Saída de Neymar para o
Barça gera interrogações

27/05/2013 - 14:16

O jogador Neymar

Depois de diversos capítulos extras, a longa novela da transferência do atacante Neymar para um clube europeu finalmente terminou. O jogador formado no Santos optou por defender o Barcelona, time que já conta com uma constelação de craques, entre eles o argentino Lionel Messi, considerado o melhor do mundo. Como não poderia deixar de ser, a ida de Neymar para a equipe catalã gerou uma série de comentários, sendo dois deles mais recorrentes. O primeiro diz respeito aos valores envolvidos na transação. Embora as informações sejam desencontradas, cogita-se que o negócio movimentará incríveis € 103 milhões (R$ 273 milhões). O segundo refere-se à capacidade do brasileiro de se adaptar ou não ao futebol espanhol.

Em relação ao primeiro ponto, o professor Marcelo Weishaupt Proni, diretor associado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, destaca que dados financeiros sobre transferências de jogadores como Neymar costumam ser desencontrados. Isso ocorre porque a negociação envolve contratos complexos, como os de publicidade e de uso de imagem. “O Neymar não vale somente pelo que produz em campo. Ele também pode gerar receitas para o seu clube. Além disso, há vários outros aspectos presentes nesse tipo de negociação. É difícil saber quanto do dinheiro pago pelos direitos federativos do atleta ficará com o Santos e quanto irá para os investidores, até porque há uma briga entre as duas partes”, afirma.

Proni lembra, ainda, que diferentemente da época de Pelé, que permaneceu no Santos a despeito do assédio dos clubes europeus, hoje em dia é quase impossível para uma agremiação brasileira manter um jogador com a qualidade de Neymar por muito tempo. “E isso não ocorre somente por causa de dinheiro. Mesmo no Santos, Neymar era um dos jogadores mais bem pagos do mundo. Estima-se que ele ganhava cerca de R$ 3milhões por mês, entre salários e contratos publicitários. Um ponto que também pesa na decisão de jogar na Europa é a oportunidade de crescimento profissional. Jogando lá, Neymar terá mais visibilidade e, consequentemente, chances que não teria aqui, como a de se tornar o melhor jogador do mundo”, exemplifica o docente.

Embora não seja exatamente a sua especialidade, Proni considera que o craque brasileiro deverá se adaptar bem ao futebol espanhol. “Quando você joga em um time em que você é o único destaque, a marcação fica mais fácil. No Barcelona, a tendência é que Neymar tenha mais espaço para atuar. Se um time se preocupar em marcá-lo, sempre sobrarão mais três ou quatro grandes jogadores livres”. Nessa linha, o professor Antonio Carlos de Moraes, do Departamento de Ciências do Esporte da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, observa que a adaptação de um jogador brasileiro no exterior não depende somente do modelo de jogo. “A questão cultural também pesa muito”, adverte.

Sobre a escola espanhola de futebol, Moraes lembra que ela não difere tanto da brasileira, o que representará pouca mudança para Neymar. “Além disso, o Campeonato Espanhol não é de alto nível. Ele tem somente dois times, o Barcelona e o Real Madrid. Os demais são coadjuvantes. Em minha opinião pessoal, o Barcelona não foi a melhor escolha para o Neymar. Ele enfrentaria maiores desafios e teria maiores condições de crescer se tivesse optado, por exemplo, pelo futebol alemão ou o italiano. De todo modo, penso que ele vai se adaptar bem à equipe catalã e poderá experimentar uma boa evolução, principalmente quando passar a disputar a Liga dos Campeões e enfrentar escolas diferentes da espanhola”, pondera.

Sobre a fama de “cai-cai” de Neymar, que é criticada na Europa, o docente da FEF lembra que o atleta jamais se machucou seriamente desde que se tornou profissional. “A maioria das lesões se dá por impacto, tendo o solo como alavanca. O Neymar percebe as entradas mais duras, e acaba caindo para evitar algo mais sério. Não fosse isso, ele possivelmente já teria sofrido algum trauma importante. Obviamente, em alguns momentos ele comete alguns exageros. Como na Europa o futebol tem mais contato, ele terá que se moldar à nova realidade”.

E que papel Neymar deverá cumprir ao lado de Messi? Para o professor Moraes, se o brasileiro continuar ocupando a mesma faixa lateral de campo que ocupava defendendo o Santos, ele rivalizará em função com Messi, correndo o risco de tornar-se coadjuvante deste. “A grande vantagem do Neymar será promover a alternância de lados. É nesse aspecto que ele poderá crescer”, imagina. Na opinião do docente, embora muita gente não entenda assim, o time do Santos ganhará com a saída do craque. “A partir do momento em que a equipe entrar em campo sem ele, é possível que os torcedores passem a ver um conjunto de onze jogadores e não mais um conjunto de dez jogadores mais um”, entende.