Funari lança livros sobre manuscritos
do Mar Morto e sobre comércio de pessoas

01/03/2013 - 15:10

Os manuscritos do Mar Morto, omitidos por quase duas décadas depois de sua descoberta, em 1947, podem ajudar a compreender melhor a história dos descobrimentos, do judaísmo, do cristianismo, da religiosidade antiga, porém, estão disponíveis na internet em hebraico e abramaico. Para aprimorar a leitura do material arqueológico, os autores Jonas Machado, pós-doutorando, e Pedro Paulo Funari, professor da Unicamp, escreveram uma introdução atualizada sobre o sítio arqueológico Khirbet Qumran e os documentos descobertos na região. Intitulado Os manuscritos do Mar Morto: uma introdução atualizada, o livro será lançado dia 20 de março, às 19h30, no espaço Cultural Casa do Lago da Unicamp, no campus de Barão Geraldo.

De acordo com Funari, o objetivo com esta publicação é facilitar o contato com dois aspectos dos documentos: o histórico e arqueológico do local, que revela quais edifícios foram encontrados, quais as possíveis relações entre os edifícios e os manuscritos encontrados. O livro também aborda brevemente o conteúdo dos manuscritos e as discussões a respeito do assunto. “Por conter explicações detalhadas dos termos técnicos, o livro é acessível ao público culto em geral, interessado em religiosidade antiga, judaísmo e cristianismo antigo”, explica Funari. A obra também é acessível a estudantes de história, teologia, seminaristas, segundo o arqueólogo.

Funari explica que a arqueologia tem papel fundamental na explicação dos manuscritos, pois eles foram encontrados nas cavernas fora de algum contexto. “Foram encontrados em vasos e não sabemos como foram manipulados. O que temos são vestígios de uma comunidade perto das cavernas que são chamadas Ruínas de Qumran. Essas ruínas foram interpretadas de maneira muito diferentes no passar do tempo.” Segundo o professor, os escavadores originais, jesuítas e religiosos católicos franceses, que controlaram a escavação durante algumas décadas, pressupunham que ali existiam os essênios, grupo conhecido de judeus rigoristas que viviam em comunidades, de acordo com autores antigos.  “Houve assimilação desses vestígios aos essênios, mas os vestígios arqueológicos não dão indicação clara de que foi comunidade de essênios e tampouco os manuscritos mencionam a palavra essênio. Com isso, todo aquele arcabouço que associava os essênios a essa comunidade ficou sob suspeita”, argumenta.

A exposição dos manuscritos desanuviou a conspiração avivada durante o tempo em que os documentos ficaram apreendidos. “Como houve muito segredo, acabou se criando a ideia de que em que medida havia documentos não revelados, mas isso tudo veio a baixo quando os documentos foram publicados e foram para a internet.” Por outro lado, ele enfatiza que a escavação foi muito mal publicada, e algumas informações foram perdidas.  “Se a escavação não for perfeita, outra pessoa não consegue fazer.”

Funari esclarece que os escavadores relataram mesa, escritório, pessoa sentada escrevendo, porém não há evidências. A mesa suposta seria um livro da Idade Média, mas na antiguidade, usavam-se rolos. “Tudo isso são questões que acabaram gerando muita controvérsia, a conspiração passou a ser uma questão de controle. Acabou gerando muito ceticismo.”

Na mesma noite, Funari  lança o livro Mercato: Le commerce dans monde grec et romain, ao lado do economista pós-graduado pela Unicamp Airton Pollini.  O livro é o 19º volume da Coleção L’Antiquité par ses textes da editora francesa Les Belles Letres, dedicada à publicação de obras da Antiguidade, principalmente autores gregos e latinos.

O volume sobre comércio, organizado por Funari e Pollini, faz alusão à compra e venda de pessoas, por meio de trechos de autores antigos, como Aristófanes, Platão, Demóstenes, Cícero, Xenofonte, entre outros.  A pesquisa que resultou no livro mostra como a “venda” ou “autovenda” de pessoas em tempos modernos tem ressonância no comércio na Antiguidade. “Há semelhanças e diferenças entre sociedade atual e antiga. Existe relação no sentido de mostrar como até o ser humano pode ser comprado e vendido”, acrescenta Funari. O título de Marcial, Vender-se a si mesmo, é uma demonstração da crítica à autovenda.

Os textos revelam que, ao mesmo tempo em que uma elite abominava a classe dos comerciantes, que, segundo Platão, “trabalhavam para receber”, outros atores escrevem sobre a importância do comércio, de cidades concretas, como Alexandria, que dependia do comércio. As opiniões eram divergentes, embora os autores representem um mesmo período. Outros autores falam disso. relativiza a questão. Tinha visão variada do comércio. “O comércio era uma forma de ascensão econômica”, explica Funari.

Entre as 300 passagens, assim como nos dias de hoje, alguns autores referem-se à fugira cômica do comerciante que comprava por pouco e vendia por muito.

O volume é composto de pequenas introduções sobre os autores, seus textos e mapas. O prefácio é uma entrevista com Jean Andreau, um dos principais especialistas em história econômica. A entrevista foi feita por Pollini, que é professor na França.  

Serviço

Lançamento

Dia 20 de março, às 19h30

“Os manuscritos do Mar Morto”

Paulo Funari e Jonas Machado

Editora Annablume

112 páginas

R$ 22,50

 

“Mercato: le commerce dans les mondes grec et romain”

Paulo Funari e Airton Pollini

Editora Les Belles Letres

14,50

326 páginas