Educação medicalizada é tema de
seminário organizado pela Unicamp

21/05/2013 - 16:40

A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés

Hoje se vive a patologização de todas as esferas da vida. Ocultam-se as desigualdades. Problemas de diferentes ordens são transformados em doenças, transtornos e distúrbios que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais e afetivas que atingem as pessoas. Questões coletivas são tomadas como individuais e problemas sociais e políticos são tornados biológicos. Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família são responsabilizadas pelos problemas, enquanto governos, autoridades e profissionais são eximidos de suas responsabilidades, aponta a pediatra da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp Maria Aparecida Affonso Moysés, que preside o III Seminário Internacional Educação Medicalizada: Reconhecer e Acolher as Diferenças.

Esse evento terá como pano de fundo as discussões sobre a educação medicalizada nos dias 10 a 13 de julho de 2013 no campus Paraíso da Unip, em São Paulo (Rua Apeninos, 267, na Aclimação), organizado pelo Departamento de Pediatria e pelo Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) da FCM da Unicamp.

Segundo Cida Moyses, a medicalização é o processo que transforma os problemas coletivos em individuais, como tem ocorrido na Educação. “A ideia é transformamos um problema em um cuidado”, salienta a pediatra. “A patologização naturaliza a vida, todos os processos e relações socialmente constituídos e, em decorrência, desconstrói direitos humanos.”

Isso é muito comum de acontecer na educação. Tanto que hoje, por exemplo, não se fala mais da existência da tristeza. Fala-se em depressão. Nesse campo, são alicerçados preconceitos racistas sobre a inferioridade dos negros e do povo brasileiro, por ser mestiço. Posteriormente, a inferioridade intelectual da classe trabalhadora foi pretensamente explicada pelo estereótipo do Jeca Tatu, produzido pela união de desnutrição, verminose, anemia. "São preconceitos travestidos de ciência", critica a médica.

Dada a relevância do assunto, o evento deve reunir autoridades do Brasil, Chile, Argentina, Estados Unidos, França, Espanha e Portugal. O público-alvo são profissionais das áreas da saúde e da educação, alunos e interessados.

Nessa terceira edição, o encontro introduz novos eixos de reflexão, como a vinculação entre a homogeneização e padronização patologizantes e a crescente judicialização e criminalização das relações sociais. Porém, o eixo privilegiado é a constituição, embasada na sistematização de saberes e conhecimentos, de modos e práticas de atuar no acolhimento das pessoas que sofrem os processos de patologização de suas vidas, de seus corpos e mentes. O próprio título do Seminário já aponta para essa direção: Reconhecer e Acolher as Diferenças. Conheça a programação do evento.

Comentários

Este debate é absolutamente pertinente, necessário e vital para uma educação inclusiva do sentir humano, "as dores e as delicias de ser o que é" não é frase de música, é a realidade que não pode ser escamoteada com a cultura das drogas legais, da pretensão de evitar o mal estar inato e irredutível do viver.