Mitos e verdades da automedicação

16/05/2013 - 14:46

O dermatologista Paulo Velho

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Existe um costume já arraigado nas pessoas de cometerem a automedicação. "Não há problema algum ingerir xaropes para a gripe, comprimidos para dor de cabeça e mesmo 'elixir' para combater uma infecção oportunista". É o que muitos pensam. Mas o que de fato há de ingênuo nessa prática? Algumas doenças autorizam esse costume? A opinião do coordenador da Disciplina de Dermatologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Paulo Neves Ferreira Velho, é de que a automedicação não deve ser estimulada, pois os seus efeitos, além de deletérios, podem ser fatais. Hoje ela acontece à profusão tanto na área de medicamentos como na parte cosmética.

Paulo Velho define automedicação como o uso de medicamentos por conta própria ou por sugestão de não profissionais da área para tratamento de doenças cujos sintomas são 'enxergados' pelo usuário. Nesse processo, a pessoa parte de uma suspeita do que pode ser o seu problema e toma a decisão de ingerir ou aplicar um fármaco sem a devida avaliação de um médico ou de um dentista, se for o caso. As pessoas apelam para o balconista da farmácia, para os amigos de trabalho e mesmo para desconhecidos da fila do hospital.

Como dermatologista, Paulo Velho conta que já atendeu muitos pacientes com reações alérgicas pelo consumo inadvertido de algo que não era indicado ao seu caso. Deste modo, enfatiza ele, as pessoas podem agravar mais o seu quadro e mascarar a real causa do infortúnio.

Mas, segundo o médico, esse costume não ocorre somente no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde ele foi estudar recentemente, estranhou muito como é rotineiro comprar medicamentos diretamente das gôndolas dos supermercados. "Lá essa prática é muito comum, mas creio que não é o ideal. A explicação deles é que aqueles produtos oferecem menor risco. Apesar disso, creio que não vale a pena arriscar", aconselha.

Para reforçar a sua opinião, Paulo Velho comenta que atendeu alguns pacientes que, ao surgir uma verruga na pele, recorreram a um ácido, sem saber que na verdade o que tinham era um câncer. Ou então passaram um creme no rosto e assistiram no espelho um processo descamativo absurdo, com vermelhidão e com ardência. Resultado: tiveram que procurar o médico.

Quando o assunto é corticoide, a sua interrupção repentina pode ocasionar diversos problemas. O médico sabe orientar a melhor forma de administração e inclusive a sua supressão gradual. A automedicação com corticoide pode levar à taquicardia e mesmo à morte. É que o corpo demora para compreender que não precisa mais de cortisol e, na falta do medicamento, pode prejudicar o doente.

Os antibióticos então, drogas usadas para tratar de diversas infecções, ainda que a pessoa acerte na escolha, ao comprar a droga sem indicação médica, pode empregar uma dosagem errada. Além disso, pode criar resistência a eles e, quando realmente se fizerem necessários, não encontrarão o efeito esperado. "É preciso que as pessoas compreendam de vez que a automedicação faz mal. Elas necessitam de atenção médica e devem rejeitar os conselheiros de ocasião", salienta o médico. A medicação por conta própria é um dos exemplos de uso indevido de remédios, considerado um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

Comentários

Ótimas informações. Parabéns ao Dr Paulo Velho