procedimento cirúrgico com a colocação da joia. Se não forem respeitadas as normas de biossegurança, pode haver contaminação com o vírus da hepatite B e C, com o HIV, tétano e outras doenças. Ocorre também o favorecimento de acúmulo de placa bacteriana, que contribui para processos inflamatórios. Outro risco é a fratura dos dentes, pois o piercing é uma joia, e a movimentação da peça dentro da boca pode quebrar ou lascar os dentes. Dependendo do local em que é colocado, também pode atrapalhar na dicção, principalmente quando na língua.

Portal Unicamp - E o piercing dental?
Marília - Como ele é colado, não há riscos de infecção, entretanto, se o paciente não fizer uma boa higiene bucal, isso pode também favorecer o acúmulo de placa bacteriana ao redor do cristal, aumentando a chance de desenvolver cárie no dente. O material com o qual é feito o piercing, normalmente titânio, também pode ir reagindo ao longo do tempo e manchar de cinza os tecidos ao redor, como o lábio, a língua e a bochecha. Há ainda o risco de aspirar a joia por deglutição. Esses são os riscos mais comuns relatados na literatura, porém pode haver ainda maiores consequências, como a formação de cistos, inflamações e infecções mais profundas, a depender da saúde geral do paciente, que normalmente não é levada em consideração no momento do procedimento cirúrgico. Há relatos igualmente de que os piercings podem causar uma retração gengival, ou seja, um afastamento da gengiva e modificação da sua anatomia, o que pode expor os dentes a uma maior sensibilidade dolorosa.
 
Portal Unicamp - Quem usa aparelho ortodôntico também pode usar o piercing?
Marília - Sim, mas, além dos riscos inerentes a quem usa o aparelho ortodôntico, pode também danificar o aparelho (dependendo do tipo), descolando os bráquetes mais facilmente.

Portal Unicamp - Quais cuidados envolvem o uso desse acessório?
Marília - Estão relacionados principalmente ao risco de infecção e por isso quem pretende ainda colocar esse acessório, mesmo sabendo dos perigos, deve procurar uma clínica segura, que siga corretamente as normas de biossegurança. E, depois, quem já utiliza o piercing, deve manter sempre bem higienizada a área e também não movimentar bruscamente o acessório, para evitar fraturas dentais, o que é mais difícil de controlar.
  
Portal Unicamp - Quando começou o costume do uso do piercing?
Marília - Teve origem na Antiguidade. A sua utilização estava relacionada a simbolismos culturais e também a rituais religiosos. Os primeiros a usarem o piercing foram os egípcios. Simbolizava realeza. Colocavam-no inclusive nos seus animais. Os gatos são um exemplo disso. Eles eram considerados animais sagrados. Já, para os romanos, simbolizava coragem e virilidade, e os povos maias colocavam piercing na língua com o propósito de desenvolver a espiritualidade. Os ancestrais indígenas também tinham piercings como costume.

Portal Unicamp - Qual modelo de piercing é mais adequado?
Marília - O que pode trazer menos riscos é o piercing dental. Os colocados com métodos invasivos, que perfuram os tecidos moles, trazem os riscos independentemente do modelo escolhido.